Já basta!
Por que não domingos?
Infâncias,
Dias de calor,
Músicas soando,
Livros na estante,
Alguém assoviando,
Sandálias Havaianas,
O tempo passando,
Roupas guardadas,
Á água acabando,
Passos na lua,
O contrabando,
Crianças arteiras
Cirandas dançando,
Meninas rebeldes
Os cabelos cortando,
Ou ainda, a realeza
Da vida reclamando?

Por que não algo mais comum?
Bombas atômicas,
Usinas nucleares,
Álgebra,
O sistema nervoso,
A eternidade,
Ou bichos-de-sete-cabeças?


Já basta a metalingüística!
Exauri de autodefinições
E o forjamento de um doutorado em certos sentimentos,
Cansei de camuflar o espelho
De esconder aquele reflexo
Revelador cruel
Da minha incorrigível ignorância

Cansei de tentar enxergar sem os óculos
E querer ler no escuro,
Cansei do meu xucro vocábulo
E das minhas próprias palavras escritas
Cansei de tapar os ouvidos
Pra voz que ressoa contínua:
“Eu sei que nada sei”

Cansei dos meus débeis versos desrimados
Por que não sonetos, mármores legítimos?
Quero dar jus a Flor do Lácio
Cansei de amar
Quero ser um verídico poeta.