A partir da função educativa do trabalho, o ser humano produz, transforma e se transforma, aprende e se estabelece social e politicamente. Entretanto, a divisão social do trabalho, que abandona o valor de uso em favor do valor de troca, só prejudica o entendimento de que as profissões se articulam necessariamente na ação humana de se inserir social e profissionalmente, carecendo de mais valorização das atividades honestas de sobrevivência e dignificação da pessoa humana.

Para tanto, precisa a escola desfazer preconceitos e ideologias dominantes dentro da dimensão política do ato de educar. O projeto de educar, portanto, apresenta a necessidade de ser contra-hegemônico, a fim de libertar as classes dominadas da opressão exploratória dos donos dos meios de produção no sistema capitalista. O s sujeitos formados com espírito crítico têm mais condições de se valorizar na dimensão de suas realizações e de exigir direitos contrários à exploração do capital.

Por isso, a educação profissional como um todo deve ser ampla na ascensão cultural, científica e tecnológica de toda a sociedade, sem distinção de classe. No aspecto sociocultural, o trabalhador tem de ter acesso a tempo de lazer e desfrute dos patrimônios culturais e artísticos da humanidade. No que diz respeito às questões científico-tecnológicas, devem as pessoas compreenderem a ligação entre o pensar e o fazer indissociáveis para valorizarem as atividades de pesquisa e produção em suas interdependências, sem a supremacia de um sobre o outro. Assim sendo, a educação profissional tem necessidade de alcançar igualmente a todos os indivíduos.

Em vista disso, deve-se educar para a promoção da cidadania plena, ou seja, a vida coletiva, política, das cidades, onde vivem os cidadãos, com deveres e direitos assegurados. A humanidade precisa, assim, ser capaz de agir intencionalmente, transformando o mundo em que vive e a si mesma. O sentimento de sobrevivência e de interação a partir do trabalho que forma uma identidade de autoestima do trabalhador revela a importância da dignidade despertada no sentido atribuído às atividades desenvolvidas pelos trabalhadores dentro de uma tessitura sociocultural.

Dessa forma, o ato de educar tem de valorizar o caráter libertário, emancipatório e político de uma educação unitária de formação omnilateral dos indivíduos em sociedade. Não podem os professores, por conseguinte, ser amordaçados em suas defesas de teses filosóficas, sociológicas, políticas e ambientais, tendo em vista a importância do docente na apresentação de pensadores e teorias clássicos que diacrônica e sincronicamente permeiam a história das mais diversas sociedades ao longo de séculos de debates temáticos que precisam avançar na construção de um modelo social mais humano, que desperte o trabalhador do domínio e da exploração de sua força de trabalho e o liberte para a sua realização profissional e social.

Desse modo, a busca por justiça social, sem as desigualdades injustificáveis, se torna mais viável, na medida em que a educação geral e profissional se apresenta centrada na pessoa que produz conhecimento e que transforma o saber em realidade palpável, valorizando a existência do ser humano numa perspectiva de dignidade humanística acima de privilégios a uns em detrimento de outros, mas com a sustentação da visão igualitária entre os indivíduos em sociedade.

Jean Carlos Neris de Paula