Lucas Moraes de Azevedo (UNB/Universidade de Brasília - Campus Darcy Ribeiro – [email protected])

Introdução

Desde que somos crianças estamos expostos e presentes no mundo das artes, de várias formas artísticas expressas em televisão, cinema, música, literatura e no teatro. Quando estamos em contato com essas formas de expressão artísticas, seja como participante atuante da representação ou como um telespectador, somos convidados a entrar em um mundo totalmente novo, onde a vivência do personagem nos traz sensações e representações que nos abre a porta do “pensar”, onde rapidamente podemos nos colocar diante de tal situação, de tal maneira que simpatizamos como ela nos é apresentada, e abrindo também a nossa imaginação e a possibilidade do “e se”. Então a partir dali guardamos o que aprendemos e adquirimos tendo como base tudo que vimos e que achamos conveniente e então nos inspiramos um pouquinho e trazemos para a nossa personalidade o que gostamos no novo que acabamos de aprender.

A arte é necessária, é uma linguagem que mostra o que há de mais natural no homem; através da qual é possível verificar, até mesmo, que o homem pré-histórico e o pós-moderno não estão distantes um do outro quanto o tempo nos leva a imaginar. A arte é baseada numa noção intuitiva que forma nossa consciência. Não precisa de um tradutor, de um intérprete. Isso é muito diferente das línguas faladas, porque você não entenderia o italiano falado há quinhentos anos, mas uma obra renascentista não precisa de tradutor. Ela se transmite diretamente. E essa capacidade da arte de ser uma linguagem da humanidade é uma coisa extraordinária (OSTROWER, 1983, p .81)

 

Vygotsky (1984) nos afirma que durante o processo de desenvolvimento, uma criança deve ter seu psicológico atingindo de um determinado nível de amadurecimento antes que o processo de aprendizagem possa começar. Então logo nosso processo de maturação dá-se início antes mesmo do nosso contato com a sala de aula e a figura do professor escolar, durante esse período nosso mundo está limitado inteiramente ao nosso círculo social que engloba a família, e o ambiente social do qual estamos inseridos. Então a partir dali estamos em constante aprendizado com o que observamos e interagimos.

Piaget (1964/1978). Nos traz a sua crença de que há seis fases no desenvolvimento inicial, onde a imitação é a parte da construção da evolução do indivíduo (de 0 a 7 anos). Na  primeira fase estão os exercícios ou reflexos; Na segunda fase a imitação esporádica; Na terceira fase imitação esporádica de sons e movimentos visíveis que já pertencem ao repertorio; Na fase quatro: imitação de movimentos já executados pelo sujeito, mas de maneira visível para ele, e início de imitação de modelos sonoros ou visuais novos; Na fase cinco: imitação sistemática de modelos novos, compreendendo os que correspondem a movimentos invisíveis do próprio corpo; Na fase 6: Dá-se o início da imitação representativa e da imitação diferida.

E notória a importância do brincar durante o ensino-aprendizagem da criança durante a sua passagem pela aprendizagem escolar durante as series iniciais e o ensino fundamental, a uma serie de aspectos positivos que são apresentados pelo simples ato de brincar durante o seu desenvolvimento. Porém há se uma dificuldade em durante esse processo, pois muitos professores acabam por não saber como envolver atividades didáticas pedagógicas em atos de brincadeira que proporcione ao aluno essa interação e conexão com a aprendizagem. Trazendo então essa metodologia para sala de aula, o papel do educador se torna essencial durante essa ligação entre o fazer e ensinar.

O teatro faz parte da cultura do homem desde os tempos antigos, sendo assim o homem sempre se viu na necessidade de representações dos seus contextos e histórias do cotidiano, ressaltando também que o teatro leva em consideração a arte de educar, assim então o teatro é visto como formador de personalidade do homem. Já o teatro infantil desde o seu começo tinha esse papel de doutrinar as crianças e depois se encaixou no contexto artístico.

Quando juntamos todos esses elementos, chegamos a necessidade e a importância que o teatro tem no desenvolvimento da criança, tendo em vista uma vez que a partir de certa idade sua capacidade de assimilação e interpretação se faz presente, sendo assim juntando a didática e pratica pedagogia do brincar na sala de aula, trazer o teatro para a criança, tanto no papel de espectador como no papel de aluno, desencadeamos uma serie de ligações entre o aprender, brincar e se reconhecer como um ser pensante e atuante no seu processo de desenvolvimento.

Por que o teatro ajuda no desenvolvimento intelectual e físico da criança? Pensemos em milhares de coisas que somos expostos diariamente com narrativas e contextos como músicas, filmes, series e até mesmo as peças. Certamente você já brincou na sua escola com seus colegas depois de ter assistido aquele desenho na tv, ter visto um personagem da novela “Chiquititas” ou “Rebelde” e disse: -Eu sou fulaninho, e você é ciclano. Ali mesmo sem se der conta você já está atuando, e se baseando em uma personagem da qual você se espelhou ou achou algo interessante em sua personalidade que quer levar consigo. Temos inspirações constantes de bases que queremos quando crianças usar na famosa frase “Quando eu crescer”.

