Ensino de leitura crítica: Estratégias de ensino de leitura crítica de textos literários.

                                                                                                    Marciana Lumenta

                                                                                   Universidade Eduardo Mondlane

 

Resumo

A presente pesquisa está inserida na área de ensino de leitura crítica, um campo de investigação que revela as dificuldades que os estudantes apresentam durante o processo de leitura. O objectivo deste estudo é propor estratégias que se mostrem eficazes neste processo, afim de incentivar o gosto pela leitura e consequentemente a reflexão sobre o que lê. Nesta pesquisa, temos como pergunta de partida: Que estratégias de ensino de leitura crítica são usadas pelos professores desde o primeiro grau do ensino primário à pré-universidade? Interessa, neste trabalho, dar uma resposta que possa resolver esta problemática, pois acredita-se que com a leitura crítica da literatura, ou melhor, dos textos literários, podem-se ultrapassar grandes desafios que se colocam na construção do progresso da nação e do cidadão.

Palavras-chave: Estratégias, ensino, leitura crítica.

 

Abstact

This research is inserted in the field of critical reading teaching, a field of investigation that reveals the difficulties that students present during the reading process. The objective of this study is to propose strategies that are effective in this process, in order to encourage the taste for reading and consequently the reflection on what you read. In this research, we have as a starting question: What critical reading teaching strategies are used by teachers from the first grade of primary school to pre-university? With the critical reading of the literature, or rather the literary texts, great challenges can be overcomed in the construction of the progress of the nation and the citizen.

Keywords: Strategies, teaching, critical reading.

 

Introdução

A área de leitura tem sido identificada e discutida por vários pesquisadores. Neste cenário, o ensino da leitura e da escrita tem ganho maior destaque, visto que é na escola que o contacto com o sistema da leitura ocorre de forma sistematizada. (Ferreira,2002). De acordo com o autor citado, as habilidades da leitura são desenvolvidas por meio da imersão na escrita e a prática da leitura, não podendo ser ensinada de maneira isolada e descontextualizada das práticas sociais.

A leitura crítica sobre a qual pretendo reflectir é uma leitura que ultrapassa largamente o conceito restrito da descodificação de um texto escrito e abarca toda a mensagem dirigida a um receptor.

Olhando para o nosso país, Moçambique, que a leitura em si é menos praticada, particularmente nas camadas desprovidas de recursos, podemos afirmar que a escola desempenha uma função relevante no ensino da leitura crítica, como também, o professor é considerado figura indispensável no processo de ensino-aprendizagem da leitura. Sendo o professor o mediador da leitura, cabe-lhe instruir o aluno a ir mais além do texto, fazendo a reflexão e a crítica do que lê.

Na presente pesquisa, pretendo estudar o ensino de leitura crítica, fazendo abordagens de estratégias de ensino de leitura crítica nos textos literários.

A especificação dos textos literários, neste trabalho, vem do pressuposto de que o género textual em causa é o mais acessível e o mais apreciado para leitura no nível secundário.

O ensaio baseou-se existência de dificuldades de uma leitura crítica, isto é, profunda, nos estudantes ao ingressarem para o ensino superior. Na parte teórica do trabalho, trarei várias opiniões de autores e o que penso sobre o assunto. Quanto à estrutura do trabalho, inicia com a introdução seguida pelo enquadramento teórico, as considerações finais e, por último, as referências bibliográficas.

Enquadramento Teórico

A leitura é um tema que tem suscitado inúmeras discussões no meio académico e entre vários pesquisadores de línguas. É uma actividade que transforma o ser humano a nível intelectual e social, é também um meio através do qual o homem conhece o mundo. Ler é decifrar mensagem de um texto e construir um significado.

 Reis (1981), no seu trabalho que aborda sobre «leitura crítica», diz que leitura ultrapassa largamente o conceito relativamente restrito da descodificação de um texto escrito e abarca toda a mensagem dirigida a um receptor. Este autor propõe-nos a definição de leitura crítica do texto literário como uma actividade sistemática que, partindo do nível da expressão linguística, assume-se como processo de descodificação e avaliação estética do discurso literário.

