EDUCOMUNICAÇÃO E SUAS TECNOLOGIAS valorizando O PROTAGONISMO DE uma APRENDIZAGEM CIDADÃ

Elidiene Gomes de Oliveira Lima* 

Resumo 

Este artigo baseia-se na percepção de como a Educomunicação e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) aliadas ao projeto pedagógico promovem o processo do ensino e da aprendizagem de forma significativa tornando os estudantes protagonistas e educadores facilitadores na construção do conhecimento. O objetivo foi investigar em uma escola Municipal do Recife a partir do projeto “Educação e Protagonismo em Busca do Bem- estar na Saúde e no Meio Ambiente”, as práticas pedagógicas educomunicativas e usos dos recursos das (TICs) bem como avanços e obstáculos encontrados durante o processo de ensino – aprendizagem.

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Palavras-chave: Tecnologia da Informação e Comunicação. Educomunicação. Protagonismo. Projeto. 

1 Introdução 

O acesso as tecnologias da informação e comunicação (TICs) vem crescendo bastante como redes de comunicação em massa como jornal, TV, rádio, internet, celular, notebook, tablet entre outros. Dessa forma as escolas precisam estar preparadas para receber essa sociedade da era digital aproveitando seus conhecimentos tecnológicos na educação. Assim, com esse crescimento de convergência multimídia, a educação e comunicação devem ser parceira na construção da cidadania. Segundo o professor Ismar de Oliveira Soares, a educomunicação é um campo de convergência de todas as áreas das ciências humanas.

A educomunicação são práticas comunicativas no processo de ensino- aprendizagem que visa a construção da cidadania incentivando a formação de um cidadão interativo, participativo, colaborativo, crítico e protagonista do conhecimento. Além disso buscar transformar o espaço escolar em um ambiente mobilizador e lúdico na aprendizagem dando também a oportunidade para utilização dos recursos tecnológicos na comunicação.

Essa pesquisa visa mostrar como a Educomunicação pode influenciar para melhoria do processo de ensino – aprendizagem a partir de projeto que colabore para interação, convivência, bem-estar na construção do conhecimento e da cidadania. E como os recursos tecnológicos na educomunicação podem contribuir para o aumento da motivação, interesse e participação dos estudantes tornando-os protagonistas de uma aprendizagem mais significativa.

            Esse artigo tem como base estudo de caso descrevendo análises  de dados qualitativos e quantitativos no contexto das práticas educomunicativas durante execução do projeto: “Educação e Protagonismo em Busca do Bem-estar na Saúde e no Meio Ambiente” realizado na Escola Municipal Senador José Ermírio de Moraes localizado na periferia do Recife durante o primeiro semestre de 2016 com turmas de educação infantil, fundamental e EJA que tem como objetivo o protagonismo dos estudantes e suas ações geradoras de aprendizagem de forma prazerosa, lúdica e significativa.

Inicialmente o artigo visa definir o conceito de educomunicação baseados nos estudos do professor Ismar de Oliveira Soares e influência da valorização da comunicação na escola com o educador Paulo Freire exemplificando também com projetos apoiados com a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).Em seguida propõe mostrar a importância do protagonismo na comunicação com os estudos de Silva Filho, Soares e Moran, nas aulas inspiradas nessa prática, exibindo também artigos de lei da Constituição Federal, do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que defendem a liberdade de expressão na qual a escola é um ambiente favorecedor para aprender e vivenciar esse direito do cidadão. Logo depois aponta o potencial das utilizações dos recursos tecnológicos em favor da educação dialogado com estudos de Libâneo, Soares, Lorenzato, Porto, Behrenss e Sancho e finalizando novamente Ismar de Oliveira sobre o perfil do educomunicador transformando o espaço escolar como gestor dessa relação.   

Através dessa pesquisa concluiu-se que educomunicação e suas tecnologias juntamente com projeto pedagógico colaboram para uma aprendizagem, mais significativa, produtiva e interativa na construção dos conteúdos envolvidos e formação da cidadania. Fez refletir também como essa perspectiva transformadora da aprendizagem vai além do espaço escolar com prática de intervenção urbana partindo transformações do espaço escolar para seu entorno formando cidadãos ativos em busca do bem - estar social.

