Resenha sobre o texto "Concepções do Ensino Médio Integrado", de Marise Ramos

O ensino médio carece de uma recuperação histórica, histórico-político, ético-político, por meio de uma integração entre ensino básico e ensino profissional e tecnológico, visando a dar uma identidade a esta etapa tão crucial na formação dos indivíduos. A sociedade atual exclui, discrimina, usurpa direitos e pratica atos de violência. Tudo isso indica a urgência de uma educação que manifeste projetos de sociedade e de mundo, para que as pessoas possam aprender a incluir, a respeitar a diversidade, a dar valor aos indivíduos e a suas capacidades de produtividade, sempre com direitos sociais plenos. Para tanto, defende-se uma escola unitária, justa, que suplante a dualidade escolar envolvendo ensino intelectual e ensino profissional.

Mesmo Adam Smith, no século VIII, já defendia a necessidade de uma escola popular mantida pelo Estado, para desmotivar a degradação em massa da população desvalida, por conta da divisão do trabalho. A dualidade educacional representa a luta de classe, dentro do modelo capitalista, por isso deve haver a escola unitária, pois todos precisam do acesso ao conhecimento, à cultura. Para além dos princípios etimológicos, a politecnia pode se basear em princípios científio-tecnológicos importantes. Em suma, a escola não pode ser dual, mas unitária e politécnica, vivenciando ciência, cultura e trabalho.

O primeiro sentido de uma escola integrada se reforça na formação omnilateral, integrando todas as abrangências da vida na formação humana. Assim, urge a articulação entre o ensino médio e o ensino profissional e tecnológico, a proposição de um currículo que trate das partes e da totalidade ao mesmo tempo e da prática social indissociável entre trabalho (ontológico do ser histórico), Ciência (conhecimento e avanço produtivo, por vezes contraditório) e Cultura (aspectos éticos, estéticos, ligados à conduta). Em tal perspectiva, o trabalho se mostra interativo na realização humana, uma necessidade para a liberdade, não apenas voltado para o emprego. Já a ciência se manifesta ligada ao trabalho em uma unidade inseparável. E a cultura liga indivíduos que compartilham valores em grupo.

Essa ligação entre trabalho, ciência e cultura significa que a formação profissional não pode ser voltada apenas ao mercado de trabalho, uma vez que deve incluir o exercício da autonomia e da criticidade criativa na atividade profissional.

Por tudo isso, o ensino médio deve ser omnilateral, com educandos no centro das atenções, pois antes essa etapa da educação se voltava apenas ao vestibular. A própria LDB prega o aprimoramento da pessoa humana como finalidade da educação básica. Para ter sentido, deve o ensino médio valorizar sujeitos (com vida, história e cultura) e conhecimentos (patrimônio da humanidade).

A educação precisa contemplar as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas do ser humano, marcadas por direitos de conhecimento humanista e tecnológico, objetivando a emancipação do ser humano pela transformação social. E o trabalho, segundo Saviani, como princípio educativo, determina o modo de ser da educação, com formação específica, mas superando a visão utilitarista. O ensino enciclopédico, desse modo, dá lugar a uma educação pelo trabalho no sentido histórico (capitalismo, economia, salário) e ontológico (relação do homem com a natureza e com outros homens), com inserção no currículo de produção cultural e científica, a fim de proporcionar aos discentes desenvolvimento pessoal com capacidade de transformação da realidade em que vivem.

Na era FHC, neoliberalista, mantém-se a inadequada dualidade entre escola básica e escola profissional, o que representa um retrocesso nas discussões pedagógicas. já na era Lula, a partir de 2004, inicia-se uma transição para a integração, com promoção de educação continuada, para quem conclui o médio e quer realizar um curso profissionalizante, ou para quem quer realizar outro curso profissionalizante, com formação mediada por conhecimento, autonomia e transformação.

Com tal foco, valoriza-se um ensino médio com base unitária, de integração de conhecimentos gerais e específicos, contextuais, a partir de estudo e compreensão de fenômenos reais, interdisciplinares, dentro de uma totalidade. Em vista disso, nota-se a necessidade de mediação entre currículo integrado e integração de conhecimentos no currículo, sem hierarquização, com o propósito de superar a fragmentação disciplinar e promover formação geral, técnica e política, a partir de problematização de fenômenos, explicitação de teorias e conceitos das mais variadas áreas de formação geral e específica, organização curricular das práticas pedagógicas. Isso exige ações ligadas a desafios e problematizações ligados a projetos de suplantação do senso comum por meio do saber científico.

Em suma, a integração no ensino médio de conhecimentos gerais e específicos exige a interação entre trabalho, ciência e cultura, com superação de lacunas na legislação, pois se deve questionar uma educação baseada em competências e habilidades. A educação deve ser política, com direito ao conhecimento dos problemas sociais, contra a lógica da exploração capitalista, pela defesa da redução do tempo de trabalho e valorização do tempo livre voltado à leitura e à reflexão.

Dério José Faustino Júnior

Jean carlos Neris de Paula