Emerson é filho de Juze e Wilson Fittipaldi, tendo nascido na cidade de São Paulo em 12 de dezembro de 1946. Praticou esportes, freqüentou o colégio – a mãe diz que ele era o queridinho das professoras e com 5 anos venceu um concurso de ciclismo patrocinado por uma grande loja de brinquedos da época. Na hora de receber o premio, obviamente um brinquedo, ele indagou se não seria possível trocar por um “trofeuzinho”. Imagine. Se você visse o que o homem tem de troféus, hoje...São tantos, parece até uma idéia fixa. No programa Cara a Cara, Marilia Gabriela levantou a seguinte temática: você quer andar na frente de quem? É a tal historia – o ser humano nasce num universo em que o tempo e o espaço são infinitos; o mínimo que se tem a fazer é dar tudo de si. Talvez tenha sido esse o raciocínio de Emerson, ao esquivar-se da resposta com um sorriso. De resto, para uma melhor compreensão do assunto, nada mais producente do que inserir aqui e ali alguns dados essenciais sobre as suas origens. Wilson Fittipaldi esta para o automobilismo assim como Adolph Sax está para a musica. O segundo, lá pelo final do século XIX concebeu o saxofone, abrindo para a percepção e evolução musical uma nova possibilidade timbristica. Já o primeiro foi um dos mais expressivos e produtivos dentre os que contribuíram para a formação do automobilismo esportivo brasileiro.  E da inter-relação do Brasil com o circuito internacional. E o Brasil hoje ostenta no contexto Formula 1 nada menos que 8 campeonatos e 79 vitórias (até 1993), tornando-se simplesmente o maior, se excluirmos a Inglaterra, que soma sob o seu placar o resultado dos escoceses também. Do contrario estaríamos em primeiro sem maiores discussões. Assim, se o fato é que para correr lá fora sempre foi preciso queimar etapas aqui dentro, era preciso então constar no currículo do nosso automobilismo itens como Autódromo de Interlagos, Confederação Brasileira de Automobilismo, desenvolvimento de categorias, promoção de provas...De um lado Wilson brigava para que o esporte acontecesse e de outro para levar o acontecimento para as pessoas, não apenas segurando o microfone e narrando os eventos que ele próprio ajudara a criar mas também idealizando e tornando-se mesmo pioneiro em programas de radio e televisão dirigidos às corridas de automóveis. Para falar a verdade, a historia desse esporte no Brasil deveria considerar o seguinte apêndice: Antes e Depois de Wilson Fittipaldi. Por aí conclua-se o playground do Emerson.

Um universo que proporcionou de cara 2 leituras distintas: a tangível, do ambiente cheirando a gasolina, da ruidosa sinfonia de pistões e pneus rangendo, de homens envoltos em macacões e não raro trazendo nos lábios o sutil traçado de uma enorme satisfação – a de quem travou contato com essa espécie de Deusa chamada velocidade. E na outra ponta do mesmo convívio há o lado conceitual da coisa. Os valores. A arte de pilotar. Durante infância e adolescência nomes como Fangio, Ascari, Landi, Jim Clark ecoavam no seu cotidiano sussurrando-lhe os valores clássicos de um piloto puro sangue. Fangio, alias, foi quem lhe causou aquele gênero de imagem que se fixa na infância para nunca mais sair. Interlagos, 1957, uma das ultimas provas realizadas pelo argentino. No instante em que vislumbrou o Penta Campeão Mundial compreendeu o significado da expressão pilotar com estilo. Qual o estilo do Emerson? Ganhar troféus, você pode responder, sem incorrer em erro. Basta apenas somar mais algumas características e o perfil estará completo. Emerson começou como mecânico. O patrão chamava-se Wilsinho Fittipaldi, era exigente e ganhava todas. Com isso, a propósito, nascia o kart brasileiro, idealizado por Cláudio Daniel Rodrigues. Com isso, também, tinha inicio uma etapa de aprendizado vital para sua carreira. Para quem ainda não sabe, os pontos de similaridade entre um kart e um Formula 1 são maiores do que se imagina. Em contrapartida, o lado mecânico surge como instrumento otimizante ao seu desempenho. Só para dar uma noção, quando Emerson estava na Europa competindo na Formula Ford, não foram poucas as ausências de mecânicos em momentos cruciais. O que só veio multiplicar as horas na garagem, desmontando motor e suspensão, montando de novo, arranjando toda sorte de detalhes, que no final das contas serviram para ampliar seu conhecimento e discutir de igual para igual com os responsáveis pela manutenção da maquina.