 

2.1 A educomunicação

 

A educomunicação segundo Soares é uma relação educativa e comunicativa que contribui significativamente para formação e transformação do indivíduo em suas relações permitindo mediações com conceitos transdisciplinares na qual perpassa por diversos conteúdo. Ainda segundo o professor Soares a educomunicação tem como objetivo melhorar da comunicação no sistema educacional, usar adequadamente as tecnologias da informação em ações educomunicativas, aprender à analisar de forma crítica a mídia de massa e o desenvolvimento da capacidade de expressão. Soares faz a seguinte citação conceituado a educomunicação: 

                               Designa o conjunto das ações voltadas para a criação de ecossistemas comunicativos abertos e criativos em espaços educativos, favorecedores tanto de relações dialógicas entre pessoas e grupos humanos quanto de uma apropriação criativa dos recursos da informação nos processos de produção da cultura e da difusão do conhecimento. O novo campo apresenta-se como interdiscursivo, interdisciplinar e mediado pelas tecnologias da informação (Soares, 2000a; 2000b; Schaun, 2000). 

Esse conjunto de ações voltadas para a criação de ecossistemas comunicativos abertos e criativos em espaços escolares citados por Soares pode ser encontrado anteriormente com Paulo Freire quando diz: “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores, que buscam a significação dos significados.” (FREIRE, 1983, p.69)

 

Na publicação da Associação Cidade Escola Aprendiz e Comunicação e Cultura do projeto Mudando sua Escola, Mudando sua Comunidade, Melhorando o Mundo! Com iniciativa apoiada pela UNICEF exemplifica a atuação da educomunicação com adolescentes na qual propõe não apenas aprender a leitura crítica das mídias de massa, promove também a participação cidadã dos estudantes com envolvimentos dentro e fora da escola, o acesso as mídias da informação e comunicação bem como sua produção por parte dos educandos.

Essa mesma publicação relata também estudos voltados ao educador Paulo Freire dizendo que a educação é “transformar o mundo, é comunicar era uma atribuição básica do educar e o educar seria, então, uma comunicação específica. Aprender a ler é aprender a entender o mundo, isto é, ter acesso aos tesouros de toda a literatura, a todo conhecimento produzido e registrado de forma escrita. E aprender a escrever significa mudar esse mundo, isto é, imprimir nele sua própria experiência, seu ponto de vista, sua opinião.

2.1 O protagonismo na educomunicação

Quando os estudantes se tornam atores ativos na sua aprendizagem começam a entender que aquele conteúdo que está aprendendo é significativo e começam a se envolver mais nas atividades propostas. A autonomia na aprendizagem começa a ser desenvolvida no estudante quando se tornam parceiro do professor no processo de ensino aprendizagem.

De acordo com Silva Filho (2004) o protagonismo juvenil potencializa o ecossistema, aumenta a interação comunicacionais no interior da instituição. Esse ecossistema permite que o estudante também seja ator da sua própria aprendizagem tornando um sujeito mais autônomo, solidário e participativo.

Tal solidariedade apontada por Silva (2004) é fundamental durante as aulas para formar a cidadania do sujeito pois é um dos princípios que tem como objetivo a harmonia, a integração em suas relações humanas. Nessa concepção os estudantes tendem a aprender a se relacionar melhor, sabendo ouvir, respeitar as opiniões e esperar seu momento de participar. O professor nesse momento deve ser gestor da comunicação para ajudar os estudantes a importância de atitudes que melhoram a comunicação durante as aulas.

O NCE (Núcleo de Comunicação e Educação) da USP (Universidade de São Paulo) pela coordenação de Soares detectou que tanto na educação formal na escola como a não formal realizada na sociedade civil como nas ONGS, associações de moradores por exemplo que o enlace da cidadania está nas experiências práticas e mostrando o crescimento da “ação comunicativa” de ambas formas de educação pois estão se voltando cada vez mais a necessidade da sociedade. Não só o Brasil, como a américa Latina e outras partes do mundo vem trabalhando nessa proposta que a comunicação é um bem comum numa inter-relação comunicativa e educativa fortalecendo assim uma prática comunicativa cidadã.

Assim os professores e estudantes além de refletir sobre seu papel na aprendizagem através de diálogos, buscam soluções para os problemas e obstáculos enfrentados no dia a dia da sala de aula. Essas situações que vivenciam durante as aulas tornam os estudantes e professores com mais experiências colaborando para suas vidas cotidianas atuais e futuras. Essa valorização também deve ser integrada as famílias para que esse processo de aprendizagem aconteça de forma mais rápida e prazerosa, no entanto sabemos das diversas problemáticas das famílias independentemente de classe social e crença , mas a escola deve fazer sua parte promovendo ações como reuniões de conscientização que envolvam a família nesse processo educomunicativo buscando soluções coletivas para se tornarem parceiras na construção dos conhecimentos do seus filhos e de valorização como sujeito.

Dessa forma, Moran aponta:

As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas (MORAN, 2000, p.17-18).

O ambiente escolar educomunicativo proporciona o desenvolvimento da responsabilidade e autonomia durante o processo da execução de atividades vinculadas a um projeto de forma educomunicativas. Ao verem suas atividades divulgas para a comunidade escolar através de diferentes expressões artísticas, jornais, vídeos, fotos entre outros se tornam motivados, além de aumentar sua autoestima a partir da valorização do seu trabalho tanto do professor como do estudante. 

2.2 aulas inspiradas na educomunicação 

Quando o estudante se torna responsável e ator na sua aprendizagem colaborando com o grupo mostrando seus conhecimentos, começa a se sentir mais motivado pela valorização das suas ações.  A riqueza de um ambiente educomunicativo que promove o protagonismo faz com que a aprendizagem seja mais produtiva tornando os estudante mais confiantes como sujeito e na construção dos seus conhecimentos.

Segundo Soares (1999) o aumento das potencialidades valoriza a experiência educomunicativa que se afastando de uma educação onde apenas o professor é responsável e capaz pela transmissão do conhecimento fortalecendo uma comunicação dialógica de acordo com Paulo Freire.

Aulas movidas priorizam os diálogos e as relações pessoais para fundamentar seus conhecimentos e é nesse diálogo que se vai trabalhando as atitudes no processos educativos, além dos sentimentos do grupo envolvido que auxiliam na compreensão da realidade.

A partir da compreensão da realidade do objeto de estudo, é importante que o professor gestor das informações geradas na comunicação dê continuidade com atividades que fortaleçam as ações vivenciadas anteriormente de forma educomunicativa. A divisão de tarefas a serem executadas pelos estudantes devem ter prazos definidos para que sejam planejadas e realizadas juntamente com professor para que mantenham foco para concluir as tarefas solicitadas. É nesse momento que se torna necessário a discussão da realização de um projeto na qual o estudante propõe o que e como vai ser realizado sobre o tema sugerido pelo professor e monta um cronograma de execução das etapas das atividades de forma simples. 

No entanto, Soares (2000, on line) ao afirmar a atitude do educomunicador, diz: 

O educomunicador não tem uma mentalidade cirúrgica, na hora de entrar no laboratório com luvas para fazer exatamente aquele procedimento. Ele é um mobilizador e a ação do educomunicador depende muito das    circunstâncias, das   colaborações   que   ele   encontrar ou da capacidade   dele de encontrar colaboradores   para suas ações. Porque ele é   um gestor   de processos   e a Educomunicação é uma prática    que emerge da própria sociedade   e que se contrapõe a outras práticas também sociais. [...] Alguém que chegue pra fazer algum tipo de trabalho que quebre essa hegemonia, naturalmente essa pessoa tem que ter muita habilidade, habilidade de dialogar com o   estabelecido. Nós também defendemos o princípio de que a educomunicação não existe na sua característica de inteireza [...]. 

2.3 ARTIGOS SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO  

A comunicação na sala de aula é um direito que deve ser valorizado para formação de cidadãos críticos e atuantes na vida na qual está garantido na Declaração Universal dos Direitos humanos no seu capítulo,  10 de dezembro de 1948 no seu artigo 19 onde diz: Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

O artigo 220 também reforça citando o seguinte: A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

Dessa forma a liberdade de comunicação e expressão, a consciência desses direitos deve ser respeitada, vivenciada, protegida promovendo a formação da cidadania e sujeitos críticos e consciente de tal forma que possam se preparar para atuarem numa sociedade com tantas diversidades de comunicação e expressão.

Podendo assim participar de ações como produção de jornal seja impresso ou em vídeo, um simples mural, uma peça teatral músicas e expressões artísticas que possam exibir as manifestações de pensamentos e criação do estudante de forma efetiva na escola. A Constituição Brasileira de 1988 Artigo 5º também afirma: É livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

No título I do Capítulo II do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) fala do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade nos seus artigos 15 e 16:

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Dessa forma as práticas educomunicativas vão além das práticas pedagógicas pois insere o direito à liberdade de comunicação e expressão do ser humano independente de idade, sexo, língua, cor e religião todos tem a liberdade de manifestar na qual a escola é um excelente local para desenvolver essas práticas. 

2.4 recursos na aprendizagem educomunicativa

Qualquer escola seja pública ou privada deve estar preparada para ensinar os estudantes a perceber e saber usar de forma crítica os recursos comunicativos e as informações recebidas por ele. Colaborando assim, para que não seja apenas um receptor mas tenha uma visão crítica das informações e utilizações adequadas aprendendo a selecionar o que vai ser importante e desnecessário para edificação da sua formação escolar e cidadã seja em, filmes, desenhos, internet, redes sociais ou móveis, rádio, televisão, jornal, músicas, celulares, robótica de encaixe tablets e games.

Jogos digitais no tablets e construções com robótica de encaixe sobre preservação meio ambiente.

          Os ecossistemas comunicativos devem ter um planejamento adequado para os usos dos recursos tecnológicos para dar finalidade que possa contribuir para construção do conhecimento em evidência. LIBÂNEO (2007, p.309) afirma que: “o grande objetivo das escolas é a aprendizagem dos alunos, e a organização escolar necessária é a que leva a melhorar a qualidade dessa aprendizagem”.

 Essa ideia não deve ser apenas um planejamento de sala de aula mas deve fazer parte     do projeto político pedagógico da escola e também da rede de ensino pra que possa ter mais apoio ao andamento ao processo de aprendizagem.

 

[...] o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos e produtos destinados a criar e fortalecer    ecossistemas comunicativos em espaços educativos, melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas desenvolver o espírito crítico dos usuários dos meios massivas, usar adequadamente os recursos da informação nas práticas educativas, e ampliar capacidade de expressão das pessoas (SOARES, online).

 

Ao utilizar recursos como celular, máquina fotografar e filmar, o professor e estudante deve estar consciente da utilização do recurso sabendo qual será a finalidade do seu uso bem como aprende a usá-lo de forma adequada para registrar momentos de ações educativas e comunicativas sobre tema proposto do projeto e posteriormente publicá-los para a comunidade escolar.   

 

Para LORENZATO (1991),

 

Os recursos interferem fortemente no processo de ensino e aprendizagem; o uso de qualquer recurso depende do conteúdo a ser ensinado, dos objetivos que se deseja atingir e da aprendizagem a ser desenvolvida, visto que a utilização de recursos didáticos facilita a observação e a análise de elementos fundamentais para o ensino experimental, contribuindo com o aluno na construção do conhecimento (LORENZATO, 1991).

Essa proposta promove o protagonismo por meio da tecnologia da informação e comunicação na qual pode ser exibida para a comunidade escolar em eventos, reuniões e até mesmo na sala de aula compartilhando suas produções através da TV monitor ou Datashow. As divulgações em meios de comunicação online como blog, youtube, sites deve ter muitas precauções obtendo autorizações para o uso da imagem dos envolvidos.

