Fatores de ordem sociais, econômicos, afetivos e, sobretudo, pessoais são decisivos na hora de escolher uma profissão. Quando se decide pelo curso de Psicologia, na maioria das vezes, a opção se dá pela crença e vontade de auxiliar as pessoas, uma vez que, trata-se de uma ciência que se esmera em compreender a complexidade do comportamento humano, sem o viés de uma visão estereotipada e despida das considerações impostas pelo senso comum.

A formação em Psicologia deve ser norteada por princípios que remetam ao embasamento da perspectiva científica e do exercício da cidadania; que assegure rigorosa postura ética; que garanta uma visão abrangente e integrada dos processos psicológicos, permitindo uma ampliação dos impactos sociais dos serviços prestados à sociedade; e que desenvolva um profissional detentor de uma postura proativa em relação ao seu contínuo processo de capacitação e aprimoramento. Esse conjunto de valores se molda, inevitavelmente face à celeridade com que os conhecimentos científicos se horizontam e as técnicas profissionais se diferenciam, atingindo, em especial, a área da saúde na qual se insere a Psicologia. Desta forma, estes princípios também são imprescindíveis para impedir que a abordagem dos processos psicológicos sofram atitudes que denotem a trivialidade e a falta de cientificidade. A inquietude com uma sólida formação científica se consolida, por exemplo, na definição da ênfase curricular que o formando pretende seguir, oportunizando o aprofundamento de estudos em um domínio específico de atuação profissional, atendo-se a um conjunto de competências, habilidades e conhecimentos que definem os caminhos e diretrizes que configuram a formação do Psicólogo.

Como pauta, trataremos da Ênfase em Processos Clínicos, com a atenção para a Psicanálise, cujos pressupostos envolvem a concentração em competências para atuar, de forma ética e coerente com referenciais teóricos, valendo-se de estratégias clínicas, cujo surgimento e desenvolvimento se dão a partir da escuta singular a qual se propõe. Pautando-se no processo de escuta qualificada como recurso da técnica psicanalítica e suas implicações na psicanálise como teoria. À medida que o campo psíquico pode ser equiparado a um sistema aberto, a escuta destaca-se como ponto fundamental no campo intersubjetivo, característico do encontro analítico (Macedo e Falcão, 2005). Nesta ênfase, as disciplinas de formação do psicólogo objetivam formar, nos acadêmicos, a escuta clínica, incluindo seus desdobramentos em várias vertentes do campo profissional da psicologia. Oferece ainda, disciplinas obrigatórias e eletivas; atividades de pesquisa com a possibilidade de inserção dos alunos em Grupos de Pesquisa (atividades complementares) e estágios supervisionados.

As competências – da Ênfase em Processos Clínicos à Psicanálise 

As competências dispostas nesta ênfase se destinam ao desempenho e atuação dos formados em Psicologia, possibilitando ao profissional um domínio basilar de conhecimentos psicológicos e a capacidade de utilizá-los nos mais variados contextos que demandam a investigação, análise, avaliação, prevenção e atuação em processos psicológicos e psicossociais, e na promoção da qualidade de vida. De acordo com o Ministério da Educação, em sua Resolução n° 5/2011, são algumas destas diretrizes: 

  1. Atentar para a escuta clínica, enquanto competência, observando o desenvolvimento das habilidades de entrevistar, explorar, analisar e interpretar manifestações verbais e não-verbais.
  2. Identificar e analisar necessidades de natureza psicológica, diagnosticar, elaborar projetos, planejar e agir de forma coerente com referenciais teóricos e características da população-alvo;
  3. Identificar, definir e formular questões de investigação científica no campo dos Processos Clínicos, vinculando-as a decisões metodológicas quanto à escolha, coleta e análise de dados em projetos de pesquisa;
  4. Atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensão dos processos e fenômenos envolvidos assim o recomendar;
  5. Atuar profissionalmente, em diferentes níveis de ação, de caráter preventivo ou terapêutico, considerando as características das situações e dos problemas específicos com os quais se depara;
  6. Realizar psicoterapia.

As competências destinadas aos Psicólogos vão ao encontro daquelas que direcionam o Psicanalista. Aqui, faz-se necessário a descrição sumária, referente a algumas outras competências atribuídas a este profissional da saúde (Ministério do Trabalho - Portaria n° 397/2002)

a) Estudam, pesquisam e avaliam o desenvolvimento emocional e os processos mentais e sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a finalidade de análise, tratamento, orientação e educação;

b) Diagnosticam e avaliam os distúrbios emocionais e mentais e de adaptação social elucidando conflitos e questões e acompanhamento o paciente durante o processo de tratamento ou cura; investigam os fatores inconscientes;

c) Desenvolvem pesquisas experimentais, teóricas e clínicas que coordenam equipes e atividades de áreas afins.

A Predileção pela Psicanálise – contributos pessoais e sociais

O Campo clínico teórico que se ocupa em explicar o funcionamento da mente humana, auxiliando no tratamento de distúrbios psíquicos e neuroses, cujo objetivo concentra-se na relação entre os desejos inconscientes e os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas é o que preconizava o pai da Psicanalise, Sigmund Freud. Assim, a Psicanálise investiga os processos mentais, por meio da escuta, da interpretação, da observação, da exploração e reconstituição da evolução dos fatos que desencadeiam traumas, causando sofrimento. O psicanalista ajuda a liberar as amarras que prendem as pessoas e as impedem de alcançar suas metas, no intuito de que elas redefinam sua personalidade, ressignificando dores e afetos. Compete ao psicanalista ainda, auxiliar na busca pelo autoconhecimento e compreensão das angústias, pensamentos e ações, trabalhando as emoções e sentimentos, buscando extrair delas o potencial em, por si mesmas, conhecer seus sintomas, encontrando as melhores maneiras de lidar com eles. Tais pressupostos é algo tão benéfico ao Psicanalista quanto ao sujeito que outrora se apresentou em estágio de adoecimento.

A forma de olhar os fenômenos humanos e seus processos de adoecimento e de saúde converge em alguns momentos; em outros, parecem distantes, tal como apartados em proporções continentais uns em relação aos outros (Scorsolini-Comin, 2014). No entanto, um psicanalista vai além, direcionado pela escuta qualitativa e suas intervenções, ele se dedica a ser um co-responsável, para compreender os fenômenos comportamentais e psíquicos, e ajudar a “expurgar” as dores de quem o procura para se livrar de um sofrimento. E é pautado neste perfil altruísta, nesta dinâmica de alteridade, somado aos ensinamentos acadêmicos já elencados, que a autora deste trabalho está desafiada a prosseguir.

Referências Bibliográficas

MACEDO, Mônica Medeiros Kother ; FALCÃO, Carolina Neumann de Barros . A escuta na psicanálise e a psicanálise da escuta. Psychê, v. 09, n. 15, São Paulo, jun.2005. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid.

Acesso em 18 de jun. 2020.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação – CNE. Resolução n. 05, Brasília, 15 de mar.2011. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7692-rces005-11-pdf&Itemid=30192. Acesso em 18 de jun.2020.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Classificação Brasileira de Ocupações – CBO. N. 2515-50. Portaria n. 397, Brasília, 09 de out.2002. Disponível em https://aterapiaonline.com.br/index.php/pt-BR/psicanalise/ministerio-do-trabalho.html. Acesso em 18 de jun. 2020.

SCORSOLINI-COMIN, Fábio. Aconselhamento psicológico e psicoterapia: aproximações e distanciamentos. Contextos Clínicos. V. 7, n. 01, São Leopoldo, jun. 2014. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid. Acesso em 18 de jun, 2020.