EFICIÊNCIA E INOVAÇÃO NA GESTÃO DE SAÚDE PARA PACIENTES GERIATRICOS COM DOENÇAS CRÔNICAS: Estratégias Baseadas em Tecnologia e Telessaúde
Por TRICIA MARCELA CRUZ SILVA GUERRA | 23/04/2025 | SaúdeEFICIÊNCIA E INOVAÇÃO NA GESTÃO DE SAÚDE PARA PACIENTES GERIATRICOS COM DOENÇAS CRÔNICAS:
Estratégias Baseadas em Tecnologia e Telessaúde
Tricia Marcela Cruz Silva Guerra[1]
RESUMO
O envelhecimento populacional e a crescente prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) revelam a urgência de adotar estratégias inovadoras para a gestão em saúde voltada à população geriátrica. A complexidade dos cuidados requer soluções que integrem tecnologias digitais, telessaúde e práticas centradas no paciente, promovendo a eficiência e a humanização do atendimento. A adoção de ferramentas tecnológicas e a reformulação dos modelos assistenciais têm se mostrado essenciais para ampliar o acesso, reduzir custos e garantir a continuidade dos cuidados em diferentes níveis de atenção. O objetivo deste estudo é analisar como a inovação e o uso de tecnologias, especialmente a telessaúde, têm contribuído para a gestão eficiente da saúde de pacientes geriátricos com DCNT, destacando o impacto dessas transformações no sistema de saúde. A coleta de dados foi realizada em bases científicas nacionais e internacionais nos meses de fevereiro e março de 2025. As palavras-chave utilizadas foram “Doenças Crônicas Não Transmissíveis”, “Saúde Geriátrica”, “Telessaúde”, “Inovação em Saúde” e “Gestão em Saúde”, sendo selecionados 8 artigos que atenderam aos critérios estabelecidos para a presente revisão. Conclui-se que o uso de tecnologias emergentes na atenção geriátrica representa um avanço na gestão em saúde, promovendo eficiência, acessibilidade e melhoria na qualidade de vida da população idosa, além de fortalecer a capacidade do sistema de saúde frente aos desafios futuros.
Palavras-chave: Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Saúde Geriátrica. Telessaúde. Inovação em Saúde e Gestão em Saúde.
ABSTRACT
Population aging and the increasing prevalence of chronic noncommunicable diseases (NCDs) highlight the urgent need to adopt innovative strategies for healthcare management aimed at the elderly. The complexity of care requires solutions that integrate digital technologies, telehealth, and patient-centered practices to promote efficiency and humanized care. The adoption of technological tools and the restructuring of care models have proven essential to expand access, reduce costs, and ensure continuity of care across different levels of the health system. The objective of this study is to analyze how innovation and the use of technologies—especially telehealth—have contributed to the efficient management of healthcare for elderly patients with NCDs, emphasizing the impact of these transformations on the health system. Data collection was conducted through national and international scientific databases in February and March 2025. The keywords used were “Chronic Noncommunicable Diseases,” “Geriatric Healthcare,” “Telehealth,” “Healthcare Innovation,” and “Healthcare Management.” A total of 8 articles met the inclusion criteria for this review. It is concluded that the use of emerging technologies in geriatric care represents progress in health management, promoting efficiency, accessibility, and improved quality of life for the elderly, while also strengthening the health system's capacity to face future challenges.
Keywords: Chronic Noncommunicable Diseases. Geriatric Healthcare. Telehealth. Healthcare Innovation and Healthcare Management.
1 Introdução
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são caracterizadas por um conjunto de enfermidades com múltiplas causas e fatores de risco, apresentando longos períodos de desenvolvimento e evolução prolongada. Além disso, possuem origem não infecciosa e podem levar a comprometimentos funcionais. Representam um desafio significativo para a saúde pública, afetando, em grande parte, a população idosa, resultando na perda da funcionalidade, alterações no estilo de vida, necessidade de adaptação de hábitos e prejuízos à capacidade cognitiva (CAVALCANTE et al., 2023).
As DCNT correspondem a aproximadamente 70% das mortes globais, sendo as enfermidades cardiovasculares as principais responsáveis, seguidas por neoplasias malignas, doenças respiratórias crônicas e diabetes. Esses grupos representam mais de 80% dos óbitos prematuros (indivíduos entre 30 e 69 anos) atribuídos às DCNT (MORAES; SHIRASSU; ANTONIO, 2023).
