Eles Abusam E Carimbam Seus Abusos. E Ainda Ficamos Parados?
Publicado em 28 de outubro de 2008 por Robson Fernando
Artigo escrito em fevereiro de 2008
Essa semana, eu reparei no ônibus que os cartazes divulgando as tarifas mais caras tinham estampados os logos da EMTU e do Governo de Pernambuco. Pelo menos essas entidades ainda têm coragem de dar a cara à tapa. Imediatamente pensei: soa como um governo autoritário dizendo por alto-falante "Aumentamos a passagem dos ônibus, e agora vocês terão que agüentar. Conformem-se ou míngüem na lisura, seus avarentos! Um comunicado do Governo de Pernambuco". Isso (os cartazes) para nós não-conformistas soa como imposição de medida autoritária e até como provocação, mas para o povo é mais um comunicado comum que deve ser aceito e seguido.
A questão é o conformismo e alienação do povo. É irritante até, mas temos que lidar com a coisa com calma. É de fazer "pegar ar" quando a multidão dos ônibus fica lá, quieta e calada com tanta chibatada que leva. É como um pastor que obriga os ovinos de seu rebanho a correrem sem parar uma distância cada vez maior. Segundo esse pastor, ou corre o que ele manda ou fica sem comer. Leva ele a vantagem que os ovinos não têm capacidade de raciocínio social para se rebelarem contra seu autoritarismo.
E é algo muito parecido o que acontece com o povo. A diferença é que a corrida é substituída pelo desembolso de dinheiro, uma tunga que se vê cada vez maior, e o "pastor Governo" aplica chibatadas extras - permitindo o sucateamento da polícia, persistindo com um transporte coletivo intragável, se omitindo na dignificação das favelas e roças pobres, etc.. Para a supressão do raciocínio social, vale a ajuda independente (alguns suspeitam conspiradamente de apoio governamental à subcultura alienante, mas não há provas disso) das emissoras de comunicação com atrações fúteis - novelas, bebebê, filmes americanos de tiro e pancadaria, etc. -, manipulação de noticiário sobre protestos, música de qualidade questionável para preencher o vazio intelectual com água de fossa, etc.. Sem falar na negação evidente de incrementação educacional das programações televisivas. Como conseqüência da lavagem cerebral cultural-intelectual, vivemos o que estamos vendo aí: o governo faz o que bem quiser e ainda tenta atiçar (não-intencionalmente) a indignação das pessoas ao estampar seu logo nos abusos oficiais praticados.
Será que é certo que você veja aquilo, que o governo teve a ousadia de assinar embaixo, e fique quieto? É ético isso, é moralmente certo que você não faça nada?
Vou pôr mais lenha na sua fogueira cidadã:
Lembro de 1994, quando eu era novinho. A passagem custava 33 centavos (fonte: EMTU). E de lá pra cá o real não se desvalorizou tanto assim generalizadamente. É certo, no entanto, que o preço dos carros se multiplicou, o de petróleo e derivados alçou vôo, e outros insumos tiveram graves inflações. Mas é certo deixar como está, deixando sem controle tarifas administradas? Lembro que ricos podem arcar com custos mais altos, mas pobres são extremamente mais frágeis perante majorações de preços. Considerando que a inflação do ônibus recai sobre todos independente de classe econômica, isso caracteriza uma omissão do Estado perante todos os quatro Objetivos Fundamentais da República (Constituição Federal, Artigo 4º). E quando um governo "rasga" a constituição e se omite perante as nossas dificuldades, isso deveria causar no mínimo uma comoção nacional. Nem precisa ser um conhecedor de Constituição, basta saber o óbvio da piora da concentração de renda. Mas não é o que acontece.
Então eu insisto: vamos proteger nossos interesses sociais e cobrar o cumprimento da Constituição. Se um governo "rasga a bandeira" e passa seus retalhos na nossa cara, como fazem ao "decorar" os cartazes das passagens mais caras com seus logos, é dever nosso reagir. Caso contrário, o povo estará sendo um incrível covarde. Ou melhor, já está sendo covarde por dar prioridade ao bebebê e ao carnaval em detrimento de seus interesses coletivos de uma vivência mais justa neste mundo movido a dinheiro. E negando a liderança de gente ativista de ideologia utópica e impraticável e ao mesmo tempo em que aceita calado um governo cuja ideologia prática quebra promessas e oprime.