Histórias da vida  I

 

 

Ele queria se casar. Ah como queria... Estava ansioso. Todos se casavam, menos ele. Até o senhor Antenor, dono do bar da esquina, já meio velhão se casou com a Maroca, que não era de se jogar fora e se jogassem, alguém viria pegá-la. Talvez para jogá-la fora novamente. E ele, ninguém queria? Ele não entendia. Pensava ser bonito, bom partido, primo de padre, etc e tal.

De tanto reclamar, sua família decidiu em reunião, que ele se casaria. Fariam um casamento bonito, com direito a festa, fotografias, filmagens. Tudo muito bem feito, nos “trinques”.

Mas e a noiva? Quem seria a noiva? Cada um deu sua sugestão e as brincadeiras e risadas da família correram soltas noite adentro. Finalmente, lá pelas tantas da madrugada, foi resolvido quem seria a noiva, e por unanimidade de votos.

Seria... Seria tio João, aquele tio baixinho, muito engraçado, disposto a tudo. Menos a seguir viagem com o noivo.

Foi uma briga geral para decidir quem daria a notícia a ele. Todos queriam. Todos. Mas optaram pelo primo padre, que conseguiria dar a notícia sem rir. Seriamente. Como se possível fosse.

Domingo, todos juntos para um churrasco. Era o dia D.              O rapaz foi chamado de lado pelo primo padre. Precisam conversar e a notícia era ótima. Não é que ele foi pedido em casamento? E a noiva era uma gracinha! Mas só havia um pequeno problema... Ela só poderia chegaria no dia do casamento. O noivo todo feliz, saiu gritando para que todos ouvissem, que ele iria se casar. Que ela chegasse só dia do casório, mas que chegasse, só isso bastava. Ele estava muito feliz. Ô se estava!

O dia das núpcias amanheceu ensolarado. Ótimo, pois o casamento seria ao ar livre. Mesas arrumadas no quintal, cobertas com toalhas bonitas, arranjos de flores, os músicos se posicionando, o pessoal chegando. Era gente prá dedéu.

O noivo estava bonito, cheiroso, muito feliz à espera de sua amada, que de repente surge, ao som da marcha nupcial e de risos abafados.

Ô coisa linda de noiva!

Casamento (?) civil. A noiva era de outra religião. Ele não se importou. Queria casar a qualquer preço.

Depois do sim, os cumprimentos, o povo todo a dançar, a se fartar de comida e de risadas. Queriam saber como é que a noiva iria se safar da viagem de núpcias.

Chega à hora da valsa. O noivo enamorado abraça a noiva, cola seu rosto barbado no dela não tão macio como ele pensava e sai a dançar pelo salão. Dá-se conta também que a cintura da noivinha não é tão fina como ele supunha. Mas, deixa prá lá... Afinal, ela é sua mulher, ele está nas nuvens e a hora da viagem que há tanto tempo ele sonha, está chegando. Prá que ir longe, dizem todos. Ela não é daqui, não conhece a cidade, fiquem na pensão de dona Nena.

Mas acontece que a noiva está aflita com o modo de o noivo apertá-la enquanto dança. Sente sua respiração no cangote. E o que ele diz baixinho em seu ouvido? Ela sente uma vontade enorme de abrir um buraco na terra e se enfiar. “Por que fui aceitar essa de ser a noiva? Aprontaram com ele e comigo.

Olha para os lados à procura de ajuda e só vê sorrisos marotos, cotoveladas uns nos outros, a esperar sei lá o que. Gente malvada. Engraçado para todos, mas para ela, tremenda saia justa.

Seu pensamento está a mil por hora. O que fazer? Pedir socorro a quem?

Mas, de repente, eis que surge uma alma bendita que a socorre.

O telefone toca, ela é chamada e sai correndo. Volta triste, já com a mala na mão, dizendo que alguém de sua família está à morte e ela tem que ir embora.

E foi, para nunca mais voltar. Enquanto o noivo... Ora o noivo. Ele se casou, não é? Então...

 

 

Heloisa, 18 de março de 2010