Algo que, por si só, já dobra as chances das coisas darem certo, visto que a informação vem da boca de um piloto que também é mecânico. São, portanto, elementos dessa ordem que integram o estilo de Emerson Fittipaldi. O senso de conservação que ele tem do carro não é brincadeira. Muita gente ficou no meio do caminho por exibir uma super-direção, utilizando freios e motor com uma voracidade dispensável. Formula 1 é tigre de papel. Carece de sensibilidade e conhecimento para deixar o carro em condições de competir da primeira à ultima volta. E ganhar. Ou no mínimo pontuar. Porque é assim que ele conduz o negocio – pouco sensacionalismo e muita eficiência. E no caso dos componentes até aqui descritos serem insuficientes para traçar-lhe as habilidades, há ainda o ponto de vista do irmão, sintetizado em 2 palavras – talento natural. Emerson tinha 17 anos quando sentou num kart mesmo para valer. Nessa época Wilsinho estava ora pilotando uma Berlinetta, ora um Fiat Abarth e você pode apostar que o rendimento dele nunca ficava abaixo dos 100%. Se é correto afirmar que Emerson abriu as portas do circuito internacional para os pilotos brasileiros não é menos correto expressar que o irmão tenha lhe mostrado a única postura aceitável. Ou seja, o caminho é ser rápido. No mais, tanto abriu-se um novo campo para os nossos pilotos quanto as pegadas deixadas pelo autor na F1 foram bem nítidas – Bi Campeonato. Por isso os brasileiros que o sucederam não fizeram feio. Eles já tinham esse parâmetro estabelecido. Em 1967 sua reputação local tinha algo de invejável. Campeão de kart, campeão de Formula V, uma penca de vitórias noutras categorias e consequentemente cheio de moral para conquistar novos mundos. Mais um ano pelos autódromos nacionais e estava na hora de fazer as malas. Emerson chegou na Inglaterra em meados de 1969, tendo em mente o objetivo inequívoco de atingir o topo da montanha sem muitos tramites. O tempo gasto nas Formulas 3 e Ford teve significado similar ao do sujeito obrigado a mostrar a carteirinha para entrar no clube. Digamos, uma atitude protocolar, quase um gesto. Enquanto a maioria suava a camisa alem da conta nesses estágios compulsórios, ele passou por ali com a mesma dinâmica que mostrava em cada competição. Só na F3, por exemplo, foram 8 vitórias num total de 11 provas. E o calendário ainda não marcava 1 ano e meio de permanência na Europa quando o desdobramento natural dos fatos coloca-o no assento de um F1. Sessão de testes em Silverstone, pilotando o Lótus 49C, em junho de 1970. A partir daí, que mais o dono da equipe, Colin Chapman, poderia fazer? Nada, exceto escalar  Emerson para debutar no “Circo” dentro de um mês. E em meados de outubro, realizando sua quarta corrida no mais prestigiado campeonato automobilístico do mundo, ele cruza a linha de chegada sem ver nenhum aerofólio à sua frente – GP dos EUA, 12 de outubro de 1970. Trata-se, na verdade, de um marco. Durante os próximos 5 anos, quem estivesse disposto a seguir carreira nesse meio sofria o serio risco de chegar em casa de mãos abanando. Foi, o que se pode denominar de Período Emerson Fittipaldi, com todo o romantismo e veracidade aí inerentes. Campeão em 72, Vice em 73, Campeão me 74, Vice em 75. No mais, qualquer biografia seu respeito deveria obedecer os seguintes critérios: um homem que teve todas as chances possíveis, que aproveitou cada uma delas da melhor forma possível e que fez dessa feliz associação um arranjo de brilho raro e vastas proporções.