RESUMO

O presente trabalho busca analisar a prática docente e a recepção por parte dos alunos, no que diz respeito à leitura e ao modo como ela ocorre no ambiente escolar. Perceber que o simples ato da leitura vai além da decodificação, para que haja o entendimento total do que está sendo lido é necessário para que o indivíduo passe pelas etapas que constituem o processo de leitura. Ademais, no trabalho com a leitura, o professor precisa interpretar as disparidades entre os níveis de conhecimento dos alunos e os impactos que isso causa no processo de aprendizagem de uma turma, quando é avaliado como um todo. Além disso, procura-se perceber os benefícios que os gêneros e temas escolhidos, quando condizem com a realidade do aluno, proporcionam para o rendimento das aulas de Português.

Palavras- chave: Ensino. Língua Portuguesa. Gênero e Tema. Leitura.

 

1 INTRODUÇÃO 

 

     O cenário da educação brasileira no que diz respeito ao ensino da Língua Portuguesa e da Literatura é um pouco preocupante, pois existem carências tanto sobre a prática exercida pelo docente, muitas vezes caracterizada por uma perspectiva reducionista da prática de leitura apenas para a resolução de questões sem atentar-se para a criticidade do aluno, quanto ao corpo discente que, por sua vez, posiciona-se de modo adverso em relação ao Português, pois parte da premissa de que o mesmo “não sabe o português” e, como produto disso, tem-se a evasão escolar e o alto indicie de reprovações.

Sobre o ensino da leitura, os PCNs (1997) advertem:

 

Desde o início da década de 80, o ensino de Língua Portuguesa na escola tem sido o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. No ensino fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita.

Nos últimos dez anos, a quase-totalidade das redes de educação pública desenvolveu, sob a forma de reorientação curricular ou de projetos de formação de professores em serviço (em geral os dois), um grande esforço de revisão das práticas tradicionais de alfabetização inicial e de ensino da Língua Portuguesa.

     Baseando-se no cenário da atual educação brasileira, ações administrativas foram desenvolvidas com o intuito de melhorar o cenário educacional, como por exemplo, a elaboração e a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a avaliação do desempenho escolar de alunos do país, realizada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a fim de uma escola mais formadora e eficiente, porém, as ações que foram criadas funcionam plenamente na teoria, quanto à prática, o cenário é outro, pois depende-se de alguns aspectos que variam de escola para escola, como por exemplo, disponibilidade dos aparelhos que auxiliem na aula de Português e até estrutura apropriada para que haja a exploração dos assuntos de forma aprofundada.

               Existem vários fatores que contribuem para que a educação seja tão deficiente em termos de compreensão e desenvolvimento da criticidade. O ensino de Língua Portuguesa está muito restrito ao livro didático, os textos são fragmentados e não condizem com a realidade do aluno. Sobre isso, adverte Antunes (2003, p.72) que reduzi-los a objetos de análise, a pretexto do exercício de ortografia, por exemplo, é uma espécie de profanação, pois é esvaziá-la de sua função poética e ignorar a arte que se pretendeu com o arranjo diferente de seus elementos linguísticos. E sobre isso também expõe Castro (2018, p.37) que se faz necessário pensar a obra literária como um instrumento orientador da formação do leitor e da formação humana e cidadã.[...] põe-se a literatura, como toda obra de arte, na sua dimensão com a vida e com o conhecimento produzido pelo ser humano.      

       Outro fator importante é a curta extensão do calendário escolar que disponibiliza pouco tempo para a explicação completa e a revisitação do assunto de modo que as aulas sejam realizadas de forma plena. Antunes (2003, p.29) traz uma pesquisa realizada por Lilian Martin da Silva, com alunos da rede pública de ensino de Campinas sobre o “tempo para a leitura na escola” e, por meio dessa pesquisa, percebeu-se que os alunos alegavam como principal causa para os baixos indicies de leitura a falta de tempo disponibilizado para leitura na sala de aula. Alguns dos argumentos utilizados eram que a leitura atrapalhava o desenvolvimento de outras áreas da matéria e que eles perdiam muito tempo apenas para realizar uma leitura.

