Eles estão morrendo, nós olhando
Publicado em 12 de agosto de 2009 por Emanuel Moura
De acordo com estudo feito pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), em parceira com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e com o Observatório de Favelas, pelo menos um em cada 500 adolescentes brasileiros será morto antes de completar 19 anos.
O levantamento é baseado nas informações sobre jovens de 12 a 19 anos de 267 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. Pela primeira vez foi calculado o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que mede a probabilidade de um adolescente ser assassinado. O cálculo prevê que 2,03 jovens em cada mil serão vítimas de homicídio.
Na prática, isso quer dizer que em um período de seis anos, entre 2006 e 2012, podemos totalizar mais de 33 mil jovens mortos. Sendo que a possibilidade destas mortes serem provocadas por armas de fogo, é três vezes maior na comparação com outras armas.
E daí? Normalmente, o que acontece é que diante de informações como essas o máximo que fazemos é nos impressionarmos com os números, virarmos a página do jornal ou clicar no próximo link e negligenciamos os fatos. Esquecemos que as estatísticas apontam para seres humanos. Gente de ossos, nervos, carne e pele iguais a qualquer um de nós. Embora os números sejam frios, eles falam de pessoas reais, que não são inferiores, menores ou incapazes.
Estes números apontam para o grande volume de sonhos que podem deixar de se concretizar. Falam (ainda que não ouçamos) dos inúmeros avanços sociais, tecnológicos e humanos que poderíamos viver se não perdêssemos estes jovens tão cedo e por motivos tão fúteis.
Morrem por causa da cor da pele ou do sexo. Despedem-se da vida, por causa do furto de um tênis, bicicleta ou jaqueta. Perdem a chance de projetar, construir, lutar, vencer, crescer como cidadão do mundo e como imagem e semelhança do Criador.
Enquanto morrem, nos perdemos em discussões inúteis, tão idiotas quanto os argumentos para defendê-los. Nos fechamos em um mundo medíocre que prefere condenar estes jovens a estender a mão e ao menos tentar ajudá-los.
Ainda há quem queira defender uma pregação monástica do tipo que jovem precisa estar única e exclusivamente dentro da igreja fazendo jejuns, orações e longe da TV, do campo de futebol, dos pontos de encontro da juventude. O que fazemos, de fato, para alcançar esta juventude com a boa notícia do evangelho de que Deus as ama e de que cada um pode ter um futuro muito melhor se dedicarem suas vidas a Ele?
Ao contrário de ficarmos apenas olhando a multidão de jovens sem perspectivas e darmos a cada um o veredicto de condenação, deveríamos dizer-lhes que, mesmo com o passado e presente deles manchado e destroçado, o futuro continua intacto e pode ser editado com um script de alegria, fé, esperança e amor.