Eles também são educadores...
Pense em uma escola. Salas de aulas, cantina, banheiros, jardins, secretaria, biblioteca, dispensa e, é claro, professores e alunos. Para quem ver de fora parece que a instituição escola é formada apenas por esses segmentos. Porém, não podemos esquecer algumas categorias profissionais que são peças fundamentais para o funcionamento da unidade escolar: porteiros, vigias, merendeiras, encarregados dos serviços gerais, funcionários do quadro administrativo e profissionais ligados à saúde.
Visando ampliar a reflexão sobre a importância desses profissionais, hora citados, é pertinente fazermos alguns questionamentos. Por que eles são tão importantes? Quais as funções organizadas por eles? Como eles se sentem? Por que eles são "esquecidos"? Quais as principais dificuldades que estes profissionais enfrentam na sua jornada de trabalho?
Para que possamos compreender melhor a relevância destes profissionais na educação, Soratto e Olivier-Heckler sob a coordenação do Codo (2006, pág. 122) trazem uma contribuição relevante.
O cotidiano de uma escola não se faz somente com professores, na realidade, somando-se ao trabalho destes os de muitos outros profissionais para que resulte como fruto desse esforço coletivo, criado a partir da diversidade profissional, o êxito de cada dia letivo. Para tanto no interior de uma escola faz-se necessário representantes de uma infinidade de categorias (...).
Por isso, nossa intenção é refletir e trazer à tona junto aos profissionais/educadores e a sociedade o quanto esses profissionais são significativos nas tarefas que executam, por mais simples que elas sejam. Assim, esperamos que esse texto sirva de instrumento de reflexão para que olhemos para dentro de nós mesmos e comecemos a mudar nossa postura pedante, autoritária e excludente perante tais profissionais.
A partir desse pressuposto, convido a todos para fazermos um breve "passeio" pelas dependências de uma escola qualquer. Iniciemos pelo portão de entrada da escola. Ali encontramos um profissional, homem ou mulher, recepcionando os alunos, pais, visitantes. Mais do que isso, tem a responsabilidade de cuidar da disciplina dos alunos na chegada e saída, evitando tumultos e contendas em frente à escola. E não para por aí, encaminha correspondências recebidas, dá informação a respeito da dinâmica pedagógica da escola, impede que os gazeteiros saiam da escola sem permissão antes do horário. Também faz parte de sua alçada evitar a entrada de "visitas indesejadas" no horário de aula.
Caminhando um pouco mais, encontramos a secretaria da escola ou um espaço improvisado para este setor com alguns funcionários executando tarefas administrativas e burocráticas como, por exemplo, matrículas de alunos, arquivamento de documentos, elaboração de transferência, preenchimento de boletins com as notas dos alunos, preenchimento de diários com os dados dos alunos para os professores, produção de declarações, participação em reuniões administrativas, organização de atas e documentos oficiais a serem remetidos para os diversos órgãos vinculados à Secretaria de Educação. Não restam dúvidas, essas tarefas são fundamentais para que haja um desdobramento na ordenação e no funcionamento do estabelecimento.
Continuando neste passeio, adentrando um pouco mais, encontramos a cantina. Logo, nos deparamos com algumas senhoras desempenhando o papel de merendeiras. Uma coisa é certa, essas funcionárias são as primeiras a chegarem e as últimas a saírem da escola. Pois para que os alunos tenham uma merenda e/ou um lanche gostosos e preparado com carinho, é preciso acima de tudo, escolher, lavar, separar, cortar, cozinhar, mexer, fritar os alimentos do cardápio daquele dia. Tarefas que requerem esforço e certamente levam ao cansaço, mas nada que um elogio ou um gesto de gratidão por parte do corpo docente e discente que não recompense todo esse "trabalhão".
Não pense que acabou, enquanto professores e alunos voltam para suas salas de aulas após o intervalo, essas "guerreiras" têm mais trabalho pela frente. É hora de deixar tudo limpo e arrumado para o próximo turno e, para isso, é preciso lavar pratos, copos, talheres, e tachos. Além disso, quando professores e alunos vão embora depois de mais um dia de ensino e aprendizagem os afazeres continuam. São salas de aulas, corredores e pátio para varrerem e banheiros para serem lavados. Tudo isso, para que os próximos alunos sejam bem recebidos.
Podemos dizer que nosso passeio pelas dependências da escola tenha chegado ao fim, porém não podemos ignorar o vigia. Um funcionário solitário, pois trabalha à noite cuidando da segurança da escola, evitando atos de vandalismo e depredações. Tem ainda por incumbência desligar as luzes que não estão sendo utilizadas, verificar se todas as portas e portões estão fechados, detectar se há problemas na parte elétrica e hidráulica para comunicar à equipe gestora no dia seguinte. Sua participação é tão discreta que muitas vezes não sabemos nem o nome dele, onde mora, o que mais gosta, quais são seus sonhos e o que pensa.
Caso sua unidade escolar, ou você que faz parte de uma dessas categorias profissionais não possuem o perfil do trabalhador, outrora descritos, mas sim de mais um "empregado", convidamos a todos para refletirmos sobre a concepção de que a Educação, sobretudo a escolar, é formada pela seguinte tríade: professores, alunos e funcionários? porteiros, merendeiras, auxiliar de serviços gerais, vigias e pessoal da secretaria da escola. Estes devem ou deveriam ter a mesma importância e valorização das demais categorias constituídas dentro e fora da escola.
Assim sendo, vale lembrar que para primeiro ser valorizado e reconhecido tanto no campo pessoal como no campo profissional, você precisa dar primeiramente valor ao seu trabalho. Ou seja, cumprindo com seus deveres e tarefas do cotidiano escolar com dedicação, carinho, amor e destreza, portanto, o simples ato de cuidar da disciplina no portão da escola ou chamar a atenção de um educando para seu comportamento na fila da merenda é ter em mente que está contribuindo para a educação e a formação de um cidadão, é o que acredita o porteiro e a auxiliar de serviços gerais da Escola Estadual Severino Farias da cidade de Surubim, Pernambuco. Codo e Soratto ( 2006, pág. 366) confirmam:
A parte da educação sob a responsabilidade destes profissionais precisa ser reconhecida. Afinal de contas, de que adianta um filho com raciocínio lógico bem desenvolvido, com conhecimentos gerais atualizados, com linguajar perfeito, com noções claras sobre história da humanidade, com espírito científico, com talento artístico despertado se, por outro lado, não souber respeitar um colega, se não souber como chamá-lo para divertir-se com ele, se não souber partilhar uma refeição ou uma guloseima cobiçada por todos, se não souber como receber e ofecerecer a companhia especial que cada um de nós é, mesmo sem muitas vezes percebermos? A demanda que atinge estes profissionais e a responsabilidade que lhes cabe não é nada desprezível, se nos for possível reconhecer e valorizar as pessoas e os trabalhos que realizam.
Concordamos com eles, pois educar é muito mais do que ensinar conteúdos de língua portuguesa, matemática, geografia, é ensinar princípios ético e morais para que possamos ter um mundo mais revitalizador.