2 LEITURA E LEITORES

               Compreende-se por leitura o ato de decifrar e compreender o que está lendo, mas só isso não basta. Faz-se necessário também e, principalmente, atentar- se para a construção de sentido das palavras, frases, parágrafos e do texto como um todo, bem como da utilização de alguns conhecimentos prévios, como o conhecimento de mundo, para que haja total compreensão daquilo que está sendo lido. Sobre isso, expõe Leffa, 1996:

A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por intermediação de outros elementos da realidade. Nessa triangulação da leitura o elemento intermediário funciona como um espelho; mostra um segmento do mundo que normalmente nada tem a ver com sua própria consistência física. Ler é, portanto reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos oferecem imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio desse mundo.     (Leffa,1996 p.10)

               O ato de ler não se restringe apenas ao que está escrito no papel, como cita Manguel (1996) apud Cosson (2014); os astrólogos leem as estrelas (...). O músico as partituras [...]; O agricultor o céu a fim de prevenir-se da chuva. Com base nisso, compreende-se que o ato de ler está ligado mais com o conhecimento de mundo, do que ao que está escrito no papel.

               A leitura alarga os horizontes e amplia as possibilidades de expansão do conhecimento, desenvolvimento intelectual e de visão de mundo. Mediante a leitura de variados tipo de textos, constrói- se o conhecimento textual, conjunto de conceitos que contribuem para a compreensão do texto, fortalecendo a capacidade de argumentação e manifestação de opiniões. Se o texto for rico, o leitor aumentará seu conhecimento de mundo.

               Leitura e decodificação são elementos díspares. Enquanto a leitura diz respeito à construção de significados e não somente a sua busca; a decodificação identifica e interpreta os sinais linguísticos e constitui uma das habilidades que constroem o processo de leitura.

A leitura é um processo feito de múltiplos processos, que ocorrem tanto simultânea como sequencialmente; esses processos incluem desde habilidades de baixo nível, executadas de modo automático na leitura proficiente, até estratégias de alto nível, executadas de modo consciente. ( Leffa,1996 p.17-18)

               O processo de leitura é baseado em três grandes grupos, como sugere Leffa (1999). O primeiro grupo tem como foco principal o texto, do qual será extraído o sentido do mesmo durante a leitura, e essa extração é composta por dois níveis: o primeiro diz respeito às letras e a palavra, que podem ser percebidos sem necessariamente realizar-se uma leitura de fato e o segundo é o nível do significado que corresponde ao conteúdo do texto. Desta forma, a capacidade de decifrar o que está escrito é primordial para a realização efetiva da leitura. No segundo grupo, o foco é o leitor e o modo como ele absorve o que foi lido. Sendo assim, o ato de ler depende mais das impressões criadas pelo leitor a respeito do texto do que do próprio texto, pois, com as informações que o texto traz e o conhecimento de mundo que o leitor possui, é possível criar hipóteses e maneiras de leitor dizer o texto. O último grupo compreende a leitura como prática social; o texto exerce o papel de mediador entre o autor e o leitor. Nesse panorama, a leitura é fruto de condutas estabelecidas pela sociedade com o intuito de construir e manter as comunicações.

            Além desses três modos de compreender a leitura, tem-se ainda um processo composto por habilidades desenvolvidas durante a leitura que vão além da tradução das palavras e frases e compreendem três etapas, a saber: antecipação, decodificação e interpretação. Na etapa da antecipação, o leitor faz um reconhecimento tanto da língua quanto do material do texto, inicia-se assim a construção hipotética do que pode tratar o conteúdo textual; a decodificação é uma leitura superficial dos textos, apenas para fazer o entendimento do que trata o texto; já a interpretação se refere a como o leitor vai empregar as ideias que retirou do texto e a possibilidade de fazer inferência daquilo que leu com as ocorrências do meio em que vive através de comparações e analogias.Sobre isso, discorre Gee (1999) apud Castro (2018), que a construção do sentido do texto se dá mediante a regulação do contexto em que é produzido/ recepcionado.

               Durante a leitura há, por parte do leitor, diferentes níveis de compreensão do que está escrito. O simples fato de alguém estar lendo não significa que o mesmo está gozando de tudo o que o texto oferece. A partir disso, nota-se que existem vários tipos de leitor e que isso depende intrinsecamente do tamanho da bagagem de conhecimento que o mesmo carrega.

