Trabalha, trabalha, trabalha/ Trabalha, trabalha, trabalha / …... / Só no fim do mês recebe. /// Paga, paga, paga, paga/ Paga, paga,…. Tudo o que deve 

Esse monte de: “Trabalha, trabalha...” e depois “Paga, paga...” é a introdução de uma música humorística de Alvarenga e Ranchinho, sucesso de meados do século XX (disponível em: https://www.ouvirmusica.com.br/alvarenga-ranchinho/1585304/.) Mas retrata um pouco do que os operários viviam na Europa do século XVIII e XIX, ao longo da Revolução Industrial.

Na realidade, a partir do século XVI a Europa passou por sucessivas revoluções religiosas, filosóficas, científicas e econômicas que mudaram a face do mundo.

Mas, nesse mesmo período, o que acontecia no Brasil?

O Brasil era habitado por centenas de povos (a quem chamamos de índios) que formavam vários milhares de pessoas, desde tempos remotíssimos. Entretanto, nosso país só “entra” para a história no último ano do século XV. E, efetivamente, fez história a partir do século XVI. Mesmo assim, caminhando a passos de tartaruga.

Enquanto, no século XVI, a Europa passava pelo Renascimento, o Brasil era uma colônia portuguesa, ainda sem definição das suas fronteiras. Sofria invasões de nações europeias, como os holandeses e franceses, pois Portugal ainda não havia, efetivamente se apropriado e ocupado nossos litorais.

Vendo-se em risco de perder este imenso território, o governo português mandou os primeiros colonizadores, os primeiros missionários jesuítas e as primeiras vilas começam a surgir originando o que, futuramente, seria São Paulo e Rio de Janeiro. Posteriormente, da região de São Paulo, foi que partiram as expedições (os bandeirantes). Foram eles que efetivamente definiram as fronteiras do Brasil. Mas aí já estávamos no século XVII.

Nesse período, em nosso país, ainda capturavam índios para escravizar. Ao mesmo tempo buscavam ouro, diamantes e esmeraldas em Minas Gerais e no Centro Oeste mato-grossense. Era uma tentativa de lucro fácil, sem apostar no desenvolvimento (como estava fazendo os colonos ingleses na América do Norte). Na Europa estava em andamento um processo que desembocaria em mais uma revolução, agora na produção: estavam em andamento os mecanismos da Revolução Industrial.

Enquanto no Velho Continente os operários se organizavam em sindicatos, preparavam greves e aderiam aos ideais socialistas, o Brasil ainda era uma colonia escravocrata. Lá os operários estavam envolvidos no “trabalha, trabalha, trabalha...” e depois, “no fim do mês recebe”. Aqui os escravos trabalhavam para a riqueza dos seus senhores e mal recebiam roupa, comida e moradia. Lá o proletariado começava a fazer greves. Aqui os escravos formavam quilombos.

Os novos ventos que varreram a Europa do século XVII e XVIII trouxeram novas ideias. Somente nesse momento foi que houve uma pequena sincronia de ideais: Lá estavam se desenvolvendo novas filosofias, entre elas o Iluminismo e com ele a Revolução Francesa. Aqui ideias iluministas chegaram na forma de movimentos pela libertação dos escravos e pela independência. A Europa era o motor que arrastava a história, aqui a carreta era arrastada ao sabor dos solavancos de revoltas e movimentos que satisfaziam interesses dos fazendeiros cansados de pagar pesados tributos à coroa portuguesa.

Na realidade os ideais de independência chegaram primeiro na América do Norte. E em 1776 os colonos norte-americanos declaram sua independência: seus pressupostos eram a Revolução Industrial (eles também estavam se industrializando) e o iluminismo. Depois foi o Haiti, em 1803. Mas aí, também houve inspiração napoleônica.

Tudo isso mostra que a Europa foi abrindo alguns caminhos e o novo mundo embarcou nessa marcha. E Aqui, no Novo Mundo, também o Brasil pegou carona: concedeu a liberdade aos escravos e deixou de ser colonia portuguesa, com a independência, em 1822.

Então, como entender o Brasil do século XVII e XVIII? Entendendo os movimentos e processos revolucionários que ocorreram na Europa, nesse mesmo período. Os eventos históricos de lá, acabavam repercutindo por aqui...

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO