Uma educação profissional ampla, voltada ao exercício da cidadania plena, não pode ser direcionada apenas à formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Assim, para superar a visão mercadológica no sistema educativo, torna-se necessária uma mudança nas finalidades pedagógicas, isto é, uma ruptura teleológica calcada no desenvolvimento de uma prática de formação contra-hegemônica. Para tanto, urge considerar o princípio educativo do trabalho, a consciência de classe dos trabalhadores e a transformação social, bem como a relevância de pesquisas e práticas educacionais ligadas à construção de propostas de ensino humanizado.

Já que os saberes se constituem no e pelo trabalho, conforme apregoa Barato (2008), a educação integrada deve valorizar a formação profissional ampla de sujeitos que apreendem fazeres culturais e sociais significativos no tecido da sociedade. Na interação, os conhecimentos socializados no saber/fazer constituem a base do processo de ensino e aprendizagem. É por isso que as obras dos trabalhadores têm que ser valorizadas em profissões interdependentes que não representam apenas a luta pela sobrevivência, mas também um estar no mundo dignamente realizado por intermédio da atuação profissional.

Assim sendo, os cidadãos devem aprender a perceber a consciência de classe a que pertencem, visando a lutar por uma transformação social. Nesse sentido, a educação precisa ser emancipadora, libertária, politizada, no objetivo de eticamente combater a exploração realizada pelos donos dos meios de produção. A verdadeira aprendizagem confere autonomia ao indivíduo pelo saber e pelo fazer indissociáveis, numa sistemática de entrelaçamento mediado interatividade laborativa e dialógica de pertencimento a uma comunidade.

A transformação sociocultural de que a sociedade necessita na área educacional e profissional exige a valorização de estudos e comportamentos ligados ao desenvolvimento de uma educação profissionalizante, pública e gratuita, a todos os cidadãos, sem a dicotomia intelectual vs. manual, mas coma indissociabilidade entre teoria e prática. faz-se necessário entender que o ideal é aprender fazendo e fazer aprendendo sem separação entre ambas as atividades.

Em vista disso, a educação profissional integrada requer uma formação onilateral, integral, humana. Práticas integradoras, portanto, contextualizadas, interdisciplinares, precisam ser efetivadas de fato, a fim de se formarem cidadãos críticos, criativos, conscientes, livres das manipulações ideológicas do mercado capitalista exploratório. Dessa forma, o ensino médio integrado representa uma passagem à formação geral do ser humano, capaz de desenvolver uma identidade própria, uma organização coletiva, uma capacidade de aprender a aprender em diversos contextos interacionais da vida social e profissional. O ensino médio, assim, deve se mostrar interdisciplinar, contextualizado e comprometido com a transformação social, de acordo com Araujo e Frigoto (2015).

Por tudo isso, a educação profissional e tecnológica precisa se libertar da pressão mercantilista e se voltar ao entendimento de que o homem se criou a partir do ato de trabalhar, de interferir na natureza e modificá-la a seu favor, distinguindo-se dos animais irracionais. Logo, dada a importância do trabalho para a humanidade, o trabalho deve libertar o homem em vez de prendê-lo. Sendo assim, os trabalhadores precisam se organizar na exigência de direitos importantes para a dignidade do ser humano.

Jean Carlos Neris de Paula