ESCOLA DE GUERRA NAVAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS MARÍTIMOS
SALOMÃO MELQUIADES LUNA
RESENHA DE ENSAIOS DO LIVRO AGAINST THE
CURRENT DE ISAIAH BERLIN
DISCIPLINA PPGEM GO – 01
TRABALHO IV
Rio de Janeiro
2014
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1 OBRA
“Against The Current – Essays in the History of Ideas”, do filósofo político Isaiah
Berlin, publicado pela Editora The Viking Press – New York, em 1980. Em sua 1ª impressão
e com 394 páginas, é um livro indicado para estudantes e professores de Filosofia, História e
Ciências Humanas e Sociais.
2 CREDENCIAIS DO AUTOR
Isaiah Berlin nasceu em 1909, em Riga, capital da Letónia. Aos seis anos, mudou-se
para a Rússia. Em 1917, testemunhou as Revoluções Social-Democrata e Bolchevique, em
Petrogrado.
Em 1921 a sua família foi para Inglaterra. Estudou na St. Paul’s School e no Corpus
Christi College de Oxford. Iniciou sua carreira acadêmica como filósofo, lecionando teoria
social e política. Destacou-se como historiador de ideias.
Em Oxford foi membro do All Souls, membro do New College, Professor de Teoria
Social e Política e Presidente fundador do Wolfson College. Igualmente, ocupou a Presidência
da Academia Britânica.
Publicou, entre outros livros, Karl Marx, Four Essays on Liberty, Against the Current,
Vico e Herder, O sentido de realidade, Pensadores russos e Limites da utopia: capítulos da
história das ideias.
Como um dos expoentes da história das ideias, Berlin recebeu os Prémios Erasmus,
Lippincott e Agnelli; e como defensor das liberdades civis ao longo da vida, recebeu o Prémio
Jerusalém. Faleceu em 1997.
3 DIGESTO
Against The Current é a primeira coletânea de ensaios e retratos sobre a história das
ideias que Berlin escreveu. O autor enfrentou neste livro as mesmas questões que tem
ocupado os filósofos por milênios: o alcance e os limites da razão, a natureza da linguagem, o
papel da imaginação, os fundamentos da moralidade, conceito de justiça, as reivindicações
conflitantes de cidadania e de comunidade e o sentido da história.
Nesta obra o autor nos coloca diante da questão de como devemos entender o
pluralismo. Em seus ensaios, ele expõe quatro tipos deles.
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O primeiro é o pluralismo ético. Numa prosa fluída, Berlin faz com que seja difícil
encontrar uma breve e rigorosa declaração do que isso implica. Negativamente, o pluralismo
ético rejeita a ética da lei natural, e se aproxima das raízes que estão em Maquiavel: a crença
de que a solução correta e válida para a questão de como os homens devem viver pode ser
descoberta é, por si só, em princípio, uma mentira. Em outros termos, o núcleo do pluralismo
ético defende que a razão não pode determinar os fins de uma vida humana.
O Segundo tipo é o pluralismo político, que para Berlin, resulta do primeiro. O seu
contraste simpático entre o humanismo de Moses Hesse e o comunismo científico de Karl
Marx evidencia uma repugnância para com projetos sociais, supostamente objetivos.
A terceira forma de pluralismo é o pluralismo estético, relacionado também a um tipo
de indeterminação sobre os fins humanos. Aqui Berlin explora Vico cuja mensagem é que
cada idade desenvolve seu próprio modo único de expressão. Então não há a necessidade de
comparar e qualificar, em qualquer escala única de mérito, cada fase cultural e suas criações e
formas de vida e de ação, na verdade, isso não é possível, pois são, evidentemente,
incomensuráveis.
A quarta e, presumivelmente, a forma mais básica de pluralismo é a epistêmica. Aqui
fica claro o que o autor rejeita: a visão iluminista de que a ciência determinista da natureza
humana pode ser estabelecida. Berlin se demonstra atraído pela empatia de Herder, pelo
historicismo antropológico de Vico e sua concepção filosófica da consciência da experiência
acumulada de sociedades inteiras, e até mesmo, dentro de limites nítidos, pelo senso de
realidade de Hamann ou Glaube.