Na mesma linha de pensamento, diz Jouve (2012), no seu livro Porque Estudar Literatura, que ao ensinar o texto literário, o professor deve ter em conta os resíduos deixados pelas leituras anteriores, ou seja, valorizar os conhecimentos prévios do aluno. Se assim o professor o fizer, o aluno não se limitará nos aspectos externos do texto, mas sim, irá penetrar na essência do próprio texto, fazendo, por sua vez, uma crítica construtiva do texto.

Em Bordini e Aguiar (1993), a leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Nesta prespectiva, a leitura crítica faz do leitor um novo ser a nível intelectual sabendo que, quem lê e reflecte sobre o que lê, transforma a sua maneira de pensar e de agir e desenvolve o seu meio.

Segundo Candido (2004), a literatura concede ao Homem a oportunidade de prática da reflexão, dando ao leitor um pensamento crítico na aquisição do saber, a boa disposição para com o outro, a capacidade de gestão de conflitos da vida, a apreciação e percepção sobre o mundo, o senso comum e a autovaloração.

É por esta razão que o autor considera o acesso à literatura um direito fundamental e inalienável de todo o Homem. Partindo do pressuposto de que o acesso à literatura é um direito para alguns será também direito fundamental para os outros. É este pensamento que me faz reflectir sobre a relevância da transmissão dos conteúdos dos textos literários aos alunos, cabendo aos professores o ensino de leitura crítica destes textos, para que os alunos atinjam a reflexão e, consequentemente, desenvolvam o espírito crítico.

É de salientar que, há urgência do uso de estratégias adequadas para o ensino de uma leitura crítica de textos literários na escola, para que este problema não prevaleça até ao nível superior.

Para responder a esta inquietação, os centros de formação de professores deve formar professores com aptidão, para levar à aula de Português oficinas de leitura, com base em textos literários (obras literárias) e não fragmentos de textos, de forma a efectivar-se um ensino de literatura com propriedade.

Para Coelho (1976), um aluno que nunca teve a oportunidade de ler um livro que não fosse por obrigação, diga-se, um aluno “pseudo-erudito”, é tido como um caso negativo para o crescimento intelectual do aprendiz.

O ensino da leitura crítica tem sido apresentado como um dos múltiplos desafios da escola, o mais valorizado e exigido pela sociedade. O indivíduo, no acto de leitura, constrói as suas próprias questões e rejeita, confirma ou reelabora as respectivas respostas. Relacionado a isso, é o que dizem Ferreira e Dias (2002), que propõem um ensino de leitura no qual se aprende a ler lendo, onde o aprendiz pode estar ligado com os mais variados tipos de enunciados dos quais precisa e utiliza no quotidiano.

Para que o professor desenvolva nos seus alunos competências de leitura, o gosto e o hábito de ler, é pertinente que seja conhecedor de livros e, acima de tudo, gostar de ler. Entretanto, deve demonstrar ao aluno a importância do contacto com os livros, chamando à atenção do mesmo para o mundo da literatura e promover actividades de leitura na sala de aula, bem como fora dela. Desta forma, Silva (2011) diz que o aluno perceberá que a leitura não é algo chato como pensa e que não se limita somente à escola,mas que está presente em todo o contexto de comunicação.

Enquanto lêem, os alunos vão desenvolvendo habilidades de escrita de diversos géneros textuais, aprendem o uso das principais estruturas da língua como ortografia, pontuação, estrutura frásica e desenvolvem habilidades linguísticas. Através da leitura de diversos géneros textuais, os alunos tornam-se capazes de produzir diferentes textos. A leitura permite ao aluno perceber que o texto não é um fim, mas sim, um meio através do qual o autor pode interagir com o outro.

Segundo Saraiva (2013), a prática da leitura sem reflexão fica aquém do que poderia ser. Portanto, o trabalho do professor deve seguir o caminho para a reflexão-acção-reflexão, sem se fechar nas rotinas escolares, isso leva o professor a parecer um ser estagnado no tempo ou preso nos seus métodos tradicionais. Diz ainda este autor que no processo de ensino, o comportamento do professor, a forma como vai instruir, ensinar, transmitir e introduzir as técnicas de aprendizagem é que vão ditar o comportamento do aluno no final da instrução.

Na visão de Krug (2015), um mestre sem habilidades, técnicas e estratégias apropriadas para o ensino de uma leitura crítica, dificilmente terá sucesso no que ensina. O professor como especialista deverá criar tarefas práticas em diversas ocasiões no que refere à leitura, baseando-se em estratégias capazes de motivar e incentivar a vários níveis de leitura nos seus alunos.