Mãos à Obra

Quando a criança está nesse estágio do desenvolvimento ela por si só já apresenta as características e um ponto chave da imitação, levando o teatro até a sala de aula estamos possibilitando a criança a se reconhecer e a observar todos os contextos e diferenças das quais ela vivencia. Peguemos como exemplo uma montagem de uma peça teatral e todas as suas etapas. Primeiro é apresentado a criança a história, a narrativa que as personagens estão, a situação, problema e a solução também são dadas as crianças, logo após no processo de criação, ela é apresentada ao ambiente em que a história está inserida, o espaço-tempo, a localização geográfica e os ambientes em que a história se passa. 

Durante esse processo de construção, há confecção de cenários e figurinos, onde além de pensar o ambiente, ou situação da história para o cenário a criança está trabalhando constantemente a sua imaginação, e o seu desenvolvimento motor, como também durante o processo de montagem de cena a criança usa seu corpo para a arte, a sua expressão e o jogo corporal de cena, então a partir disso também vamos a etapa em que a criança tem de desenvolver o personagem, partilhar de suas emoções e vivencias, a criança tendo em vista sua vivencia, pode ou não reconhecer tal situação, sendo assim, ela se encontra em processo de trabalho de personalidade onde ela divide o “eu” da “personagem” então sendo assim ali ela pode adquirir algo que seja relevante para sua personagem numa situação futura de problemas e cotidianos.

Quando levamos uma história/peça para a criança e preciso ter o cuidado de escolher o que está sendo apresentado a ela, há importância de se levar fatos reais e até mesmos sérios para preparação dela para as situações que ela possa vir enfrentar no futuro, tendo sempre em mente a preocupação do real e o irreal, é importante para criança o seu processo imaginativo de criação e desconstrução da realidade, da qual ela vai se inserindo aos poucos, e tendo noção de situações que se faram presentes, como por exemplo abordar temas como saúde, igualdade e contexto que tragam as suas diferença sociais e singularidades.

Tendo em vista essa série de desenvolvimentos, a criação da personalidade da criança se faz mais dinâmica e atuante durante o contato com a arte, pegando os aspectos de desenvolvimento motor, e cognitivo, vale ressaltar também a importância que isso traz para a sua comunicação como a oralidade, e a possibilidade de desenvolver um gosto amplo para leitura, onde o teatro pode ser a revelação de talentos, tanto para cênicas como artes plásticas, lembrando também que isso não envolve só o ato de atuar em palco, mas também a dança, a representação de poemas e interpretações do que ela entende  tendo em vista seu ponto de vista. Então ela também se encontra engajada no social, trabalhando em grupo e desenvolvendo brincando com seus colegas e partilhando vivencias e empatias com os problemas alheios e quando se fala em personalidade estamos falando também na separação a quebra entre a personagem que ela enxerga para o personagem mais importante e principal de toda essa história, o único e protagonista da sua própria história de desenvolvimento que se dá até a idade adulta que é o “Quem eu sou” se reconhecendo como seu próprio eu e sendo o autor de sua personalidade, baseando-se em fragmentos que aprendeu durante sua vivencia, com as histórias que leu, com as peças que assistiu e os contextos que desenvolveu ao longo de sua trajetória, e com isso o teatro ajuda a formação do indivíduo trabalhando sempre com o imaginativo e a relevância das realidades das quais por mais que não tenha vivido de forma real, viveu de forma figurativa e imaginaria, apenas brincando e aprendendo com o “Eu posso ser o que eu quiser ser com o teatro.”

Referências Bibliográficas

 BISSOLI, Michelle de Freitas. Psicologia em Estudo: DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA: O PAPEL DA EDUCAÇÃO INFANTIL. 2014. 11 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação, Universidade Federal do Amazonas, Manaus-AM, Brasil, 2014. Cap. 0. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n4/1413-7372-pe-19-04-00587.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2014.

MORAES, Silmara Lídia. A IMPORTÂNCIA DO TEATRO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA. 10 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pedagogia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná/Pucpr, Arcoverde, Cap. 1. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/629_639.pdf>.

PEREIRA, Sandra Márcia Campos. TEATRO INFANTIL: UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. 0000. 22 f. Tese (Doutorado) - Curso de Doutoranda em Educação, Universidade Estadual Paulista, Vitória da Conquista, 2013. Cap. 1. Disponível em: <http://periodicos.uesb.br/index.php/aprender/article/viewFile/3813/pdf_140>.

VYGOTSKY, L. S. (1984). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

PIAGET, J. (1978). A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar. (Texto original publicado em 1964)