               Segundo Fratin (2011) existem três tipos de leitores; são eles: O contemplativo, o movente e o imersivo. O contemplativo é aquele que se isola do mundo a fim de extrair do texto todo o seu conteúdo; o movente caracteriza-se como sujeito que executa uma leitura sucinta daquilo que o rodeia sem atentar para o conteúdo e/ou forma do que está escrito; e o imersivo é o individuo do mundo virtual, que não segue uma ordem de leitura, porém explora todos os vieses de um texto através das inferências que faz e, como resultado disso, tem a habilidade de construir outros textos a partir daqueles lidos.

               Eis que entra em discussão a questão do letramento, que nada mais é que a condição que um indivíduo possui, a qual o possibilita utilizar a leitura e a escrita como instrumentos de realização do seu desenvolvimento social e cultural, ou seja, um sujeito tido como letrado porta a capacidade de compreender e/ou produzir uma vasta tipologia de gêneros textuais no cotidiano. O processo de letramento só pode ser realizado com a presença de um individuo mais experiente que utilizará como instrumento elementos típicos do meio social em que vive. Ressalta-se que há uma diferença entre um sujeito letrado e um alfabetizado. Enquanto um sujeito letrado é capaz de dominar a língua no seu cotidiano e possui a capacidade de responder de forma correta as demandas sociais que engloba o ato de ler e de escrever, um sujeito alfabetizado limita-se apenas, a saber, codificar e decodificar o sistema de escrita. Já Paulo Freire (1980) apud Castro (2018) defendia que havia semelhança entre letramento e alfabetização, pois, pensava a aquisição da escrita e da leitura na relação estreita com sua função social, com o uso de gêneros textuais variáveis produzidos pela sociedade. Convergindo com Freire, temos Rojo (2009) apud Castro (2018 p.26):

[...] o termo alfabetismo tem um foco individual bastante ditado pelas capacidades e competências escolares e valorizadas de leitura e escrita [...] o termo letramento busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que envolve a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos [...].

Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola promover a sua ampliação de forma que, progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações. (PCN,1998, p.19)

 

 

3 PRÁTICA DE LEITURA E SEUS BENEFÍCIOS 

 

               O Brasil, segundo pesquisas realizadas em 2015, ficou entre os 12 piores países no que diz respeito ao acesso à Literatura pelos brasileiros, com uma média de 407 pontos, em uma média de 493 pontos, em relação à leitura de seus habitantes. Já em outra pesquisa realizada no ano seguinte, observou-se que o Brasil ocupava a 27º posição entre 30 países no ranking mundial e passou a ser considerado uma “nação de não-leitores”; comprovou-se que o brasileiro dedica 5 horas e 12 minutos por semana com a leitura de livros.

      Nacionalmente, o Brasil ocupava a 21º posição entre 2011 e 2015, com um total equivalente a 2,54 obras lidas. Em relação aos gêneros, o percentual de leitores masculinos passou de 44% em 2011 para 52% em 2015, ao passo que as mulheres leem mais em um total de 59% da população. No ano seguinte, o país apresentou cerca de 104,7 milhões de leitores, o que corresponde a 56% da população.

               Com base nessas informações, conclui-se que o hábito de ler dos brasileiros é muito escasso, porém faz-se necessário mudar essa realidade. É fundamental que as pessoas desenvolvam o hábito de ler, pois é através dele que é oportunizado um novo olhar sobre o mundo e a sociedade em que se vive. Para uma leitura prazerosa, é preciso que os leitores optem por gêneros que tragam conforto, pois, desta forma, desenvolvem-se várias capacidades cerebrais como, por exemplo, a imaginação, por isso indica-se estimular esse hábito durante a infância, pois, além de a criança desenvolver a imaginação, desenvolve-se também o ato de parar para escutar e a linguagem.

               A prática de leitura influencia intrinsecamente o aprimoramento do vocabulário e da escrita, difunde o raciocínio e a capacidade de interpretação. Apesar do avanço da tecnologia ser útil no cotidiano, no âmbito das práticas de leitura o papel que ela vem desempenhando não é tão positivo assim, pois com a praticidade do mundo tecnológico torna-se cada vez mais escasso a ida das pessoas às livrarias para comprarem livros, pois o mesmo pode ser adquirido virtualmente, e como muito deles são consumidos online, em aparelhos eletrônicos com dezenas de funcionalidades, a leitura torna-se pouco produtiva, pois a atenção do leitor pode ser facilmente distraída, além de sua realização ser possível apenas com eletricidade e Internet .

