EM NOME DA CRUZ

Desde a crucificação de Jesus, pelos romanos, tem-se tomado o símbolo da cruz como signo santificado, protetor e redentor da humanidade.
Jesus Cristo, ali pregado, é reverenciado perenemente nessa condição, a de estar eternamente crucificado ou sendo supliciado, ou morto, quando na verdade há muito já se libertou daquele artefato de suplício e morte de que se serviam os romanos para executar suas vítimas.
Infelizmente, ainda hoje, toma-se a cruz como símbolo sagrado, quando na verdade é apenas um signo de morte ou execução do império romano que se tornou conhecido mundialmente a partir do suplício de Jesus Cristo.
Essa tradição fez com que a cruz fosse tomada sempre, em defesa dos viventes, contra seus inimigos, entre os quais e principalmente o demônio.
Com o tempo os tipos de cruz se multiplicaram entre os povos, conforme suas culturas e filosofias, e o cinema a consagrou, nos filmes de vampiro, como amuleto protetor contra essa criatura abominável, e todos os cristãos a ostentam como insígnia identificadora de sua obediência e religiosidade em relação a Cristo, substituindo a sua própria imagem.
Mas a cruz dos romanos, por si mesma, como a guilhotina para os franceses, representa apenas a lembrança de um instrumento de suplício e execução, em forma de dois caibros entrecruzados. Em forma de T (ou Tau), é a cruz filosófica dos gnósticos, ou a cruz ansata, em forma de tope dos rosacruzes, conhecida como o símbolo da vida entre os egípcios.
Em prata, ouro ou madeira trabalhada, a cruz é hoje comercializada como objeto sagrado e mais utilizada como jóia ou adorno do que propriamente como distintivo de fé, visto que é livremente usada por diferentes tipos de indivíduos, independentemente de sua índole, crença, filosofia ou religião.
Em todos os formatos, e apesar de seus diferentes significados simbólicos, a cruz como símbolo sagrado teve a mesma origem, embora de modo relativamente anacrônico, a partir daquele fato que ficou registrado no Novo Testamento da doutrina cristã como a crucificação de Jesus.
Mas para Jesus, a cruz não teria hoje nenhum significado ou poder, nem Ele a usaria como adorno ou distintivo pendurada ao pescoço, embora possua, particularmente, todo um santo significado religioso para os Seus seguidores que às vezes O substituem por seu madeiro.
Em nome da cruz, muitas coisas importantes aconteceram, desde a organização das Cruzadas, a criação da Ordem dos Templários e a ação heróica de Santa Joana D?Arc na Guerra dos 100 Anos, até a benemérita ordem assistencial da Cruz Vermelha. Mas também se perpetraram, e continuam a se praticar, em nome da cruz, as maiores barbaridades.

Luciano Machado