EDUCAÇÃO E O SISTEMA CAPITALISTA: “ALUNO VISTO COMO FUTURO LUCRO”

 

Ileide Cristina Baú[1]

 

“Quem melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? (FREIRE, 2011)

 

 

Atualmente o país está passando por uma crise na educação, pais de todas as classes buscam o melhor ensino para seus filhos, educação é vista como um forte instrumento de emancipação do sistema capitalista, na qual futuramente os alunos serão o lucro para as grandes empresas.

O aluno é visto como se fosse uma mercadoria, na qual futuramente seu capital intelectual vai se transformar em lucro para alguém, o professor tem a função de gerenciar, tornando a educação em uma mercadoria muitas vezes barata.

Marx e Freire travam uma luta, contra essa ideologia. Marx que travou uma luta anos atrás com a burguesia e o proletariado, influenciou Freire o patrono da educação para jovens e adultos no Brasil querer uma educação humanizadora, sem que haja oprimido e opressores.

Diante dessa sociedade capitalista, onde enxergam alunos e professores como máquina de ganhar dinheiro faço uma análise sobre burguesia e proletariado com a ajuda de Marx, sobre o enfoque da pedagogia humanizadora para todos, que haja libertação dos oprimidos em relação aos opressores, com ajuda de Freire.

Marx (2012) entende por educação, que ela deve ser gratuita, pública e uniforme para todos, ajudar no desenvolvimento integral e da personalidade, enriquecendo professor e aluno em conhecimentos e que a educação deve promover a transformação social.

Fazendo uma análise com a atual Reforma do Ensino Médio imposta pelo governo, nota-se que o sistema capitalista está muito presente na educação, no qual seu principal objetivo é formar mão de obra qualificada e barata.

A crise da educação tem como base a instabilidade do trabalho alienado, próprio da sociedade capitalista em seu desenvolvimento. Nessa evolução, denominado toyotismo, o capital, é à medida que favorece o avanço tecnológico para ampliar sua produção, reduzindo significativamente o trabalho vivo, limitando esse trabalho, aumentando a fila de desempregados no país, no qual o destino é somente um, a miséria.

Lombardi; Saviani; Sanfelice (2002 p.78) destacam,

 

“a facilidade com que a pedagogia toyotista se apropria sempre do ponto de vista do capital, de concepções elaboradas pela pedagogia socialista, com isso, estabelece uma ambiguidade nos discursos e nas práticas pedagógicas.”

 

Nunes (2003) traz a relação da globalização e o sistema capitalista, junto com o desenvolvimento social e político dos países subdesenvolvidos.

O autor trata da globalização como um fenômeno de natureza cultural e ideológica, trazendo em seu contexto o desenvolvimento de países que se libertaram do colonialismo e foram obrigados a adotar um modelo de economia e social, a “ditadura do pensamento único”.

Diante disto surgiu a teoria keynesiana para poder defender essa situação de desequilíbrio econômico, que era culpa da crise gerada pelo sistema capitalista. Mas logo após essa ideia manifestou-se os monetaristas para defender que os países subdesenvolvidos precisavam de “um mercado capitalista vigoroso e livre” (Milton Friedman).

A globalização trouxe consigo o desenvolvimento, mas também a desigualdade, onde alguns tinham mais e outros não. As grandes indústrias e multinacionais assim crescem em disparada, com o trabalho dos países subdesenvolvidos, um sistema totalmente capitalista.

É preciso ter respeito à dignidade do homem, com as suas necessidades básicas, ao qual se deve a ideia de que o desenvolvimento que implica no direito a um grau razoável de igualdade entre todos os cidadãos do mesmo país” (NUNES 2003 p.112).

Marx e Engels (2006) defendiam a queda da classe burguesa e a soberania do proletariado, o rompimento da antiga sociedade burguesa e a fundação de uma nova sociedade sem classes e sem propriedade privada. Esse manifesto é uma análise da luta de classes e um pedido de “união” entre os operários do mundo.

Freire (1997) fala da classe opressora e da classe oprimido, analisando com as falas de Marx pode se dizer em burguesia e o proletariado. O autor cita violência dos opressores – a do ser menos. Uma grande tarefa aos oprimidos é se libertarem de seus opressores. Estes que exploram em todas as maneiras, por seu poder, de forma individualista.