Quanto mais amplo o leque de abrangência do contato do individuo com variados modos de leitura e produções textuais, maior será o seu nível de letramento, a sua capacidade de ler e produzir textos de variados gêneros em contextos e instituições também diversos. (Castro 2018. p.23)

               O cérebro, assim como qualquer outro órgão do corpo humano, precisa ser exercitado e, para exercitá-lo, nada melhor que um bom livro, pois, por meio dela, há o aumento das funções neurais. A leitura impulsiona a criatividade a partir do momento que faz com que o leitor imagine as cenas descritas e aguça o senso crítico, introduzindo o leitor em realidades e épocas diferentes. Ademais, o ato de ler acaba provocando reflexões que talvez não fossem feitas se o leitor ficasse sempre preso ao cotidiano e a uma rotina fixa. À luz disso, expõe Turkeltaub (2003) apud Reis e Faísca (2009, p.05):

[...] à medida que a leitura se torna um processo mais automático, as áreas cerebrais envolvidas no seu processamento vão-se modificando. Este estudo mostra que, apesar de o processamento da linguagem escrita estar localizado, na maioria dos sujeitos, no hemisfério esquerdo, esta lateralização só sucede após o treino e domínio da competência.

 

4 GÊNERO E TEMA : IMPORTÂNCIA E IMPACTOS NAS AULAS DE PORTUGUÊS  

 

               Os gêneros textuais apresentam-se de formas variadas no cotidiano seja como um simples folheto, produzido sem a necessidade de uma aprendizagem formal, ou como um artigo complexo que discorre sobre as mudanças climáticas observadas no planeta, ou seja, produzido com a necessidade de uma aprendizagem estritamente formal. Este último gênero possui a capacidade de dar aos indivíduos voz para denunciar, reclamar, mostrar, comentar e descrever fatos do cotidiano. Alguma assimilação da cultura relacionada ao contexto de produção. Sobre os gêneros e as formas como eles são apresentados, expõe Bakhtin (2000) apud Castro (2018, p.25):

[...] Os textos primários são aqueles que permeiam o cotidiano das pessoas – mesmo as analfabetas -, que os produzem independente de aprendizagem formal; dentre eles estão os textos orais e aqueles escritos de menor complexidade, aprendidos naturalmente, como bilhetes, cartas, receitas etc. Já os secundários, dotados de maior complexidade, necessitam de aprendizagem formal, da intermediação de quem domine suas características e modos de produção. 

          As intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, geram usos sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos. É por isso que, quando um texto começa com “era uma vez”, ninguém duvida de que está diante de um conto, porque todos conhecem tal gênero. Diante da expressão “senhoras e senhores”, a expectativa é ouvir um pronunciamento público ou uma apresentação de espetáculo, pois sabe-se que nesses gêneros o texto, inequivocamente, tem essa fórmula inicial. Do mesmo modo, pode-se reconhecer outros gêneros como cartas, reportagens, anúncios, poemas, etc.

               Em uma prática ideal de leitura, é necessário que a escola valorize o conhecimento prévio do aluno, trabalhando, a princípio, com gêneros e temas comuns à realidade do leitor, o que faz toda a diferença no processo de aprendizagem. Um aluno com baixa renda, com acesso restrito à literatura, vivendo em condições precárias, não possui arcabouço suficiente para interpretar construções metafóricas complexas com vocábulos arcaicos e “indecifráveis” sem a devida ajuda.

Sobre o ensino da leitura, Antunes (2003) opina:

[...] não dá mais para “tolerar” uma escola que, por vezes, nem se quer alfabetiza (...) ou que, alfabetizando, não forma leitores nem pessoas capazes de expressar-se por escrito, coerente e relevantemente, para, assumindo a palavra, serem autores de uma nova ordem das coisas.( ANTUNES 2003. p. 37)

 

                Por isso, no processo de aprendizagem, é necessário partir de temas e gêneros que os alunos conhecem e estão habituados como, por exemplo, temas que se referem ao lugar onde eles vivem, às redes sociais; e gêneros como música, fanfics, biografias, entre outros. Só após a valorização do conhecimento trazido pelos alunos é que se deve acrescentar o conhecimento de textos mais formais.