 

As atividades registradas com celulares ou câmeras tanto na escola, como em atividades externas como excursões, visitas, entrevistas na comunidade podem ser organizada previamente de forma que o professor escolha qual estudante irá colaborar para o registro naquela atividade. É importante ressaltar que os recursos tecnológicos não devem ser utilizados aleatoriamente de forma desordenada para não gere conflitos e desconforto em registos não relacionados ao objetivo do projeto.

 

Para Porto (2000) a escola deve estar presente na realidade com o cotidiano dos estudantes usando um dos grandes recursos de aprendizagem que é sua própria vida, inserindo assim os professores e alunos nas culturas dos meios de comunicação e tecnologia.

     Frases, desenhos e pinturas com mensagens ecológicas no muro da escola, idem as imagens.

 

Vale lembrar que os recursos tecnológicos só terão significados se forem aplicados de forma adequada, pois não adianta ter recursos disponíveis se não tem produção qualitativa coerente a construção da aprendizagem do estudante. É no processo de construção do conhecimento que deve inserir de forma criativa o protagonismo para motivar e facilitar a o processo de ensino-aprendizagem.

 

Num mundo globalizado, que derruba barreiras de tempo e espaço, o acesso à tecnologia exige atitude crítica e inovadora, possibilitando o relacionamento com a sociedade como um todo. O desafio passa por criar e permitir uma nova ação docente na qual professor e alunos participam de um processo conjunto para aprender de forma criativa, dinâmica, encorajadora e que tenha como essência o diálogo e a descoberta. (BEHRENS, 2000, p. 77)

 

Independente do recurso tecnológico da escola, é possível criar um ambiente educomunicativo na escola por meio de recursos simples como produções realizadas em murais, placas informativas, histórias em quadrinhos, peças teatrais, musicais roda de conversas, aulões promovidos com a participação dos estudantes de forma interclasse e em eventos onde os estudantes tenham a oportunidade de expor suas ideias e conhecimentos para que sejam motivados a serem atuantes na sua aprendizagem.

 

Para SANCHO, Devemos considerar como ideal um ensino usando diversos meios, um ensino no qual todos os meios deveriam ter oportunidade, desde os mais modestos até os mais elaborados: desde o quadro, os mapas e as transparências de retroprojetor até as antenas de satélite de televisão. Ali deveriam ter oportunidade também todas as linguagens: desde a palavra falada e escrita até as imagens e sons, passando pelas linguagens matemáticas, gestuais e simbólicas. (SANCHO, 2001, p. 136

 

2.5 PERFIL DO educomunicador

 

O educomunicador é um novo profissional que tem a habilidade de executar projetos e realizar análises relacionadas a comunicação e educação geradas no processo de ensino – aprendizagem na qual o professor se torna o gestor dessa relação. Para, Soares (2000, on line) ao compreender a postura do educomunicador afirma que:

 

O educomunicador não tem uma mentalidade cirúrgica, na hora de entrar no laboratório com luvas para fazer exatamente aquele procedimento. Ele é um mobilizador e a ação do   educomunicador depende muito das    circunstâncias, das   colaborações   que   ele   encontrar ou da capacidade   dele de encontrar colaboradores   para suas ações. Porque ele é   um gestor   de processos   e a educomunicação é uma prática    que emerge da própria sociedade   e que se contrapõe a outras práticas também sociais. [...] Alguém que chegue pra fazer algum tipo de trabalho que quebre essa hegemonia, naturalmente essa pessoa tem que ter muita habilidade, habilidade de dialogar com o   estabelecido. Nós também defendemos o princípio de que a educomunicação não existe na sua

característica de inteireza [...].

 

O educomunicador sente-se responsável em elaborar atividades e materiais

a partir das necessidades e interesses dos estudantes. Mostrando uma estratégia importante para a formação de cidadãos solidários e críticos para a atuarem como protagonistas da transformação do ambiente em que vivem seja, na escola em sua comunidade e em sua vida.

