Entretenimento Educativo (4) Um ano após a Revolução Francesa (e a alegre festa da Bastilha), um oficial francês foi julgado e condenado a ficar 365 dias confinado num quarto. Dessa condenação surgiu a obra "Viagem à roda do meu quarto", de Xavier de Maistre. Tida pelos editores como "um convite irrecusável para seguirmos viagem através do insólito e imaginário roteiro..." etc., em dado trecho Xavier pensa sobre a maturidade e a capacidade artística comparando que uma criança de sete anos pode tocar um instrumento com incrível habilidade, mas jamais pintar um quadro como Van Gogh. Imagens... Se Art Spiegelman tivesse nascido duzentos anos antes, provavelmente sua HQ "Maus" teria outros personagens. "Maus", no entanto, pertence ao século XX e de acordo com o Wall Street Journal, trata-se da "narrativa mais comovente e incisiva sobre o holocausto". A pegadinha magistral de Spiegelman não foi só a analogia dos judeus serem mostrados como Ratos, os nazistas como Gatos e os aliados como Cães, mas também o disfarce: quando um Rato queria se passar por Gato, ele apenas colocava uma máscara de Gato. Simples como a vida deve ser. A grande necessidade dos humanos é somente enxergar o óbvio. Gasta-se uma energia descomunal com medos surreais de todas as espécies, em todas as instâncias. Houve um estadista que certa vez disse que nossos maiores receios e esperanças jamais se concretizam. "Houve um estadista..." poderia ser o titulo de uma futura ficção. Entre Griffith e o cinema falado ocorre um espaço de aproximadamente 15 anos. E enquanto se pensava que o fortificante do cinema estava sendo bombeado nos USA os russos botavam pra quebrar, porque o "sistema das influências recíprocas" é como o próprio show, não pára nunca. Em 1936 o diretor russo Leonid Trauberg narra a D.W. Griffith em carta que a União Soviética absorveu como uma esponja a produção ianque de 1919 a 1924. Sergei Eisenstein, V. Pudóvquim, Dziga Vertov e outros beberam na fonte que jorrava no Novo Mundo e construíram no velho obras como "Ivã o Terrível" e "Couraçado Pontionquim". No meio da década de 20 todo mundo ficou boquiaberto, mas o som do cinema só viria dali a poucos anos. E como tudo, não nasceu da noite para o dia e mesmo depois de parido, encontraria séria resistência. Chaplin, por exemplo, gastaria anos e anos num conflito cuja bandeira era contrária ao cinema falado. Puxando a moviola para o meio do século XIX e fixando a data em 1862, chegamos no atestado de que Cermark foi o primeiro a registrar as ondas sonoras e dez anos depois W. Donisthorpe o primeiro a propor a união de imagem e som num único aparelho. A velocidade da "Coisa" é espantosa. Enquanto os registros acima aconteciam na Europa, dois anos depois na América Alexander Blake conquistava a chapa fotográfica com vibração sonora e Charles Fritz o emprego de selênio "para o registro fotográfico do som". Enfim, da Coluna Trajana para o célebre filme de Al Jolson são praticamente 2.000 anos. A repercussão e a influência desses entretenimentos nas mentes, corações e cofres é decerto incalculável, sendo talvez o item cofre o único passível de qualquer cálculo, ainda assim, é de se perguntar com que objetivo. A imagem retratada seja em quadros estáticos que se movem, seja a imagem com movimento e som serviu até agora para a humanidade como retrato e auto retrato de sua história, suas ações, das mais baixas e vis aos mais altos ideais, serviu para passar o tempo e mostrar como o tempo passa e o que acontece no seu decorrer, exibiu vilões, enalteceu heróis, inverteu papéis, desmascarou situações ocorridas, previu outras, concebeu mundos fora daqui e descortinou mundos que ninguém quis olhar ou sequer admitir sua existência, falou sobre culturas extintas, sobre possibilidades futuras, documentou mesmo à revelia o que se passa nos bastidores de qualquer situação e transformou em folhetim incontáveis dramas individuais e coletivos. As citações acerca de Griffith, Meliés, Spiegelman e Hergé, nesta modesta série de artigos, serve apenas para colocar uns poucos pingos nos is sem fim que integraram essa epopéia. Encerramos com Carl Barks. Aos 93 anos, o criador de Pato Donald, Tio Patinhas & família, faria um tour por 11 países da Europa, com direito a desfile em carro aberto e sessões de autógrafos com autoridades constituídas e autoridades meritórias. Muito provavelmente o mundo teve milhares e milhares de similares, que sucumbiram sem a mesma pompa. Com certeza Barks nem sonhava com isso, quando era condutor de mulas lá pelos idos de 1916 e vivia com um bloquinho de papel, desenhando compulsivamente tudo o que via pela frente. Tony Gilroy, cineasta, fala através de um de seus personagens no filme "Duplicity ? "temos mais poder e consequentemente mais saber e em vista disso maior chance de sobreviver". O Entretenimento Educativo proposto aqui difundiu um pouco mais de conhecimento no seu maior âmbito para um maior número de pessoas. Se surtiu efeito ou não a única resposta é: que cada um fale por si. Cada um de nós tem um afeto especial por um, ou outro ou vários realizadores. Eles nos mostraram caminhos e experiências, e fatalmente enriqueceram nossas vidas. De acordo com Paramahansa Yogananda em "A Eterna Busca do Homem", "seremos vistos neste palco da vida tantas vezes quantas forem necessárias, até nos tornarmos tão bons atores que seremos capazes de representar nossa parte com perfeição, e de acordo com a Vontade Divina". Para os menos crédulos utilizamos versos, pois nada em instante algum tem mais movimento e é tão imagético. De Hugo Moura Leal: "uma lente de contato... eis o que eu queria ser... viver dentro de seus olhos e fazer você me ver."