Márcia Cavalchi de Carvalho -
UNISANTOS - email: [email protected]
Orientador (a): Maria Amélia R. Santoro Franco
Resumo:
A pesquisa empírica em fase final, investiga as práticas dos professores de Matemática da cidade de Praia Grande, a fim de conhecer a organização dessas práticas com a utilização dos "Cadernos do Professor e do Caderno do Aluno" elaborados pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Identificando os sujeitos da pesquisa e o perfil de professor proposto pela SEE/SP, discute a importância da formação continuada, apontando, por meio de fundamentos teóricos importantes, os elementos-chave para uma prática docente significativa, quais sejam a reflexão, a pesquisa e autonomia. Por meio da contextualização da Proposta Curricular, que se tornou currículo oficial para as escolas estaduais a partir de 2009, como também dos "Cadernos do Professor e do Aluno", apresenta como está à educação da Matemática no Estado de São Paulo, situando o leitor nesse cenário. Questiona as influências das políticas públicas na educação, relacionando-as com a implantação do sistema apostilado na rede estadual pública; a formação continuada dos professores e as práticas docentes. Aborda o ensino significativo da Matemática, em que o professor deverá articular o conteúdo com o conhecimento de mundo que o aluno traz. Os aportes teóricos desta pesquisa são: Nóvoa, Contreras, D?Ambrósio, Matsubara e Zaniratto, entre outros importantes teóricos da educação. Como metodologia, utiliza a pesquisa exploratória na forma de um questionário semi-estruturado e uma entrevista. A partir da fundamentação teórica e dos dados coletados, esta pesquisa caminhou na direção de aprofundar os conhecimentos sobre a prática docente dos professores de Matemática, e, possivelmente, contribuir com a área da pesquisa sobre formação inicial e continuada de educadores de licenciatura da disciplina em matemática.

Palavras-chave: ensino da Matemática ? formação de professores ? prática docente ? sistema apostilado.


Introdução
O estudo desta pesquisa sobre a prática docente na área de Matemática pode ajudar a compreender e analisar os benefícios e/ou malefícios resultantes da implantação da nova metodologia de ensino adotada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP): os "Cadernos do Professor e do Aluno". Esses cadernos abrangem, além dos conteúdos disciplinares, sugestões para o uso das tecnologias, do lúdico e da criatividade.
As questões que motivou esta pesquisa foram fomentadas pelas mudanças implantadas pela Secretaria Estadual de Educação (SEE) de São Paulo, em 2008, quando uma nova Proposta Curricular Pedagógica foi implementada nas escolas estaduais de São Paulo, visando a uma base comum para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Adotou-se, para isso, uma metodologia apostilada, em que o professor deveria ministrar os conteúdos dos "Cadernos do Professor e do Aluno", elaborados pela SEE. Trago, assim, para esta pesquisa, questionamentos que considero fundamentais para a compreensão da prática docente, tais como: onde fica a autonomia do professor para criar a sua prática? O "apostilamento" seria uma forma tecnicista de controle da prática docente?
Na Proposta da SEE/SP, os "Cadernos do Professor" e os "Cadernos do Aluno", específicos para cada disciplina e com conteúdos predefinidos, foram considerados de uso obrigatório pela SEE/SP, posto que possuam como objetivo "cumprir seu dever de garantir a todos uma base comum".
No caso da disciplina de Matemática, foram propostas nos "Cadernos dos Professores" atividades que deveriam ser tratadas ao longo dos bimestres, durante o ano letivo de 2008. Em 2009, os estudantes receberam os "Cadernos dos Alunos", também em forma de apostila, contendo exercícios a serem resolvidos em sala de aula. Os conteúdos propostos a serem ensinados com o uso do "Caderno do Professor" e o do "Caderno do Aluno" têm sido avaliados ao final de cada bimestre pelos professores, por meio de questionários virtuais disponibilizados pela SEE/SP, desde o inicio de 2009. Desta forma norteou-se a minha questão problema: Como se organiza a prática do professor de Matemática com a utilização dos Cadernos do Professor e do Aluno elaborados pela SEE/SP?
Para responder a questão-problema e as demais questões aqui apresentadas, esta pesquisa teve por objetivo principal:
? Investigar como a prática docente do professor de Matemática se organiza com a utilização dos cadernos propostos pela SEE.
Como objetivos específicos:
? Compreender as dificuldades enfrentadas pelo professor de Matemática na utilização dos "Cadernos do Professor e do Aluno".
? Compreender se com a utilização dos Cadernos houve transformação efetiva no ensino da Matemática.
? Identificar quais subsídios são fornecidos pelos Cadernos para o aprimoramento do ensino da Matemática.
Como fundamento teórico sobre a organização da prática docente, utilizo-me dos estudos de Tardif e Lessard (2000), focalizando o professor em seu trabalho; as atividades inerentes à prática docente; como as práticas dos sujeitos investigados estão se organizando agora com o Sistema apostilado implantado e a incorporação das novas exigências ao seu trabalho diário.
Utilizo-me ainda dos argumentos de Machado (2009), expondo o desejo de "professor ideal" para o Magistério do Estado de São Paulo.
Fundamento-me, também, em Gonçalves e Gonçalves (1998), sobre a formação dos professores de Matemática, de modo a identificar as dificuldades que esse profissional enfrenta no cotidiano escolar.
Discutindo o sistema apostilado, trago Bunzen (2001) que buscou em seus estudos analisar o sistema de ensino apostilado e a realidade da educação brasileira. Corroborando com este estudo estão Arruda, Kinjo e Barboza (2008), quando os autores explicam o processo de sistema apostilado adotado pela maior parte dos sistemas educacionais privados.
A partir dos estudos teóricos e dos dados coletados, esta pesquisa questiona: com o "Caderno do Professor e do Aluno", o professor poderá perder a sua autonomia? Ficando apenas como um transmissor de informações e de preenchimento de apostilas (Caderno do Professor)?
Permeando essa fundamentação teórica com uma análise do Ensino da Matemática, Matsubara e Zaniratto (2005) tratam do ensino da disciplina, propondo que sejam articuladas significativamente a prática e a formação docente para que a aprendizagem do aluno ocorra também de forma significativa.
A metodologia utilizada neste estudo será empírica, fornecendo aos professores questionários com perguntas abertas e fechadas com a ambigüidade e a justificativa, de análise qualitativa, e serão utilizados os seguintes procedimentos:
? No primeiro momento, uma pesquisa exploratória para conhecer as práticas dos professores que utilizam o "Caderno do Professor e do Aluno".
? No segundo momento, entrevistas formais, com o apoio da estratégia metodológica da "auscultação", com três docentes titulares de cargo que lecionam a disciplina de Matemática para uma investigação mais significativa, bem como para uma compreensão mais aprofundada da prática docente, no que se refere ao Sistema Apostilado.
A metodologia adotada coletei dados, impressões e conhecimento sobre a situação da prática do professor de Matemática com o uso do "Caderno do Professor", nos anos de 2008 e 2009.
Meu aporte teórico para a metodologia adotada é composto pelos seguintes autores: Chizzotti (1998), Oliveira (2007), Bogdan e Bicklen (1997), André (1983).
A análise qualitativa dos dados está se delineando, mas até o momento em caráter provisório os professores de matemática consideram as apostilas não como instrumento de auxilio, mas como mais um trabalho a ser feito na sala de aula.

