Em um boteco

Ganimedes sentiu um misto de raiva e alívio após a partida de sua esposa Lívia para um curso no exterior. De imediato repensou seu casamento. Não tinham diálogo e sexo era raro. Ela vivia mais na casa da mãe, que lhe era muito antipática. Não entendia bem, mas parecia ter raiva das mulheres que o cercavam. A única que prestava já tinha falecido. Era sua mãe. Só discordava dela em relação ao nome que lhe fora dado, mas ela lhe dizia que pertencia a um deus grego, que fora muito bem sucedido.

Um tanto perdido resolveu sair naquela noite de lua cheia, que brindava ao amor. Estacionou o carro na rua João Alfredo, onde as fachadas de bares das mais variadas cores e tamanhos eram bastante chamativas pelo excesso de iluminação. Escolheu um ao acaso. Nem o nome olhou.

Ao entrar no recinto, sentiu-se ofuscado por luzes que piscavam alternadamente como as de um pirilampo. A fumaça de cigarro fez arderem seus olhos. Nem sabia há quantos anos não frequentava um local assim. Ficou estonteado. Escolheu a única mesa vazia e sentou-se. Quando conseguiu acomodar a visão, olhou ao seu redor. Tudo lotado com homens e mulheres dos mais variados tipos. Ganimedes não conseguiu lembrar a última vez que sentiu tesão por uma mulher, depois de sete anos de casado.

Garçons corriam de um lado para outro com bandejas carregadas de petiscos e bebidas. Nas mesas, garrafas de cerveja e vinho eram constantemente substituídas. Para começar, pediu uma cerveja bem gelada.

Viu logo uma bonita morena sentada junto à porta, que lhe lançava olhares lânguidos. Não sentiu nada. Parecia imunizado aos olhares femininos. No mesmo momento se aproximou de sua mesa, um rapaz alto e bonitão. Perguntou se podia sentar com ele, apresentando-se com o nome de Adônis. Ganimedes concordou. Os dois entabularam diálogos sobre os mais variados assuntos.  Pediram uma garrafa de vinho após outra. Perdeu a conta de quantas beberam. Enquanto conversavam, sentiu uma mão alisando sua perna. Uma excitação o acometeu. Atribuiu-a às músicas românticas que um quarteto tocava.

            Lá pelas tantas, Adônis pegou a sua mão, se confessou homossexual e o convidou para fazerem um programa juntos. Em seguida dirigiu-se para o sanitário. Enquanto isso, Ganimedes reforçou a idéia de que seu casamento era uma farsa.

O companheiro retornou, olhou-o com carinho, abraçando-o. Ele sentiu que seu corpo tremia. Saíram os dois abraçados. Antes de entrarem no carro, olhou para trás e leu o nome do bar:

“O Bar da Virada”.