Segundo Ismar de Oliveira (1999) na sua obra sobre o Perfil do Educomunicador publicada Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, afirma o seguinte:

 

  1. a) a opção por se aprender a trabalhar em equipe, respeitando-se as diferenças;
  2. b) a valorização do erro como parte do processo de aprendizagem,
  3. c) a alimentação de projetos voltados para a transformação social. Um grande número de respostas ao questionário aponta, por fim, como expectativa de resultado, a formação para a cidadania e para ética profissional, objetivando a educação do "cidadão global"

 

3 Metodologia do trabalho

 

Essa pesquisa buscou a análise de execução de um projeto com o objetivo de desenvolver o protagonismo do estudante e o uso da tecnologia como meio de ações educomunicativa vivenciadas durante o processo do projeto.  A escola pública que fez parte desta pesquisa está situada no município de Recife

Participaram da pesquisa 13 professores que ensinam desde a educação infantil, ensino fundamental e EJA além dos estudantes dessas modalidades. A pesquisa foi através de observações presenciais na escola e fazendo uso dos recursos tecnológicos como o grupo do whatsapp para acompanhar desenvolvimento do projeto da escola que envolveria a prática educomunicativa realizada no 1º bimestre de 2016. O projeto da escola teve iniciativa de experiências anteriores de um professor da EJA que multiplicou a proposta da educomunicação aos outros professores para realizar tal propostas às demais turmas.

O projeto analisado que tem por título, “Educação e protagonismo em busca do bem- estar na saúde e no meio ambiente” visa direcionar de forma educomunicativa o desenvolvimento no processo de ensino – aprendizagem a partir de ações que promovam a cidadania através da comunicação e expressão, valorização dos estudantes, estimulando a participação com atuações que possam contribuir para interação, convivência, bem-estar na saúde e no meio ambiente.

            As atividades observadas para análise, reflexão e anotações sobre o projeto da escola foram a análise das participações dialógicas dos estudantes e professores após apresentações de slides, vídeos sobre a água; aedes aegypti, preservação do maio ambiente e vida saudável, assim como nas observações com jogos digitais e montagem com encaixes e construções de cartazes a partir de jornais. Observação das atuações dos estudantes apreciando a liberdade de expressão dos estudantes durante a pintura e desenho no muro com temas ecológicos para expor a comunidade assim como a intervenção urbana realizada pela escola no bairro com mutirão ecológico no bosque e os cuidados contra o aedes aegypti;

 Os levantamentos de dados a partir de observações na escola consideraram os seguintes aspectos: participações, comunicações e atuações dos estudantes, professores e direção na elaboração do projeto, conteúdos trabalhados, recursos tecnológicos utilizados, atividades que promovessem o protagonismo. O início da pesquisa foi através de observações realizadas em reuniões com os diretores e professores da escola em cada turno. As entrevistas para construção de gráficos sobre a infraestrutura da escola e e utilização de recursos tecnológicos no projeto foi realizado com apoio da gestão e e colaboração dos professores

Observando a discussão do projeto da escola cada professor sugeriu ideias e apresentou propostas de atividades para serem realizadas com seus estudantes que promovessem o protagonismo. Foi solicitado aos professores que registrassem o processo através de cartazes, vídeos e fotografias para posteriormente serem expostos a todos. As culminâncias foram: teatro, dramatização com músicas e danças, murais fotográficos e cartazes no corredor ecológico, telejornal com entrevista e depoimentos, mutirões ecológicos no bosque, mutirões de arte no muro, passeios e rodas de conversas com contação de histórias ecológicas no bosque da comunidade, produção coletiva de um jardim sustentável. Após as realizações das atividades e divulgações e apresentações para os pais os professores responderam ao questionário relatando as experiências com a educomunicação e o uso das tecnologias no projeto vivenciado contemplando os conteúdos de forma interdisciplinar.

 

4 coleta e análise de dados

 

A pesquisa expõe os dados coletados, por meio de um questionário, análise qualitativa desde reuniões iniciais, observações no ensino e na aprendizagem durante a execução do projeto pedagógico. Essa pesquisa foi realizada com gestores, professores, funcionários e estudantes da Escola Municipal Senador José Ermírio de Moraes. O tema do projeto foi: Educação e protagonismo em busca do bem- estar na saúde e no meio ambiente na qual foi influenciado pela proposta do ano letivo de 2016 da Prefeitura do Recife: "Educação e protagonismo: estudantes pesquisadores e atores ativos na construção do saber". Contudo, educomunicação é uma proposta que desenvolve uma consciência ética e cidadã através de uma metodologia que propicie a atuação dos estudantes como protagonistas da construção de conhecimentos significativos.

