Enem, concursos e vestibulares Até parece que as situações que deveriam ser exceções viraram rotina. Pelo menos é isso que pensamos quando ocorrem algumas lambanças em concursos, vestibulares e no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Não são poucas as pessoas que dizem que ainda participam de concursos por teimosia, mas que não acreditam na lisura da disputa. Com os vestibulares as desconfianças já não são tantas, mas vez por outra a mídia comenta que se apanhou um fulano de tal que havia comprado o resultado, ou algum outro que estava vendendo os gabaritos das provas. Mas o monstro do vestibular, já não assusta tanto... pelo menos não em nossa região... Noutras partes do país, o bicho é feio e engole gente! Mas a coisa parece ser mais acintosa nos concursos... É claro e inegável que sempre tem aqueles que passam na raça e com méritos! Mas para outros tantos... não nos esqueçamos que somos gente e a "lei do Gerson" permanece. E aí vem o ditado: desconfiança e caldo de galinha não fazem mal. A ilustração desta situação vem de pouco tempo atrás, quando o estado de Rondônia realizou concurso para o DER. Anda não havia terminado a prova e já circulavam boatos e comentários sobre a necessidade de anulação do concurso, em virtude de (supostos) problemas nas provas e favorecimento de alguém ligado a fulano de tal. Outros já atiravam a afirmação padrão, de que o concurso havia sido realizado apenas para se arrecadar dinheiro ? principalmente porque a campanha eleitoral havia provocado rombos em muitos bolsos. Além disso, o fim do ano se aproxima e uns quantos Institutos de Ensino Superior (IES ? as faculdades) se preparam para seus processos de captação de novos acadêmicos. Como, aparentemente, a demanda por ensino superior vem decaindo, as faculdades se vêm obrigadas a "disputar no tapa" os candidatos. Tanto que se inventou até um tal de "vestibular agendado". Ilustra isso o que disse uma pessoa que não fez vestibular. Havia feito inscrição numa instituição da região, mas não foi fazer a prova. Dias depois, quando o período das matrículas já havia se encerrado e, como o tal curso não preenchera o total de vagas, o sujeito recebe um telefonema, chamando-o para fazer matrícula: o prazo havia sido estendido... Mas ele não havia feito vestibular! Mas, a propósito de que estes comentários? É a pergunta que muitos devem estar se fazendo. São só comentários, que a maioria das pessoas faz, ao longo do dia a dia: alguns por puro delírio fofocante... outros porque ouviram falar... Mas estes comentários foram motivados pelos tropeços que vimos ocorrendo no Enem. Prova faltando questões, prova com enunciado invertido em relação ao previsto no cartão resposta. O desencontro de notícias e a postura do MEC, de juízes e de entidades estudantis. Proibição de divulgação de resultados, boatos de cancelamentos total...parcial...não cancelamento.... Isso sem falar dos comentários que correram à língua solta pelas ruas e escolas: onde vamos parar com isso? Só no Brasil mesmo! Nem podia ser diferente, é coisa pública. E os comentários maledicentes se alternam. As línguas se posicionam pró e contra o Enem. E no meio do fogo cruzado permanecem os estudantes... vítimas e atores principais deste drama insolúvel e ainda indefinido: mais de uma centena de universidades, além de outros Institutos de Ensino Superior adotam, de alguma forma, os resultados do Enem, em seus processo de admissão... ou para carrear recursos federais para as bolsas oferecidas ao redor do Enem. E a imprensa faz seu jogo: há tantos anos existe o Enem. Em tais e tais países são realizadas provas semelhantes. Em tais outros países o acesso à universidade é automático após o ensino médio. Em tais e tais países também ocorrem problemas nos seus processos avaliativos... E isso só porque o Enem, que nasceu com o objetivo de avaliar o ensino médio (antigo segundo grau) ganhou novas roupas e cresceu nas suas finalidades. Em tudo isso se pensa, em tempos de um Enem de lambanças... Mas a discussão que não entra na pauta do dia, mas ajudaria a resolver os problemas, vai noutra direção: Porque as Universidades não ampliam a oferta de vagas? Porque os jovens, aparentemente, estão se afastando do vestibular? Porque milhares de estudantes, ano após ano, permanecem sem chances de entrar no ensino superior? Porque há sempre menos vagas que candidatos? O problema está no Enem, ou na falta de vagas? A disputa ao redor do Enem seria tão dramática, se mais vagas fossem oferecidas? Fala-se em carência de mão de obra qualificada, mas porque tanta dificuldade para ingresso no ensino superior sempre com menos vagas que candidatos? Porque tanta ênfase nos cursos técnicos (criação quase massiva, de institutos federais de ensino técnico)? Será que a melhoria e ampliação das universidades não supriria essa demanda? Porque os jovens estão migrando para os cursos técnicos: não acreditam no ensino superior? é mais fácil? ou se desiludiram por serem excluídos? E, a pergunta que teima em se manifestar: será que os caras, honesta e realmente, pensam em solucionar os problemas do ensino? Será que os caras estão levando a sério, em favor do contribuinte, o Ministério e as secretarias de Educação? Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;