Educação profissional engajada
Publicado em 27 de setembro de 2018 por Jean Carlos Neris de Paula
Uma educação profissional ampla, voltada ao exercício da cidadania plena, não pode ser direcionada apenas à formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Assim, para superar a visão mercadológica no sistema educativo, torna-se necessária uma mudança nas finalidades pedagógicas, isto é, uma ruptura teleológica calcada no desenvolvimento de uma prática de formação contra-hegemônica. Para tanto, urge considerar o princípio educativo do trabalho, a consciência de classe dos trabalhadores e a transformação social, bem como a relevância de pesquisas e práticas educacionais ligadas à construção de propostas de ensino humanizado.
Já que os saberes se constituem no e pelo trabalho, conforme apregoa Barato (2008), a educação integrada deve valorizar a formação profissional ampla de sujeitos que apreendem fazeres culturais e sociais significativos no tecido da sociedade. Na interação, os conhecimentos socializados no saber/fazer constituem a base do processo de ensino e aprendizagem. É por isso que as obras dos trabalhadores têm que ser valorizadas em profissões interdependentes que não representam apenas a luta pela sobrevivência, mas também um estar no mundo dignamente realizado por intermédio da atuação profissional.
Assim sendo, os cidadãos devem aprender a perceber a consciência de classe a que pertencem, visando a lutar por uma transformação social. Nesse sentido, a educação precisa ser emancipadora, libertária, politizada, no objetivo de eticamente combater a exploração realizada pelos donos dos meios de produção. A verdadeira aprendizagem confere autonomia ao indivíduo pelo saber e pelo fazer indissociáveis, numa sistemática de entrelaçamento mediado interatividade laborativa e dialógica de pertencimento a uma comunidade.
A transformação sociocultural de que a sociedade necessita na área educacional e profissional exige a valorização de estudos e comportamentos ligados ao desenvolvimento de uma educação profissionalizante, pública e gratuita, a todos os cidadãos, sem a dicotomia intelectual vs. manual, mas coma indissociabilidade entre teoria e prática. faz-se necessário entender que o ideal é aprender fazendo e fazer aprendendo sem separação entre ambas as atividades.
Em vista disso, a educação profissional integrada requer uma formação onilateral, integral, humana. Práticas integradoras, portanto, contextualizadas, interdisciplinares, precisam ser efetivadas de fato, a fim de se formarem cidadãos críticos, criativos, conscientes, livres das manipulações ideológicas do mercado capitalista exploratório. Dessa forma, o ensino médio integrado representa uma passagem à formação geral do ser humano, capaz de desenvolver uma identidade própria, uma organização coletiva, uma capacidade de aprender a aprender em diversos contextos interacionais da vida social e profissional. O ensino médio, assim, deve se mostrar interdisciplinar, contextualizado e comprometido com a transformação social, de acordo com Araujo e Frigoto (2015).
Por tudo isso, a educação profissional e tecnológica precisa se libertar da pressão mercantilista e se voltar ao entendimento de que o homem se criou a partir do ato de trabalhar, de interferir na natureza e modificá-la a seu favor, distinguindo-se dos animais irracionais. Logo, dada a importância do trabalho para a humanidade, o trabalho deve libertar o homem em vez de prendê-lo. Sendo assim, os trabalhadores precisam se organizar na exigência de direitos importantes para a dignidade do ser humano.
Jean Carlos Neris de Paula