Com o envelhecimento populacional e a predominância das doenças crônicas, é comum que todos os níveis de atenção à saúde sejam mobilizados, sendo que nenhum deles pode ser considerado resolutivo no sentido tradicional de cura. Soma-se a isso a necessidade crescente da atuação de diferentes especialidades médicas e outros profissionais da saúde em diversos pontos da rede assistencial. Em especial na atenção primária, observa-se uma ampliação das funções dos serviços, que passam a incorporar, com mais frequência, ações sociais e de apoio comunitário (OUVERNEY; NORONHA, 2013).
A gestão do cuidado refere-se ao modo de disponibilizar tecnologias em saúde, considerando as necessidades individuais de cada paciente e o contexto em que ele se encontra. (CAVALCANTE et al., 2023).
Diante desse fato, torna-se necessário analisar de que forma o empreendedorismo e a inovação tecnológica, especialmente por meio da telessaúde, têm contribuído para aprimorar a gestão em saúde de pacientes geriátricos com doenças crônicas. Esta investigação busca oferecer subsídios relevantes para gestores, empreendedores e formuladores de políticas públicas na adoção de práticas eficazes, capazes de ampliar o acesso, a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde voltados à população idosa.
2 Desafios na Atenção à Saúde de Idosos com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)
As DCNT em idosos dependentes estão relacionadas à perda da funcionalidade e representam a principal causa de disfunção na maioria dos países da América do Sul, incluindo o Brasil. A disfunção envolve déficits, restrição de atividades e dificuldades na participação social e comunitária. Além disso, as DCNT geram um alto custo econômico tanto para o sistema de saúde quanto para a sociedade, afetando negativamente o desenvolvimento dos países. Outro desafio é a formação dos profissionais de saúde, pois menos de 15% dos cursos de graduação na área da saúde nas Américas e menos de 10% das principais especialidades médicas contemplam o Envelhecimento e a Saúde Geriátrica em seus currículos (FIGUEIREDO et al., 2021).
Os quatro principais fatores que elevam o risco de desenvolvimento das DCNT incluem o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, a alimentação inadequada e o sedentarismo. Esses elementos podem ser reduzidos por meio de mudanças comportamentais e intervenções governamentais, que envolvem a implementação de regulamentações, a limitação da comercialização, a diminuição do consumo e a restrição da exposição a produtos prejudiciais à saúde (MORAES; SHIRASSU; ANTONIO, 2023).
Os países desenvolvidos registram as maiores taxas de incidência de DCNT, contudo, devido às desigualdades no acesso à alimentação, educação e assistência em saúde, 80% das mortes ocorrem em nações de baixa e média renda, sendo que mais de 30% desses óbitos acontecem em indivíduos com menos de 60 anos. Globalmente, quatro grupos de DCNT — Doenças do aparelho circulatório (DAC), neoplasias ou cânceres (CA), doenças respiratórias crônicas (DRC) e diabetes mellitus (DM) — são responsáveis por 80% das mortes associadas a essas enfermidades (SIMÕES et al., 2021).
O modelo assistencial proposto por Leavell & Clark (1965), que organizava a prevenção e o cuidado em saúde por meio dos níveis primário, secundário e terciário, passa a exigir uma revisão significativa. A segmentação do atendimento às necessidades das pessoas por nível de complexidade torna-se cada vez mais limitada, pois o cuidado deve ser ofertado no nível capaz de responder adequadamente às demandas do indivíduo, ainda que isso envolva, em determinados estágios da doença, níveis de alta complexidade. Isso não invalida o fato de que a maior parte dos atendimentos continuará ocorrendo nos níveis inferiores do sistema de saúde, mas destaca a necessidade de flexibilidade e integração entre os níveis (OUVERNEY; NORONHA, 2013).
Modalidades de cuidado como a assistência domiciliar, os centros de cuidados prolongados e os cuidados paliativos, bastante utilizadas em países desenvolvidos, vêm ganhando espaço no Brasil, embora sua aplicação ainda careça de planejamento e avaliação mais aprofundados (OUVERNEY; NORONHA, 2013).
