Entre a fé e a educação
Já na Grécia antiga os filósofos Platão, Aristóteles levantavam a hipótese do mundo perfeito das ideias abrindo um caminho para a educação. Posteriormente Èmile Durkheim chega a compreensão dos contextos sociais que formam um sistema de ideias e influencia a maneira como cada indivíduo expressa a sociedade da qual faz parte. Quando se estuda a história da educação, percebemos que o papel da família na formação das crianças não era levado tão a sério nas sociedades de modo geral. No entanto, ao estudarmos a história do povo de Deus temos um olhar mais firme na educação cristã e notamos perfeitamente o papel fundamental que a família cristã desenvolveu ao longo dos tempos desde os primórdios. Com o povo ainda no deserto o antigo Testamento vem com a exortação de Deus entregando a lei à seu povo “Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para ensinar-vos, para que os cumprísseis na terra a que passais a possuir; Para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados. (Deuteronômio 6:1-2)” Essa exortação trouxe responsabilidade aos pais a viverem esse mandamento de uma tal forma que essas palavras ficaram gravadas no coração e na mente de seus filhos.
Sabemos que a recomendação acima era passada de pai para filho e assim para as gerações seguintes e os relatos bíblicos nos provam a fidelidade desse ensino domiciliar. O ensino doméstico é legalizado em vários países como Estados Unidos, Áustria, Bélgica, Canadá, Austrália, França, Noruega, Portugal, Rússia, Itália e Nova Zelândia, e muito recentemente também ouvimos falar sobre a educação domiciliar no Brasil. Mas qual seria a melhor forma? Existe um modelo ideal de educação? Seria a escola o melhor lugar para o ensino?
A resposta quem nos dá é o antropólogo e educador brasileiro Carlos Rodrigues Brandão que “não há uma forma única nem um modelo único de educação, a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o único praticante”. Se basearmos somente nessa afirmação, já seria possível
dizer que cada família é responsável pelo ensino e a educação sistemática de seus membros, sem a necessidade obrigatória de locomoção até a escola, ou seja, os pais fazem o papel de educadores de seus filhos. Durkheim e a sociologia da educação nos trazem uma contribuição importante para esse artigo, em suas palavras “a compreensão da educação não está restrita aos espaços formais e institucionalizados de aprendizagem. Verificou-se que o que era compreendido como processo de socialização caracterizava-se de fato como processos educativos”. A máxima de Salomão em Provérbios 22:06 “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Isso deixa claro que a educação das crianças é fundamental, uma criança educada nos caminhos de Deus caminhará com Deus, fazendo com que esse mesmo caminho seja percorrido por outras crianças.
Há pais que optam por colocarem seus filhos em uma escola cristã ou com valores morais que têm a preocupação em promover o ensino espiritual, transmitir os verdadeiros valores, desenvolver e consolidar o caráter da criança desde o seu maternal. Partindo do princípio que o estado é laico, - e não esmiuçarei este assunto, pois não é o nosso foco neste artigo - concordo que não deve haver a pregação de nenhuma religião específica dentro do ambiente escolar, porque no Brasil o cidadão tem o direito de escolher seguir uma religião ou não preferir nenhuma. Entretanto, além dos muitos motivos que levam os pais a optarem por educar seus filhos em casa, está o religioso.
Mas, o que é necessário para que esse sistema funcione? Por que muitos proferem que no Brasil esse tipo de educação não tem chance de progredir? Seria medo do novo? Falta de experiência? Falta de fé? Enfim, por que muitos especialistas e pais não fiam pela educação domiciliar?
A resposta de experientes no assunto é curta e prática: porque para que este método funcione, é necessário mais que métodos educativos, entre outras coisas, como uma plataforma digital fornecida pelo governo, é preciso que o educando tenha estrutura familiar e pais dispostos a se comprometerem com o ensino diário de seus filhos.
De acordo com o avanço de ideologias contrárias aos ensinamentos bíblicos, muitos pais buscam escolas que tenham os princípios cristãos, ou mais radicalmente, os educam em seus lares. A grande questão não é a não -
educação religiosa que invadiram as diretrizes escolares, mas a educação homo afetiva, a decadência da ética, dos bons costumes e da moral.
De acordo com o artigo 33 da LBD (Lei de Diretrizes e Bases), a disciplina intitulada “ensino religioso” hoje no Brasil, é opcional e a decadência na conduta do cidadão brasileiro reflete quando vemos que a opção por ela é quase nula nas escolas. Apesar do nome “religioso”, essa disciplina ensinava aos alunos como respeitar o próximo, a conduta correta ao tratar alguém mais experiente, a ser respeitador e como a sociedade funcionava quando exercíamos esse bons costumes e limites sem balbúrdias e violência ao docente.
Considerando que esses princípios são fundamentais na vida de seus filhos, os pais só veem alternativa nessa novidade do ensino domiciliar ou escolas cristãs, onde eles acompanham os ensinamentos que são ministrados dia – a – dia aos seus. Assim como os condomínios estão sendo a opção de segurança nos dias atuais para moradias, a educação dentro do lar tem significado uma segurança tanto física, quando ideológica. Ainda a tempo, de acordo com a pesquisa feita pelo o Dr. Brian D. Ray presidente do National Home Education Research Institute (NHERI) a maioria dos pais decidem pelo ensino domiciliar por mais de uma razão. Dentre as razões mais comum: Possibilitar um ensino mais acadêmicos; usar métodos pedagógicos diferentes daqueles que se tem nas escolas; promover uma interação social guiada e saudáveis com jovens e adultos; fortalecer/melhorar relação familiar das crianças com os pais e entre os irmãos; proporcionar um ambiente mais seguro para as crianças, prevenindo riscos como violência, drogas e alcool, bullying, racismo, sexualidade inadequada/não saudável, cada vez mais comum nas escolas; ensinar valores, crenças e uma visão de mundo adequada às crianças.
Como já afirmam alguns especialistas, a educação em si mesma não é nem boa e nem ruim. O uso que se faz dela vai depender dos interesses a que serve e das dinâmicas de poder nas quais está inserida e isso é uma das preocupações da sociologia da educação, justamente analisar e criticar os interesses por trás dos processos educativos, nos lugares onde acontecem. Nosso tempo é marcado por um grande avanço no processo de pensamento e por outras exigências na educação cristã, portanto, é necessário ao educador
cristão se qualificar na melhor maneira possível, frequentar cursos, encontros e
congressos que desenvolvam capacidades e qualidades educativas.

Por Samuel Pereira
Fontes:
BRANDÃO, C.R. O que é educação. 27ed. São Paulo: brasiliense, 1992.
(Coleção Primeiros passos)
DURKHEIM, É. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
Site: Estudos nacionais.com
http://estudosnacionais.com/educacao-domiciliar-estudo-americano/
JORNAL GAZETA DO POVO
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/veja-quais-paises-permitem-a-praticada-
educacao-domiciliar-20ij5zbe3ifqnovlwy7oq089i/