Em Favor da Censura de Costumes
Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 18/09/2025 | PolíticaA censura. Esta velha senhora, que nos acompanhou desde o estabelecimento do Estado do Brasil, durante o sistema de Capitanias Hereditárias, e até a entrada em vigor da Constituição de 1988, ainda teve seus resquícios de existência durante a década de 1990. Lembro-me muito bem que a Rede Globo, no início daquele decênio, difundiu a chamada de um filme que seria exibido no horário nobre, intitulado “Adoradores do Diabo”. Um detalhe: a exibição ocorreria cerca de uma semana após um crime bárbaro ser cometido no Sul, quando uma criança foi, de fato, assassinada por uma seita de fanáticos. A família da vítima recorreu ao Poder Judiciário, que vetou a exibição.
Não estou, aqui, a falar de censura política, mas de costumes. Censura, justa sim, sobre uma “obra”, e cuja motivação de pretensa exibição chocou todo o país. Essa censura de costumes, sobre os aspectos mais perversos da “cultura” dos EUA, nos faria muito bem. Vejam de que tipo de país importávamos filmes a serem acessados, por pessoas de todas as idades, até as bem-vindas restrições de horário postas pelo Ministério da Justiça. Um conteúdo que sempre teve na violência extremada, na cultura da vingança sem limites e na imposição de um modo de vida extremamente danoso, sim, aos nossos costumes então mais pacatos, a força de uma audiência que, aqui como acolá, não se enquadra financeiramente num sistema de consumo que tudo permite a quem tem muito dinheiro, excluindo os chamados “fracassados”. Daí, há o mecanismo de compensação para se alcançar posses (inclusive sexuais) similares aos dos “heróis”, tão e normalmente muito mais criminosos que aqueles que industrialmente exterminam, em situações tão absurdas quanto inverossímeis e patéticas. Se querem uma censura de conteúdos sexuais, devemos também ter a censura de cenas violentas.
Por um acaso, não creio que seja coincidência o fato de o país com o maior número de assassinos psicopatas do planeta serem os EUA. Do mesmo modo, o militarismo lá reinante, sustentado pela ingenuidade de pobres soldados que se alistam para “conhecer o mundo”, algo que jamais conseguiriam na vida civil, e mesmo que isso lhes custe suas vidas ao se tornem “Rambos” de araque numa guerra. Vejam que eles nem precisam de um alistamento militar obrigatório, algo que no Brasil, felizmente há (sim, eis que nossa cultura não é militarista a ponto de fazer com que a imensa maioria dos jovens queiram se aventurar nessa selva). Mas, aqui, os vícios e tragédias que lá ocorrem foram, desafortunadamente, importados. Quando não podem trabalhar, nossos jovens migram para os horrores do tráfico, impulsionados por essa cultura de merda que nos é imposta: afinal, assim terão um status que jamais assumiriam como garçons, tendo as mulheres que quiserem e os carros que quiserem, frutos de fortunas ilícitas construídas por meio das drogas, já que, para eles, vale tudo a fim de alcançar a fama dos inconsequentes de Hollywood. Do mesmo modo, quando nem desta forma conseguem, se populariza, aqui, um fenômeno originário de lá, que são os massacres em escolas: se não têm dinheiro, mulheres e carros, ao menos alcançam a fama e a imortalidade, pois todos deles lembrarão.
Por isso, peço que revisem seus mais sinceros conceitos sobre a censura de costumes. Do contrário, nos transformaremos numa nação de paranoicos e psicopatas, como é aquela. Revisemos não somente nossos conceitos sobre a necessária censura de costumes, mas os excedentes nos nossos níveis de consumo, que estão na origem de toda essa engrenagem assassina. Quem quer, legitima e corretamente, censurar sexo, deve também, censurar a violência midiática.