Em tempo, 2020

Dezembro já está e reina nos ouvidos de todos que passaram por alguma loja popular a pergunta que não quer calar: Então é Natal, e o que você fez? Em minha acusação, posso dizer que nem a árvore decorei. E, não fui a única.

“O tempo tem passado tão rápido que eu já deixo minha árvore de Natal montada dentro do armário”. É assim que o documentário Quanto tempo o tempo tem começa, o quê fez eu não me sentir tão única assim.

Passou muito rápido e a sensação é de não ter conseguido fazer tudo que gostaria. A lista é enorme. Antes de correr pro Spotify e se lamentar ao som de Lascia Ch’io Pianga, vale a reflexão do que temos feito com o nosso tempo.

Encerro o ano com a sexta tentativa de excluir de vez o Facebook do meu celular. Na penúltima, o sucesso foi de alguns meses, mas não pude escapar do peso das angústias criadas pela minha falta de respostas e convites não aceitos. Minhas etéreas desculpas.

Nós, brasileiros, gastamos quase 150 minutos por dia em mídia sociais em 2019, segundo a GlobalWebIndex. Em uma tradução matemática rápida, são cerca de 2 horas e meia por dia scrollando as telas dos nosso devices à procura de algo que faça despertar aquela emoção que vale um like. Estamos carentes de afeto e, por isso, consumimos cada vez mais frases inspiradoras. Amo muito tudo isso! #sqn

Para todo problema, nosso cérebro é capaz de encontrar inúmeras soluções. Scrum para fazer o dobro na metade do tempo, Pomodoro para ser mais produtivo, Kanban para garantir a continuidade e Kaizen para otimizar processos. E assim encontramos formas de domar o tempo e encontrar atalhos para lidar com as angústias de futuro.

Mas será que estamos tão despertos assim? Em maio, estive no Festival Path. Quando cheguei na sala, a palestra Re-Thinking Death já tinha começado, estava lotada; então, sentei no chão para acompanhar o debate. Ao microfone, Ana Mi, do @paliativas, instagram dedicado a ressignificar a vida de pessoas que convivem com o câncer, como ela. Saí antes de começar a soluçar. Tempo é vida, e vida precisa ser celebrada.

Agora, respire profundamente! Está quase acabando... o ano e esse texto. Mas, ainda dá tempo de preparar a sua lista de metas do próximo ano ou revisá-la, se você já se adiantou.

Enquanto eu procurava a explicação de Cortella sobre como a física quântica pode ajudar a resgatar nossa humanidade,  topei com a reflexão do livro “Por que fazemos o que fazemos?”, que ainda não li, confesso, mas que se encaixou perfeito: “Uma vida pequena é aquela que nega a vibração da própria existência (...) É quando se vive de maneira automática, robótica, sem uma reflexão sobre o fato de existirmos e sem consciência das razões pelas quais fazemos o que fazemos.  

E, então, o que vai ser do seu tempo? 

Julia Paula Silveira