Neste âmbito, é evidente que o desenvolvimento das competências de leitura no contexto de sala de aula depende das estratégias aplicadas pelo professor, de modo que venham a facilitar o processo de ensino de leitura e a respectiva descodificação, contribuindo, significativamente, na formação do indivíduo.

 

Estratégias para o ensino de leitura crítica dos textos literários

  1. Predições iniciais (antes da leitura do texto), sobre o texto e objectivos da leitura;
  2. Levantamento de questões (durante a leitura) e o controlo da compreensão;
  3. Construção da ideia principal e resumo textual (depois da leitura do texto). Para melhor aprendizagem da leitura, o professor deve ler para o aluno, mostrando-lhe como os escritos que circulam no quotidiano podem ser utilizados a fim de que o mesmo apreenda o seu sentido (Ferreira& Dias, 2006).

Em consonância com Solé (1998), citado por Bruchuvitch (2001), o aluno pode ser ensinado a analisar o título do texto, tansformá-lo em perguntas e fazer inferências sobre o seu conteúdo, antes mesmo de começar a leitura. Durante a leitura, o aluno deve ser encorajado a elaborar um diálogo com o texto, gerar questões que facilitem a identificação das ideias principais e que possibilitem o monitoramento da compreensão.

Uma das estratégias de ensino de leitura crítica eficaz, na sua implementação, é de elaboração de resumo, elaboração de um roteiro do texto, elaboração de uma representação gráfica do conteúdo lido que constitui actividade pertinente após a leitura.

Das diferentes perspectivas apresentadas pelos autores sobre as estratégias de ensino da leitura crítica dos textos literários, é de lembrar que o professor, antes de entrar na leitura do texto, deve situar o seu aluno sobre o contexto em que a obra ou texto foi escrito, falar um pouco da vida do autor, fazer-se uma breve investigação arqueológica textual.

Conclusão

Chegado ao fim do trabalho, pode-se afirmar que a leitura é o caminho que desperta a reflexão, compreensão e interpretação do mundo, como é ilustrado no decurso do ensaio e o professor tem um papel crucial nesse processo.

A necessidade de reflexão, além da descodificação do texto literário, envolve a realidade de cada um, porque o fenómeno de leitura pode alcançar várias dimensões, como por exemplo, o meio em que cada estudante encontra-se inserido. Para o sucesso desse processo todo, propomos, durante a reflexão deste ensaio, em particular para Moçambique, que se passem a evitar fragmentos de textos para a análise de uma obra literária, para suscitar no aluno um interesse na leitura de outras obras não obrigatórias, assim fazendo uma ligação com outras obras, onde o aluno desenvolverá competência de leitura crítica dos textos literários. 

 

Referências Bibliográficas

  • Bordini, M.,Aguiar, (1993). Literatura: a formação do leitor: alternativasmetodológicas. (2ªed), Porto Alegre: Mercado Aberto.
  • Bruchevitch, E. (2001). Psicologia escolar e educacional. V.5 nº1,Cmpinas. Disponível em: [email protected]. acesso em:06.06.2019
  • Candido, A. (2004). O direito à Literátura. In vários escritos, (pp.169-191).4ª São Paulo e Rio de Janeiro.
  • Coelho, J. (1976). Como ensinar Literárura. In ao contrário de penélope. (PP45-71) Amadora: Berfrand
  • Ferreira, S.& Dias, M. (2002). A escola e o ensino Psicologia. (7), 1 Pp 39-49.
  • Jouve, V. (2012). Por que estudar a literatura. São Paulo:Parábola.
  • Krug, F. (2015). Importância da Leitura na formação do leitor. In revista de educação do Ideau. V. 10. nº20. Disponível em:https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/277_1.pdf. Acesso em: 06.06.2019.
  • Reis, C. (1981).Tecnicade análise textual: Itrodução à leitura crítica do textoliterário. (3ªed.). Coimbra: Almedina
  • Saraiva. (2013). Didáctica geal. (7ªed), São Paulo ed. Atica.
  • Silval,J.(2011).Discutindo sobre leitura.UNIFAP. V.1. nº1. Disponívelem:https://periodicos.unifap.br/index.php/letras/article/view File/326/n1jose.pdf. Acesso em: 06.06 .2019.