               Sobre o ato de leitura nas escolas, Antunes (2003, p.28) o concebe como uma atividade incapaz de suscitar no aluno a compreensão das múltiplas funções sociais da leitura, pois muitas vezes o que se lê na escola não coincide com o que se precisa ler fora dela.

               Uma das motivações desse trabalho foi analisar as aulas assistidas durante o Estágio I na turma de 9º ano da Escola Municipal Luís Eduardo Maron de Magalhães instituição de ensino Fundamental II à luz de teóricos que discutem a respeito do cenário educacional atual . Na aula observada houve a leitura da letra da música “Chega de Saudade” de Tom Jobim. A música foi utilizada apenas para responder questões relacionadas ao assunto da aula em questão, ou seja, orações substantivas subjetivas. Não houve a apresentação da musica nem a exploração de seus aspectos, como por exemplo, o compositor, a época em que a letra foi escrita, entre outros. Deste modo, não se alcançou o objetivo de despertar o interesse e a curiosidade dos alunos a respeito da mesma e de outros textos fragmentados que vêm nos livros didáticos. Sobre isso, opina Castro (2018):

Os estudantes não se interessam por ler os textos e não são motivados a apreender os seus sentidos, apenas buscam as respostas mais imediatas para as questões que lhes são apresentadas, que, por sua vez, restringem as leituras possíveis.   ( CASTRO 2018 p. 40)

 

               E ainda acrescenta:

 

A abordagem dos conteúdos linguísticos e literários, além de se concretizar de forma fragmentada, se configura, ainda, dissociada da realidade sociocultural, do contexto de sua produção deixando de conduzir os estudantes à reflexão sobre o papel que controle sobre as massas, como também de incentivar a imaginação e a criatividade, indispensáveis à escrita e à leitura autônomas. (CASTRO, 2018, p.36)

 

               Sobre o uso do texto como pretexto para o estudo da gramática, adverte Antunes (2003):

 

Reduzi-los a objetos de análise sintática, a pretexto para exercício de ortografia, por exemplo, é uma espécie de profanação, pois é esvaziá-los de sua função poética e ignorar a arte que se pretendeu com o arranjo diferente de seus elementos linguísticos.( ANTUNES 2003.p.72):

               Não basta só haver a leitura em sala de aula, é necessário que se trabalhe de modo crítico, pois, deste modo, pode haver autonomia intelectual dos sujeitos que participam desse processo de aprendizagem, já que a aprendizagem necessita de produções e construções de sujeitos críticos como resultado disso tudo.

Promover relações mais estreitas entre os alunos e os textos trabalhados em sala de aula, nas quais possam vislumbrar e compreender amplamente os processos históricos e várias realidades que os constituem, como também aquelas por eles constituídas. E por constituírem os textos e discursos produzidos na sociedade, o aspecto socioideológico e a historicidade constituem, igualmente, os leitores e produtores dos variados textos e discursos, em um movimento dialógico que caracteriza justamente o aspecto interativo da linguagem. (CASTRO, 2018, p.39).

Antunes (2003) discorre sobre as atividades de ensino de leitura:

Uma atividade de leitura centrada nas habilidades mecânicas de decodificação da escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais habilidades para a dimensão da interação verbal – quase sempre, nessas circunstancias, não há leitura, porque não há “encontro” com ninguém do outro lado do texto. (ANTUNES 2003, p.27)

               Atualmente, o ensino de Língua Portuguesa está pautado na escolha de textos literários muitas vezes arcaicos, portando vocábulos que muitas vezes já desapareceram do cotidiano brasileiro. Uma consequência disso é a dissociação entre leitura, escrita e análise linguística dos conteúdos de literatura.

               A tarefa de ampliação do domínio da linguística e da leitura, seja no campo verbal ou físico, para atingir sua plenitude, deveria ser um trabalho desenvolvido por todas as áreas de ensino que fazem parte do currículo de uma instituição de ensino, porém o que ocorre na prática é completamente diferente. Assuntos relacionados à leitura e à linguística restringem-se apenas aos professores de Português, que ficam com a tarefa de estabelecer estratégias de ensino que serão realizadas durante o período letivo e selecionar os textos a serem trabalhados. Antunes (2003. p.70) opina que a leitura escolar dos textos de outras disciplinas representa uma oportunidade bastante significativa de aquisição de novas informações.