Referências Bibliográficas:
ANDRE, Marli Eliza D. A. de. Texto, contexto e significados: algumas sugestões na análise de dados qualitativos. P.66-71. Revista da Fundação Carlos Chagas. n.45. 1983
ARRUDA, E. E.; KINJO, C. N.; BARBOZA, M. M. S. O processo de mercantilização do ensino no nível fundamental e médio, em uma capital brasileira de porte médio. In: VIII JORNADA do HISTEDBR Universidade Federal de São Carlos ? UFSCar, Anais. São Carlos, SP, 2008. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada8/trabalhos.html. Acesso em: 21 de jul de 2010
BOGDAN, R; BICKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução a teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1997.
BUNZEN, Clecio. O antigo e o novo testamento: livro didático e apostila escolar. Ao pé da letra, v. 3.1, p. 35-46, 2001. Disponível em: http://aopedaletra.net/volumes/vol%203.1/Clecio_BunzenO_antigo_e_o_novo_testamento-livro_didático_e_apostila_escolar.pdf . Acesso em:10 de jul de 2010
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em Ciências Humanas. São Paulo: Cortez, 1998
GONÇALVES, Tadeu O; GONÇALVES, Terezinha V. O. Reflexões da Prática docente situada: buscando novas perspectivas na formação de professores. In: CORINTA M. G.; FIORENTINI,D; PEREIRA, Elisabete M. A.(orgs). Cartografias do trabalho docente. Professor(a)- pesquisador(a).- Campinas, SP : Mercado de Letras : Associação de Leitura do Brasil ? ALB, 1998. p. 105-135
MACHADO, Nilson José. Palestra. O Currículo da Rede Estadual de São Paulo e as concepções das áreas do conhecimento. Matemática. São Paulo, 2009. Disponível em: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/spfe2009/NOT%c3%8dCIAS/tabid/1210/EntryId/57/Default.aspx acessado em 18/07/2010
MATSUBARA, Roberto; ZANIRATTO, Ariovaldo A. Matemática e Realidade: ensino fundamental: livro do professor. Obra em 4 volumes de 5ª série a 8ª série.1. ed.- São Paulo: IBEP, 2005.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente ? elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2008