Destrinchar as formas interrelacionadas de tese de governo de Berlin é a principal
lição desses ensaios. Seu pluralismo ético enfrenta a constante e não-surpreendente ameaça de
uma espécie incoerente e autodestrutiva. Aparentemente, para o autor, isso se deve às formas
perniciosas que, historicamente, os monismos éticos e epistemologicos tomaram. O
reducionismo positivista e o marxismo são tristes exemplos recentes disso. Uma coisa é
afirmar que o pluralismo ético de Berlin não pode ser sustentado, outra coisa totalmente
diferente é mostrar que esse é o caso.
Berlin discute, no ensaio The Divorce between the Sciences and the Humanities, a
crescente tensão que ocorre na relação entre as ciências naturais e as ciências humanas –
“duas culturas” – alegando que houve muitas culturas na historia da humanidade, e que essa
variedade tem pouco ou nada a ver com as diferenças entre as duas ciências e que não ocorreu
um divórcio entre as duas culturas.
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Os valores racionais e científicos do Iluminismo e, particularmente, a ideia de que
esses métodos são universalmente aplicáveis para todo o conhecimento humano e que podem
ser invocados para produzirem respostas definitivas para todas as perguntas consiste na
descrição do lado ciência da dicotomia de Berlin.
Voltaire é considerado por Berlin como um defensor proeminente dos valores do
Iluminismo, o racionalismo dele é como uma via ampla. É como se ascendesse a crença de
que qualquer pergunta só precisasse de ser pensada por uma pessoa razoável e de inteligência
adequada para que uma resposta definitiva surgisse. Não só não é uma crença especificamente
no método dedutivo ou científico. Não é, afinal, uma crença em qualquer método definitivo.
Após abordar os valores do Iluminismo de modo geral, o autor aborda a atitude de
Voltaire ao longo da história. Para Voltaire existem apenas a idade das trevas e a idade da luz,
as trevas se devem aos crimes, loucuras e infortúnios dos homens; a luz é a transformação
social, mudança cultural moral e intelectual.
Nesse sentido, ele é um benfeitor menos histórico do que alguns de seus predecessores
na Renascença. Ele olha para a história de um modo mais solto, como uma acumulação de
fatos casualmente ligados, cujo objetivo é mostrar aos homens em que condições essas
finalidades centrais que a natureza implantou no coração de cada homem podem ser melhor
encaminhados. Provavelmente, Voltaire fez mais do que qualquer outra pessoa para
determinar o sentido inteiro do iluminismo.
Nos ensaios Vico’s Concept of Knowledge e Vico and the Enlightenment, Berlin foca a
análise em Giambattista Vico, o qual tinha um lugar muito especial na história do pensamento
e que Berlin expôs com créditos.
Vico procurava estudar de maneira análoga as ciências humanas e os procedimentos
das ciências naturais. Ele achava que deveria haver um processo metodológico diferente para
tratar estas duas áreas do conhecimento, para ele, opostas.
As distinções entre a grande verdade da filosofia – natural e metafísica – teologia,
história, retórica, jurisprudência, não eram muito nitidamente traçadas; houve conflitos acerca
de método no Renascimento, mas a grande clivagem entre as províncias de ciências naturais e
as ciências humanas foi, pela primeira vez, feito, ou pelo menos revelado, para o melhor ou
para o pior, por Vico. Assim, ele começou um grande debate de que o fim não está à vista.
A resposta de Vico para esse debate era, em primeiro lugar, limitar o âmbito da razão.
Isso ele fez com o argumento (correto, mas possivelmente não muito original) de que a razão
nos diz apenas sobre coisas que inventaram para nós mesmos.
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O mundo real foi projetado por Deus. Na falta do conhecimento dele sobre a criação, a
dedução nada nos diz respeito disso.