               Essa ação possui uma grande carga positiva para aqueles que têm a responsabilidade de ensinar a língua materna nas diferentes formas em que ela aparece de modo que provoque nos alunos o senso crítico e o desenvolvimento dos conhecimentos acerca da língua, da literatura e da cultura.

Sobre isso, os PCNs (1997) trazem:

O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.

        Outro fator importante que atrapalha o ensino de Língua Portuguesa é o uso de frases soltas, descontextualizadas, servindo apenas para análise linguística, exemplificando o assunto a ser aprendido. Durante o estágio de observação, notou-se que foram utilizadas as orações, “Estudos mostram que humanos acasalaram com Neandertais” e “ Estudos mostram”, apenas para exemplificar as orações subordinadas substantivas objetivas. Obviamente, não houve por parte dos alunos um interesse sobre o assunto, tanto que a análise das frases foi feita apenas pela docente explorou apenas para explicar o conteúdo gramatical de forma fragmentada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

               Com base nas leituras teóricas e no que foi observado no Estágio I, percebeu-se que o Ensino de Língua Portuguesa, no que diz respeito ao campo da leitura, nota-se que apesar das inúmeras medidas desenvolvidas com o intuito de aperfeiçoar a prática de ensino, as mesmas só são desenvolvidas em termos teóricos já que no que diz respeito à prática ela é moldada conforme o ambiente em que é aplicada.

               Alguns aspectos que variam entre as instituições de ensino como falta de estrutura para organizar uma biblioteca, profissionais compromissados, formados na área, práticas que não são efetivadas completamente devido as grandes lacunas dos professores, alunos interessados e devidamente munidos de arcabouço teórico, literário e de conhecimentos gerais trazem para a prática escolar características que a tornam ineficiente.

               Para um ensino eficiente e proveitoso, tem-se a questão da interdisciplinaridade que somada ao ensino contextualizado requer a troca e o diálogo entre disciplinas no processo de significação tanto dos conteúdos estudados, como do mundo em que vivemos. A interdisciplinaridade desenvolve capacidades extremamente valiosas nos alunos, como a curiosidade, o interesse pelo aprendizado e a habilidade de trabalhar em grupo, o que implica diretamente no seu desempenho e em seu desenvolvimento como seres sociais. Para caracterizar como interdisciplinaridade, é necessário que o ensino relacione os conteúdos trabalhados, estabelecendo transversalidade entre as disciplinas, articulando diferentes olhares em cima de uma mesma temática. Para que o trabalho interdisciplinar seja enriquecedor para os alunos e estimulante para os professores, é preciso trabalhar intensamente em planejamento e articulação, a medida mais eficaz é a escolha de temas que estejam próximos da realidade dos alunos, onde as várias áreas do conhecimento se envolvam na solução de um problema.

               A ideia da contextualização requer o aluno como protagonista da aula, o mesmo deve estabelecer as conexões entre os conhecimentos e ele pode resolver problemas e mudar a si mesmo e o mundo ao seu redor. Para tal, é necessário que o professor crie situações comuns ao dia a dia e faça o aluno interagir ativamente de modo intelectual e afetivo, trazendo o cotidiano para a sala de aula e aproximando o cotidiano dos discentes do conhecimento científico.

                Os novos professores que estão/ estarão sendo formados devem compreender as discrepâncias existentes entre a teoria e a prática, para que, quando começarem a exercer a profissão, não fiquem frustrados e infelizes com o trabalho que desenvolvem nas escolas. Cabe a eles procurar mudar lentamente o cenário atual da educação, promovendo novos métodos de ensino que se baseiam no ensino contextualizado.

 

REFERÊNCIAS

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CASTRO, Maria Lúcia Souza. Práticas de Letramentos: uma contribuição ao ensino de Língua Portuguesa. 1º ed. Scortecci,2018. São Paulo.

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KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes/Ed. Unicamp, 1993. 

LEFFA, V. J. Aspectos da Leitura: Uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.

LOURENÇO, Ana. 4 benefícios que a leitura traz para o cérebro (e para a vida)  guia do estudante Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/estante/4-beneficios-que-a-leitura-traz-para-o-cerebro-e-para-a-vida/.   Publicado em 14 jul. 2016. Acesso em: 17 dez 2019.

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