Não é de hoje que as notícias sobre tragédias provocadas pelas chuvas ocupam grande espaço na mídia falada e escrita. Se não bastassem essas, ainda temos as outras provocadas por mineradoras.  Sempre se procura culpados pelas tragédias. Os empresários culpam as empresas de consultoria de riscos. Os governos estaduais, que assumiram em janeiro, se isentam de culpas, pois afinal de contas estão com pouco mais de 70 dias nos cargos. Os prefeitos já estão há mais tempo, com exceção do Covas quer assumiu em abril. Nessa história, o Dória joga o abacaxi para o Covas e vice-versa. Enfim, ninguém tem culpa de nada a não ser os moradores que ocuparam áreas impróprias para habitação, simplesmente porque são miseráveis e não têm onde morar.

De fato, a ocupação das várzeas é realmente temerária, pois o espaço definido pela natureza é dos rios que, de tempos em tempos extravasam-se e enchem suas margens com suas águas barrentas e não raro, repletas de lixo, móveis, pneus. Mas não é apenas o povo que ocupa esses espaços que deveriam ser áreas verdes e não avenidas, casas e prédios. Os próprios governos estaduais e municipais constroem marginais, prédios públicos e habitações populares, ocupando as várzeas que por motivos óbvios, são imóveis de baixo custo.

Além disso, existem culpados que estão há muito tempo sepultados. Foram os primeiros habitantes da Paulicéia e seus gestores. São Paulo como muitas outras cidades, foram construídas sem nenhum planejamento urbano e sem um mínimo estudo prévio sobre o impacto da impermeabilização do solo no ambiente. Assim, quando chove, as águas não encontrando árvores e relvas para contê-las, chegam aos rios, várzeas ou locais sem pontos de vazão.

Outro problema são os políticos, que mal orientados por engenheiros descompromissados com o impacto das águas, fazem com frequência, é a canalização dos córregos.  São Paulo têm centenas deles sob casas, avenidas e prédios. Esses pequenos cursos d’água deveriam estar abertos e limpos, o que ajudaria a equilibrar a vazão de água durante as grandes tempestades, evitando que todo aguaceiro se desloque para os rios ou locais sem pontos de vazão.  Córregos canalizados gera a impressão de saneamento e urbanização, mas são, em verdade, falsas soluções urbanas.

E assim, temos a grande área metropolitana quase totalmente impermeabilizada, sem canais abertos ou galerias subterrâneas para captar as águas de chuvas torrenciais, ocupada de forma irregular e insegura, gerando tragédias constantes com perdas humanas e econômicas de grande vulto. As soluções devem existir nas pranchetas de urbanistas e engenheiros, mas custam muito dinheiro e nenhum governo tem interesse em obras que extrapolarão os seus mandatos e consumirão grande parte dos recursos destinados a investimentos em infraestrutura. Viadutos dão mais visibilidade do que obras enterradas que ninguém vê.

Como o problema tende a se agravar com o passar do tempo, resta ao povo construir sobrados de três pisos, deixando o térreo para as águas ou comportas como solução paliativa. Enfim, é o eterno problema das cidades, que é sempre uma agressão ao meio ambiente pelo seu impacto na vegetação, no clima e na fauna. Nos reproduzimos exageradamente e nos concentramos sempre nos mesmos lugares e por isso pagaremos o preço e, infelizmente, com vidas e sonhos desfeitos.