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3 Inovação Tecnológica e Telessaúde na Gestão Geriátrica
Segundo a ANS (2012), a adoção de medidas preventivas tem potencial para minimizar significativamente o impacto econômico das doenças, além de contribuir para o aumento da longevidade e da qualidade de vida da população. Os elevados custos relacionados aos tratamentos médicos, à perda de produtividade e ao suporte em saúde geram impactos expressivos na economia, nas famílias e nas empresas. Políticas e programas voltados à prevenção são, em geral, custo-efetivos, contribuindo para a diminuição dos gastos com saúde e para o aumento da produtividade
Nesse sentido, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) define programas de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças como um conjunto estruturado de estratégias e ações integradas que visam promover a saúde, prevenir agravos e enfermidades, reduzir os anos de vida perdidos por incapacidades e melhorar a qualidade de vida de indivíduos e comunidades. Esses programas devem, ainda, assegurar o acompanhamento contínuo do público-alvo, com avaliações sistemáticas e monitoramento baseado em indicadores de saúde
Ouverney e Noronha (2013) cita que esse conjunto de práticas e tecnologias deve abranger uma ampla gama de intervenções, incluindo ações de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos, quando indicados. A integração do cuidado implica na transição adequada dos usuários entre profissionais e serviços de saúde, com base em diagnósticos precisos e planos de cuidado previamente definidos e com resolutividade comprovada. Um dos aspectos centrais apontados por diversos autores é a centralidade do usuário, o que exige uma nova concepção de cuidados integrados, especialmente diante do envelhecimento populacional e da alta prevalência de doenças crônicas.
Segundo Ouverney e Noronha (2013), embora cada sistema de saúde possua características próprias, as estratégias voltadas à integração do cuidado têm sido desenvolvidas conforme as particularidades nacionais. Contudo, mesmo com os riscos de inadequação ao se transferir modelos entre contextos distintos, é possível adotar marcos gerais orientadores, que se mostram úteis e aplicáveis em diferentes realidades de organização e gestão dos serviços de saúde.
Entretanto, a trajetória para a implementação efetiva de inovações na área da saúde enfrenta desafios relevantes. Empreendedores frequentemente se deparam com barreiras de ordem ética, regulatória e financeira ao tentar transformar propostas inovadoras em soluções viáveis no mercado. A exigência de cumprir normas rigorosas de segurança e eficácia, somada à necessidade de investimentos iniciais para o desenvolvimento de pesquisas e realização de testes clínicos, constitui um dos principais entraves enfrentados por muitas startups do setor (CAMPOS, 2024).
Aveni (2020) discute como a pandemia de COVID-19 impulsionou o uso de tecnologias inovadoras na saúde, como a telemedicina e o monitoramento remoto, essenciais durante o distanciamento social. Ao mesmo tempo, a crise expôs fragilidades dos sistemas de saúde pública e a falta de planejamento adequado. O autor também destaca oportunidades surgidas para empreendedores, que adotaram estratégias diferenciadas, inspiradas na Teoria do Oceano Azul, com foco em soluções sustentáveis e alinhadas aos direitos humanos.
Com a revolução digital, abriu-se um vasto leque de oportunidades na área da saúde. As tecnologias disponíveis atualmente são muito mais avançadas do que em décadas anteriores e continuam evoluindo de forma acelerada. O relacionamento com os pacientes passou a ocorrer, em grande parte, por meios digitais, como chamadas de vídeo e ligações telefônicas. Aveni (2020) destaca que diagnósticos e atendimentos já podem ser realizados em casa ou no ambiente de trabalho, evitando filas e a sobrecarga dos serviços de saúde.
Além disso, terapias e procedimentos como implantes e substituições de órgãos vêm incorporando recursos como a impressão 3D com materiais inovadores. Isso não apenas gera avanços terapêuticos, mas também estimula pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Toda a cadeia de valor da saúde está sendo transformada por inovações, como demonstrado pelo rápido desenvolvimento das vacinas contra a COVID-19. Para Aveni (2020), os sistemas digitais contribuem para diagnósticos mais ágeis e seguros, além de viabilizar um planejamento de exames mais eficiente e com menores custos.
