O objetivo deste estudo é a busca dos contrastes da representação de gênero em aulas de Educação Física. Pôde-se observar em diversos estudos que as relações conflituosas entre meninos e meninas reincidem ocorrem, entre outras maneiras, por meio de representações biológicas, como por exemplo, de que as meninas são mais fracas que os meninos. As aulas no regime de coeducação poderão ser um meio de humanizar tais diferenças socialmente produzidas, desde que o docente seja um mediador empenhado em identificar, investigar e interceder nestas diferentes situações.

1. Introdução Uma das grandes provocações defrontadas pelos professores de Educação Física em sua prática docente refere-se à adoção de um procedimento adequado para o trabalho com turmas mistas na problematização do gênero. A compreensão das relações de gênero como um processo evolutivo que envolve os parâmetros das masculinidades e das feminilidades, além das mais randômicas possibilidades pelas quais constituímos nossos corpos, nossas identidades e nossos anseios, nos remete a muitas áreas do conhecimento, entre elas a educação em geral e, mais especificamente, a educação física escolar. Percebe-se que as práticas pedagógicas precisam ser repensadas para que se possa construir uma nova abordagem dos conteúdos sob o olhar da equidade de gênero. Dentro do sistema de sociedade patriarcal, em que o homem é mais “forte” – logo, digno de posições de prestigio e maior importância – e a mulher é mais “fraca” – logo, impossibilitada para determinadas coisas e ocupando papéis secundários da vida em sociedade. As diferenças físicas entre homens e mulheres são acentuadas nas aulas de Educação Física, junto a isso os conceitos que esta sociedade patriarcal repassa na maneira de educar meninos e meninas, que enfatiza os conceitos de força e superioridade masculina. Essa abordagem nos incita a fazer algumas reflexões: Qual seria o modo mais adequado de transmitir aspectos éticos e morais em uma sociedade que enaltece o “ter mais” o “ser mais”, o “quem é mais esperto é o melhor”? De que forma podemos formar indivíduos com possibilidades de novas realizações se a exclusão começa dentro da escola, espaço crucial da Educação? É percebido que a avaliação na Educação Física escolar geralmente é excludente e seletiva. Aspectos como questões de gênero, por exemplo, podem passar despercebidos pelos docentes, como: selecionando, excluindo, priorizando com um objetivo de que a igualdade seja uma meta ou objetivo a ser alcançado. Com as modificações dos conceitos de gênero e sexualidade ao longo dos anos, surgem necessidades de debates, estudos e reflexões tanto sobre as relações de gênero e sexualidade nos processos de ensinar e aprender quanto nas possibilidades de outras práticas de inclusão e exclusão dos alunos nas escolas e seus espaços pedagógicos. Comentado [ICMDM1]: Essa frase precisa de um encerramento, pois está solta no meio do texto. Falta um complemento... Comentado [ICMDM2]: Aqui não deu pra entender: o erro do docente aqui é querer que meninos e meninas façam a mesma coisa? 8 Problematizando a desigualdade de gênero, percebe-se que algumas práticas docentes de Educação Física ainda ressaltam o separatismo de várias formas: seja na organização das aulas, em que, na maioria das vezes, o educador separa meninos e meninas, construindo inconscientemente a “aprendizagem da separação”, conforme Luciano Corsino e Daniela Auad (2012). A Educação Física abrange diversos temas da Cultura Corporal, em forma de jogo e brincadeira, luta, dança, esporte e ginastica. Cada um desses temas compõe-se de diversas gamas de atividades que podem potencializar a equivocada premissa de que existem atividades essencialmente femininas e que o menino, ao praticá-las, pode ter sua orientação sexual influenciada. Basta compreender que, muitas vezes, mulheres que jogam futebol são chamadas de “maria macho”, tanto na escola quanto no meio profissional. Outro ponto a ser discutido são as práticas discursivas dos docentes, sobretudo os de Educação Física, que, muitas vezes incluem piadas e comentários que podem influenciar negativamente os estudantes, visto que o professor é referência para o jovem. Para Brah (2006), as desigualdades de gênero penetram em várias esferas da vida e, nesse trabalho, pretende-se enfatizar duas delas: a escola e a Educação Física, com foco no confronto da realidade social x abordagens. A escola ensina não só as disciplinas curriculares, como Português, Matemática, História e Educação Física, mas também por meio das relações que nela encontramos. Neste ambiente, aprende-se sobre valores, moral e ética, porém poucas disciplinas do currículo abordam esses temas. Procurando a reflexão para poder elucidar tais questões do cotidiano docente da Educação Física, presta-se alguns dos referenciais teóricos utilizados para embasar a pesquisa deste trabalho: Helena Altmann e Eustáquia Salvadora de Souza (1999), Brasil (1997; 1998), Luciano Corsino (2012), Duran (1999), Mirian Pilar Grossi (2015), Mareli Eliane Graupe (2015), Agripino Alves Luz Júnior (2003) e Guaciara Louro (2003). Tais materiais destacam-se nos estudos de gênero no meio educacional e na área da Educação Física Escolar. Com esses referenciais poder-se-á realizar uma pesquisa em que os capítulos se constroem e seguem sob esse embasamento teórico ante o tema estudado. [...]