A escola citada pertence a Prefeitura do Recife, da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental bem como turmas do EJAI (Educação de jovens adultos e idosos) até o 9º ano na qual há cerca de 470 estudantes, 13 professores e 01 professor multiplicador, 01 diretora, 01 vice- diretora, 01 coordenadora, 01 assistente de direção, 2 secretárias e 18 turmas que funcionam nos três turnos. Participaram da pesquisa, relatando suas experiências com educomunicação e uso das tecnologias,13 professores da educação infantil e do Ensino Fundamental e EJA.

Percebe-se através de observações das atitudes e comportamentos em reuniões e durante a execução do projeto da escola com os professores a importância da educomunicação na escola e suas tecnologias facilitadoras e colaboradoras na prática pedagógica.

Observou-se que foram executadas diversas etapas do projeto com as turmas da educação infantil e do Ensino Fundamental incluindo o EJAI como: roda de conversa, apresentação de reportagem, atividades culturais, interversão urbana como multirão ecológico entre outras etapas. Assim analisando as etapas e conversas sobre a avaliação do projeto executado, os professores consideraram que foi importante em suas práticas a utilização de atividades educomunicativas.

Os microfones foram utilizados nas gravações dos repórteres apresentadores do telejornal da escola, nas apresentações culturais e depoimentos coletivos em aulões sobre os resultados obtidos no projeto destacando diálogos sobre a sua interação. A escola possui um retroprojetor, um microfone funcionando, um amplificador, um notebook para cada sala, 4 micro system e atualmente 20 tabletes, caixas de LEGO, 1 máquina fotográfica filmadora e 2 TVs monitor. A maioria dos professores utiliza a internet como recurso para facilitar seu planejamento e trabalho para pesquisar livros, revistas, artigos, sites, blogs e youtube como suportes para enriquecer suas aulas.

Como foi se pode verificar no gráfico1, 92% dos professores utilizavam seus celulares para filmar e fotografar as atividades com depoimentos ou entrevistas, 100 % utilizaram o projetor multimídia para apresentar vídeos, jogos digitais, mesma quantidade foi para o uso do notebook, modem de internet, 7 % conheciam aplicativos de edição em celulares e computador. Cerca de 30% dos professores trabalharam com o jogo de encaixe com o objetivo de construção coletiva e diálogos em buscas de solução para o meio ambiente. A maioria dos professores trabalhou com atividades em roda de conversa e apresentações culturais cerca de 92 %, em relação aos tablets apenas um professor utilizou pois tinha solicitado a e instalação de aplicativos de games sobre a preservação do meios ambiente para crianças e porque os mesmos eram recentes na escola.

       

   

 

 

 

 

Na observação da execução do projeto “Educação e protagonismo em busca do bem- estar na saúde e no meio ambiente,” verificou-se que a educomunicação foi fundamental para discussão do problema relacionados a saúde e meio ambiente. O resgate dos conhecimentos prévios através de diálogos em rodas de conversas promoveu trocas de conhecimentos entre o grupo e foi a apreciação e valorização do professor que os motivaram a participar mais dos diálogos.

A partir de observações em sala de aula e diálogos coletivos com os estudantes foi possível perceber claramente que a valorização da comunicação para construção da aprendizagem e o uso dos recursos tecnológicos permitiram que os estudantes ficassem mais motivados e interessados. A maioria dos estudantes queria atuar em diversas funções mostrado a construção de atitudes de responsabilidade, colaboração e solidariedade promovendo a cidadania e a construção do conhecimento de forma colaborativa e significativa.

Os professores relataram a necessidade de ter formação na área de educomunicação e suas tecnologias e ter instalações de programas e aplicativos necessários para a produção de materiais. Foi possível ver que algumas solicitações dos professores começaram a ser atendidas como instalações de aplicativos de edição de foto e vídeo em tablets e formação sobre rádio na escola pelo programa Mais Educação. O Mais Educação é um programa do Ministério da Educação que contribui para ampliação da jornada escolar na desenvolvendo atividades nos macrocampos de acompanhamento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica.  Esse fator foi muito importante para aumentar a motivação dos professores e consequentemente dos estudantes.