4 CONCLUSÕES DO AUTOR
Nesta obra o autor se assume um pluralista e humanista, e acredita no valor do
homem.
Ele reconhece valores éticos universais comuns ao ser humano, mesmo que
incompatíveis e incomensuráveis, e sustenta a sua teoria do pluralismo de valores na
compreensão de outras culturas.
Em seu debate pró e contra o iluminismo, Berlin critica, sobretudo, os arautos da
perfeição humana e os dogmas absolutos e inalteráveis ao longo dos tempos. Ao decorrer dos
ensaios, ele elogia os contra-iluministas Herder, Hamman e Vico, que alertaram para os
perigos do Iluminismo, denunciando as implicações políticas dos conceitos centrais da Razão.
O ideal de alguns dos pensadores do Iluminismo e a possibilidade abstrata de uma
sociedade perfeita são uma tentativa de unir atributos incompatíveis – características, ideais,
presentes, propriedades – valores que pertencem a diferentes padrões de pensamento, ação,
vida; portanto, não podem ser destacados e costurados em uma peça de vestuário. No
pensamento de Vico, essa noção deve ser literalmente absurda: um absurdo porque há um
conflito conceitual entre o que dá esplendor ao Aquiles e que faz com que Sócrates ou
Michelangelo ou Spinoza ou Mozart ou o Buda sejam admirados. Uma vez que isso se aplica
às respectivas culturas, no contexto dos quais conquistas só homens podem ser
compreendidos e julgados, este fato torna incoerente o sonho particular do Iluminismo.
O ceticismo ou pessimismo de um bom número de pensadores do Iluminismo –
Voltaire, Hume, Rousseau – sobre a possibilidade de realizar esta condição não vem ao caso.
O ponto é que eles foram animados por uma concepção das possibilidades ideais, porém
inatingíveis na prática.
Depois de Vico, o conflito entre monismo e pluralismo, valores intemporais e
historicismo, foram obrigados, mais cedo ou mais tarde, a tornar-se uma questão central. Se
Vico tinha feito mais do que aumentá-lo, mas indiretamente, em seu nível mais profundo, em
seu capítulo seminal The Discovery of the True Homer, isso por si só deveria ter sido
suficiente para revelar o poder e a originalidade de seu pensamento.
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5 METODOLOGIA DO AUTOR
Isaiah Berlin era um conservador. Em seus ensaios mostra solidariedade para com a
humanidade.
Opondo-se à interpretação do mundo a partir de uma única visão central, ele
reconheceu o mérito em vários movimentos que moldaram o pensamento intelectual e político
de sua época. O Humanismo, o Iluminismo, o Contra-iluminismo, o Romantismo e o
Liberalismo influenciaram o autor no seu liberalismo e no seu pluralismo de valores.
A sua teoria revela-se ainda hoje pertinente pela urgência constante em lutar por uma
sociedade decente, promovendo a liberdade individual e a empatia entre as culturas.
Com sua metodologia empírica e com seus ideais liberais e humanistas, acreditou
decididamente que a razão não determina os fins de uma vida humana.
6 QUADRO DE REFERÊNCIA DO AUTOR
Berlin é um excelente representante de ideias e pensamentos. Nesta coleção de
ensaios, está presente, ainda que em nível um pouco mais leve, quase todas as grandes
contribuições intelectuais de Isaiah Berlin como um historiador de ideias e filósofo da
história.
Ele começa com a sua contribuição acadêmica para o campo da história intelectual,
tratando o Contra-Iluminismo como um fenômeno histórico.
Sua análise é acompanhada pela trilogia sobre Giambattista Vico e a formulação da
compreensão "humanística" de conhecimento, que é separada e distinta de ambos os métodos
indutivo e dedutivo da epistemologia. Sua grande ideia política do valor do pluralismo tem
sido tratada em profundidade em seu tratado sobre Maquiavel, enquanto também se pode
notar em Berlin a sua capacidade como historiador.
Against the Current é uma reflexão sobre o papel determinante das ideias e dos
pensadores que as formulam, tanto do ponto de vista político como social.
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