Khader e Lund (2021) destacam o impacto positivo do projeto WebSaúde como um fator relevante para o fortalecimento do empreendedorismo e da inovação no setor da saúde. Embora inicialmente tenha enfrentado certa resistência por parte da comunidade acadêmica, devido à abordagem inovadora dos temas propostos, a iniciativa conseguiu superar esses entraves por meio de estratégias eficazes de divulgação, sobretudo pelas redes sociais, ressaltando a importância do empreendedorismo em ambientes virtuais.
Um dos principais marcos desse projeto foi a realização do Minicurso de Empreendedorismo e Inovação Tecnológica, que utilizou metodologias ativas para explorar conteúdos pouco presentes nas grades curriculares dos cursos da área da saúde. Como efeito direto dessa ação, observou-se um crescimento expressivo nas iniciativas empreendedoras dos participantes, como a criação de startups e empresas juniores, além de um maior interesse por temas ligados à gestão e administração, contribuindo significativamente para a formação e o desenvolvimento profissional dos envolvidos.
4 Considerações Finais
Diante do crescente envelhecimento populacional e da elevada incidência de doenças crônicas não transmissíveis entre idosos, torna-se indispensável repensar e inovar os modelos de gestão em saúde. A integração entre práticas preventivas, estratégias assistenciais e o uso de tecnologias digitais tem se mostrado essencial para garantir eficiência no cuidado, redução de custos e melhora na qualidade de vida dessa população. A centralidade no paciente, o fortalecimento da atenção primária e a ampliação do acesso a terapias adaptadas às necessidades da faixa etária geriátrica devem ser pilares fundamentais de um sistema de saúde sustentável e resolutivo.
Além disso, a telessaúde e a digitalização dos serviços representam uma oportunidade concreta de transformar o atendimento à saúde dos idosos, principalmente em regiões de difícil acesso ou com escassez de recursos. A experiência durante a pandemia evidenciou não apenas a capacidade de adaptação do setor, mas também o potencial de inovação por meio do empreendedorismo em saúde. Investir em soluções tecnológicas, formação profissional e políticas públicas integradas é um caminho promissor para enfrentar os desafios das DCNT e garantir um cuidado mais humano, acessível e eficaz para a população geriátrica.
5 Referências Bibliográficas
MORAES, Luciane Simões Duarte de; SHIRASSU, Mirian Matsura; ANTONIO, Marco. Informe Epidemiológico – Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Taxa padronizada de mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis – Série Histórica 2015–2020. São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Coordenadoria de Controle de Doenças, Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.57148/bepa.2022.v.19.37973.
CAVALCANTE, Wanessa Toscano; FILGUEIRAS, Mateus Fernandes; OLANDA, Debora Evelly da Silva; et al. Gestão do cuidado em pessoas com doenças crônicas. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 9, n. 5, p. 16345-16354, maio 2023. DOI: 10.34117/bjdv9n5-123.
SIMÕES, Taynãna César; MEIRA, Karina Cardoso; SANTOS, Juliano dos; CÂMARA, Daniel Cardoso Portela. Prevalências de doenças crônicas e acesso aos serviços de saúde no Brasil: evidências de três inquéritos domiciliares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 9, 27 set. 2021. DOI: 10.1590/1413-81232021269.02982021.
OUVERNEY, AM., and NORONHA, JC. Modelos de organização e gestão da atenção à saúde: redes locais, regionais e nacionais. In FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. A saúde no Brasil em 2030 - prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: organização e gestão do sistema de saúde [online]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2013. Vol. 3. pp. 143-182. ISBN 978-85-8110-017-3.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Laboratório de Inovação na Saúde Suplementar. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde – Representação Brasil, 2012. Disponível em: http://www.ans.gov.br.
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AVENI, Alessandro. Empreendedorismo e inovação na saúde: uma análise das oportunidades. Revista Coleta Científica, Brasília, v. 4, n. 8, p. 67–81, 2020. DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.4750286.
KHADER, Georgia Arla Cabrera; LUND, Rafael Guerra. WebSaúde: projeto de extensão tecnológica, empreendedorismo e inovação em saúde. Revista Ciência e Extensão, v. 17, p. 378–389, 2021. DOI: https://doi.org/10.23901/1679-4605.2021v17p378-389.
[1] Fisioterapeuta. Especialista em Geriatria e Gerontologia. Mestranda em Gestão de Cuidados da Saúde pela Must University. E-mail: tricia_marcela@hotmail.com