Ainda é possível perceber a partir de observações na escola que existem estudantes e professores que desconhecem as tecnologiasmesmo com tais dificuldades demonstram resiliência em melhorar a qualidade no processo de ensino – aprendizagem, mesmos com recursos ou formas mais simples de incluir a educomunicação por meio de rodas de conversa, debates, murais e atividades culturais, uso da leitura a escrita e a oralidade.

Observando momentos de diálogos e roda de conversas nas salas de aula na qual propõe ações, tomadas de decisões e atitudes coletivas para execução do projeto, foi possível entender que tais momentos foram significativos para firmar o compromisso e responsabilidade na prática dos conhecimentos construídos ao logo do projeto desenvolvendo a cidadania e autonomia no processo de ensino aprendizagem. Alguns momentos observados foram: roda de conversa, entrevista realizadas pelos estudantes, criação de desenhos e mensagens ecológicas no muro da escola, apresentações culturais com dança, música, paródia e a produção do telejornal da escola.

 

  1. considerações finais

 

Através dessa pesquisa concluiu-se que educomunicação e suas tecnologias quando acompanhadas com projetos, torna a aprendizagem, mais significativa, produtiva e interativa na construção dos conteúdos envolvidos. Os registros e atuações realizadas pelos alunos e professores demonstraram a grandeza do protagonismo dos estudantes e de todos envolvidos na comunidade escolar repensando como as aprendizagens concretas e colaborativas são dignas de valorização e vão além do espaço escolar. Tanto o professor como os estudantes e diretores devem ser parceiros na aprendizagem para que haja educomunicação, fazendo repensar na interação do processo de ensino aprendizagem.

A utilização de máquinas fotográficas e principalmente celular pessoal para registrar as etapas das ações foram recursos disponíveis para filmar e fotografar, mostrando como foi possível sua exibição para a comunidade através telejornal  em Datashow  e murais fotográficos de atividades  como:  construção com o LEGO, estudos  e pesquisas, entrevistas, depoimentos no bairro, multirão de pintura, desenhos, frases ecológicas no muro da escola, produção de um jardim sustentável na escola, multirão ecológico de limpeza e  passeios no bosque da comunidade . Portanto foi um passo importante para entender como os estudantes se sentiam capazes, confiantes e estimulados ao compartilhar seus conhecimentos com a comunidade escolar e amigos.

       As participações voluntárias para atuarem com funções para o telejornal e mural como, o câmera, o repórter apresentador, o entrevistador, o fotógrafo e atores para participações das ações sobre o meio ambiente do projeto mostrou um dos aspectos importantes que foi analisado no protagonismo dos estudantes na prática da aprendizagem.

Os momentos de planejamento também foram vivenciados com toda a equipe escolar professores, gestão, secretaria e ONG onde pode constatar que a educomunicação também nascia ali com os diálogos propostos para execução do projeto. Notando assim, que o apoio da gestão foi de fundamental importância para que o projeto pudesse caminhar sendo parceiro da aprendizagem juntamente com os professores e estudantes.

A união de uma equipe focada para realização do projeto, com ideias, colaborações e boa comunicação foi um dos pontos mais importantes no processo educomunicativo promovendo o protagonismo dos que trabalham no ambiente escolar bem como sua valorização até mesmo em pequenas atitudes. “Como formar estudantes protagonistas se não ou não der oportunidade para os que trabalham na comunidade escolar ser protagonistas também?”

 

 

 

 

  1. referências bibliográficas

 

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* Graduando do Curso Superior em Licenciatura em Física na modalidade( EAD) pela UFRPE. Docente dos anos iniciais do ensino regular e finais do EJA nas disciplinas de Ciências e Matemática. Trabalhou como tutor virtual na disciplina de Ambientação em cursos técnicos do CODAI. E-mail: [email protected]