A educação que Freire busca é que a venha de auxílio no desenvolvimento das pessoas e que acima de tudo não venha alienar e fazer uma educação bancária, que os professores não vejam seus alunos nem como tábua rasa e nem como caixa eletrônico que possam somente fazer o depósito do que eles dizem, e sim que seja uma troca de informações e conhecimentos a ambos.

A relação entre educação e capitalismo está presente na legislação educacional vigente, LDB ─ lei n° 9.394/96, ou seja, há algum tempo a escola tem sido o meio pelo qual forma-se a mão de obra necessária à manutenção social, que nos diz:

 

[...] O objetivo da Educação Básica é assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LDB Art. 21 e 22).

 

Na citação acima, retirada da LDB 9.394/96, fica claro que a lei maior que regulamenta a nossa educação, também vê a escola como um espaço de formação para o mercado de trabalho.

Fundamentando o pensamento, no qual se objetiva uma discussão por meio do rompimento da relação entre educação e capitalismo, pautado nas políticas e não na função social de formação do aluno, é indispensável à mudança no contexto social e educacional, a fala de FREIRE (1996, p. 53-54):

 

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo. Seria irônico se a consciência de minha presença no mundo não implicasse de minha ausência na construção da própria presença. Não posso me perceber como uma presença no mundo mas, ao mesmo tempo, explicá-la como resultado de operações absolutamente alheias a mim. Neste caso o que faço é renunciar à responsabilidade ética, política e social que a promoção do suporte de mundo nos coloca. Renuncio a participar a cumprir a vocação ontológica de intervir no mundo. O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História.

 

Isso não quer dizer que a escola não deva contribuir para formar para o mercado de trabalho, porém, não para o trabalho alienado. A escola precisa oferecer aos alunos o conhecimento sistematizado para que estes possam interagir no mundo do trabalho, compreendendo as relações de poder e de opressão que se tecem, de forma a atuarem futuramente como agentes de transformação e não apenas como sujeitos passivos que se deixam predominar pelo sistema. Esta concepção é distinta da teoria do capital humano, não se tratando de formar mão de obra para o “mercado de trabalho”, mas formar o cidadão/trabalhador para que tenha possibilidades de sobrevivência num sistema perverso que visa à acumulação de capital na mão de poucos.

Conforme Freire (2011) entende que a educação como meio de intervenção nesse mundo, serve tanto para a reprodução da ideologia dominante, quanto para o seu desmascaramento. Portanto, quando a prática educativa é realizada por meio da “educação bancária”, o professor simplesmente deposita para o aluno o que ele sabe, servindo para reprodução da ideologia dominante. A concepção de educação bancária é visto como instrumento de opressão, ela simplesmente deposita o conhecimento que a burguesia prioriza, sem que haja algum debate com os alunos.

É possível notar que o professor vive um drama entre ensinar a pensar e o que lhe é imposto pelo governo, com base no currículo escolar. Ou seja, o educador hoje é tão vítima como o oprimido, pois é meramente mais um deles.

Enquanto isso, a educação torna-se cada vez mais um mecanismo usado tanto para a reprodução do sistema capitalista e para responder às suas necessidades.

Cabe ressaltar a relação entre educação e capitalismo para o ensino e formação cidadã faz-se necessário, salientar que a sociedade contemporânea vê os professores como profissionais que devem somente ensinar o que lhe é necessário para o sistema capitalista, a escola é simplesmente uma indústria que promove a mão de obra, esquecendo que a escola deve promover o conhecimento, com o intuito de formar cidadãos com censo crítico e com finalidade de transformar essa sociedade desigual.  

A fim disso nota-se que é preciso fazer uma educação de encontro com a emancipação, visando que conhecimento não é mercadoria.

 

 

Referência

 

BENEDITO, Moraes Neto... [et al]. Marxismo e socialismo no século 21. Campinas, SP: UNICAMP/ IFCH: Xamã, 2005.

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2012.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): Lei 9.394/96

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 3º ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50º ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2011.

LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval; SANFELICE, José Luís. Capitalismo, trabalho e educação. Campinas, SP: Histedbr, 2002

MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 10º ed. São Paulo, SP: Global, 2006.

NUNES, Antonio José Avelãs. Neoliberalismo e direitos humanos. Rio de Janeiro, RJ: Renovar, 2003.

 RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 2002.  (p. 71 – 84)

[1] Acadêmica do curso de Pedagogia – Universidade Federal da Fronteira Sul. Contato [email protected]