Manuela Remígio Manuel Pery

Mestre em Comunicação para o Desenvolvimento

Universidade Católica de Moçambique - Instituto de Educação à Distância

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Marlene Vanessa Marques Jamal

Mestre em Línguas, Literaturas e Cultura

Universidade Licungo - Quelimane

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Nelson Castiano Chigande Moda

Mestre em Administração e Gestão Educacional

Escola Secundaria Sansão Mutemba 

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Resumo

O processo de ensino-aprendizagem em tempos de Covid-19 tem sido um dilema no nosso país, principalmente nos aspectos metodológicos adoptados pelas nossas instituições de ensino. Estas, precisam encontrar novos processos metodológicos para se adequarem ao actual cenário imposto pelo Covid-19. O objectivo deste trabalho é de verificar se os procedimentos metodológicos adoptados ao longo do tempo antes do Covid-19, onde habitualmente as turmas numerosas eram consideradas normais, serão os mesmos a serem adoptados no período do Covid-19 onde vigoram decretos que impõem uma redução significativa dos alunos em cada turma. Dai que, igualmente, este artigo aborda algumas flexibilidades metodológico-didácticas a serem implementadas por forma adequar ao cenário que for a vigorar a imposição do decreto restritivo. Pois, se em outros países os professores estão habituados a gerir turmas com uma média de 25 alunos, a mesma experiência não pode ser partilhada pela maioria dos professores em Moçambique, em particular os afectos a Escola Secundária Mateus Sansão Mutemba. Ademais, foram também sugeridos procedimentos metodológicos-didáticos a serem implementados por forma a não contrariar o distanciamento social imposto pelo decreto, como por exemplo uso de audiovisuais, descarte em grande parte dos métodos comunicativos em detrimento do expositivo. A metodologia de pesquisa foi bibliográfica aliada a pesquisa de campo baseada em experiências didácticas dos pesquisadores. De referir que os dados serão analisados qualitativamente. A pesquisa não apresenta resultados acabados, podendo desta forma abrir espaço para a continuidade, enquanto o processo das novas regras estiver em vigor.

 

Palavras – chave: Ensino-aprendizagem, metodologias, professores, alunos, Covid-19.


  • Contextualização do estudo

A pandemia de Covid-19 é uma doença respiratória aguda causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). A doença foi identificada pela primeira vez em Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China, a 1 de Dezembro de 2019, mas o primeiro caso foi reportado a 31 de Dezembro do mesmo ano. Acredita-se que o vírus tenha uma origem zoonótica, porque os primeiros casos confirmados tinham principalmente ligações ao Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Wuhan, que também vendia animais vivos. Em 11 de Março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o surto uma pandemia. Até 14 de Julho de 2020, pelo menos 13. 060. 239 casos da doença foram confirmados em pelo menos 188 países e territórios, com grandes surtos nos Estados Unidos (mais de 3 366 515 casos), Brasil (mais de 1 884 967 casos), Índia (mais de 878 000 casos), Rússia (mais de 733 000 casos), Peru (mais de 33 000 casos), Chile (mais de 317 000 casos), México (mais de 299 000 casos), Reino Unido (mais de 290 000 casos), Irã (mais de 259 000 casos), Espanha (mais de 253 000 casos) e Itália (mais de 242 000 casos). Pelo menos 571 817 pessoas morreram (mais de 137 000 nos Estados Unidos, 72 900 no Brasil, 44 800 no Reino Unido, 35 000 no México, 34 900 em Itália, 30 000 na França e 28 400 na Espanha), e mais de 7 215 865 foram curadas.

Em 22 de Janeiro de 2020, foi discutido por um comitê de emergência organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) se o incidente constituía uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional sob os Regulamentos Internacionais de Saúde. A decisão foi adiada por falta de informação.

Em 22 de Março, o primeiro caso de Covid-19 em Moçambique foi confirmado, tratando-se de um homem de mais de 60 anos de idade que havia viajado ao Reino Unido. Mais tarde o governo de Moçambique anunciou que a esposa do primeiro infectado havia sido diagnosticada com Covid-19. Mais tarde a esposa de Eneias Comiche, o Presidente do Conselho Autárquico de Maputo, Lúcia Comiche telefonou a um programa de televisão dizendo que ela estava infectada com a doença e o seu marido era o primeiro infectado em Moçambique. Em 6 de Abril, Moçambique tinha 10 casos confirmados, 367 casos suspeitos e o primeiro infectado havia sido recuperado. No dia 8 de Abril, foram confirmados 7 novos casos, seis na província de Cabo Delgado e os restantes na de Maputo.

O Presidente da República Filipe Nyusi decretou o estado de emergência sem confinamento a partir de 1 de Abril, e tem-no prorrogado sucessivamente: em 29 de Abril prorrogou-o até 30 de Maio; em 29 de Maio de novo até ao final de Junho; e a 28 de Junho prorrogou-o por mais 30 dias até 29 de Julho, com algumas ligeiras aberturas, especialmente no que toca ao ensino. Dias depois o Governo, através do seu porta-voz anuncia a retoma gradual das aulas para o dia 27 de Julho, portanto, 48 horas antes do término da última prorrogação.

Para o reinício das aulas presenciais, as escolas, universidades e outras instituições de ensino têm a obrigação de garantir as condições de higiene necessárias para reduzir a possibilidade e risco de contágio. Todavia, não se tem colocado a reflexão sobre as novas metodologias de ensino ou pelo menos a sua flexibilidade, com a excepção de reajuste dos programas temáticos apenas. Aqui reside a preocupação e relevância em desenvolver esta pesquisa com vista a propor abordagens metodológicas.

O Processo de ensino-aprendizagem constituiu desde cedo um campo caracterizado por imensas assimetrias de região para região. Não há dúvidas de que em várias partes do mundo, este processo tem sido conduzido de formas totalmente diferentes. Todavia, existe o padrão universalmente aceite que consiste em alocar os intervenientes do processo, nomeadamente: o professor, o aluno, os conteúdos, o meio e outros recursos. Ademais, pode decorrer em períodos de curto, medio e longo prazo, dependendo dos objectivos preconizados.

Em tempos de Covid-19, os desafios surgem para todos e em todos lugares do mundo inteiro. Infelizmente, trata-se duma situação a ser enfrentada com padrões diferentes, segundo a realidade de cada território e as condições ai existentes. Para o caso de Moçambique, ao reiniciar as aulas mesmo ainda com focos da pandemia e com casos a crescerem a cada dia, há que ter em conta alguns factores importantes: o rácio professor-aluno e seu impacto atinente a pandemia; a disponibilidade acrescida do efectivo docente; e a estrutura física das salas de aulas existentes.

A avaliar o rácio professor-aluno em Moçambique com mais de 60 alunos por turma, chegando em alguns casos a atingir 120 alunos por turma, coloca o país a redistribuir o efectivo dos alunos por turma para respeitar o distanciamento social, e isto vai directamente implicar ajuste de salas de aulas e requisição ou contratação urgente de mais professores.

Não obstante as dificuldades que aparentam eclodir, o processo de ensino-aprendizagem não registaria uma abolição na sua integra. Novas alternativas metodológico-didácticas, reajustamento dos recursos humanos e materiais, assim como uma nova organização funcional do espaço escolar serão importantes e significativas mudanças a operar. [...]