Tal questionamento nos persegue ao longo dos anos dedicados a essa profissão, e, com toda humildade, revelamos que ainda não temos uma resposta satisfatória. Convivemos com tantos colegas que já fizeram a sua “passagem” e que muitos conseguiram até passar, também, das lembranças de muitos de seus companheiros.

Parece lamentação, mas vamos ser realistas: isso é constatação!

Temos valor apenas enquanto estamos sendo úteis, produtivos, servindo mesmo que em situações fragilizadas, onde a saúde está comprometida? Aí vem a contenda mais dura e cruel: NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL!!

Num primeiro momento parece ser orgulho, pretensão, soberba até, em achar que não existe alguém igual a você para desempenhar tal função. Mas, de fato, somos únicos em nossa essência, e não há uma igual a mim ou uma igual a você - somos todos criaturas de um mesmo Criador. Cada um com seus dons, defeitos, virtudes, valores, qualidades, bondades e também maldades.

Quando um colega se afasta seja por doença, tratamento, desvio de função ou mesmo falecimento, o primeiro pensamento que surge é: precisamos arrumar uma substituta. Estamos erradas?

Não estamos aqui culpando a equipe gestora, e nunca pensamos em usar essa frase que causa-nos profunda irritação... a culpa é do sistema! Simples assim, em sua total frieza de sentimentos.

As crianças, os alunos, não podem ficar sem atendimento, pois a comunidade cobra, a secretaria de Educação cobra, e quem faz parte da pirâmide hierárquica deve sempre obediência.

O mais triste ainda é em relação ao falecimento de colegas, ou mesmo parentes dos mesmos. A cota para uma coroa de flores para uma singela homenagem tem de ser feita e, pior ainda, se não houver atendimento nesse dia, precisa informar já uma data para sua reposição.

Perguntamos: onde fica a tristeza, a compaixão, a solidariedade e o amor ao próximo? Uma certeza que temos: no outro dia terá alguém no lugar daquele que se foi, e assim a jornada continua...

Para não perdermos o valor, ficamos proibidos (ou, é melhor, não) de adoecermos, não afastarmos de nossas funções, para não sermos descartados e substituídos logo em seguida.

 Esse desabafo pode sugerir que estamos insatisfeitas com nossas profissões, mas simplesmente amamos o que fazemos e, claro, sofremos por nos afastarmos, mesmo que momentaneamente, para submetermo-nos a algum tipo de tratamento.

 Muitas e muitas vezes, “lutamos” para não adoecermos, para não sentirmos dor, para suportarmos tudo o que nos cabia fazer - até ultrapassarmos o limite de nossas forças.

Às vezes, pagamos um preço bem alto por negar e não aceitarmos uma doença e o seu tratamento, não sabemos quanto tempo durará essa batalha, mas sabemos que venceremos, precisamos vencer, por nós, por nossa família, por nossos amigos, por nossos colegas, por nossos médicos (anjos), e principalmente por cada um dos pequeninos que já passaram e passarão por nossas mãos.

Apoio, amizade, carinho, atenção, respeito, solidariedade e amor, muito amor, são doses que aliadas aos medicamentos têm efeitos positivos - sem contar que não provocam reações adversas.

Permita-nos dar um conselho: ame-se mais, se dê o devido valor, aceite suas limitações, peça ajuda, busque ajuda, e lembre-se: você é, sim, substituível! Mesmo sendo único, aceitar isso já é meio caminho andado. Faça tudo o que estiver ao seu alcance, da melhor forma possível, com todo amor e carinho, como se essa fosse sua última oportunidade. Abençoe todos os dias a sua família, o seu trabalho, os seus colegas, a sua vida e, principalmente, a sua saúde.

E vamos ser felizes, mesmo que derramando lágrimas!

(*)Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodrigues Maciel e Sibele Silva Leal Rodrigues, pedagogas, são professoras da rede municipal em Rondonópolis (MT).