Educação e formação para uma filosofia do sucesso

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 09/11/2011 | Filosofia

A existência humana compõe-se de êxitos e fracassos, sejam eles de natureza material ou imaterial. Elaborar projectos de vida, executá-los e avaliá-los é um dever legítimo de toda a pessoa.

Lutar pelo êxito de tais projectos é uma atitude salutar, que promove o desenvolvimento, o progresso e o bem-estar. Exigir educação e formação para a aplicação de uma filosofia do sucesso é uma condição que deve ser considerada, não só pelo próprio, como também pelos grupos intervenientes, institucionais ou não, formais ou informais, destacando-se, pela sua capacidade de congregar recursos diversos, o Estado.

Quanto maior for o sucesso dos cidadãos individuais, mais aumentam as possibilidades da comunidade em geral, para alcançar idêntico êxito e o correspondente bem-estar. Para que tais objectivos sejam alcançados é necessário criar um espírito de competitividade, uma filosofia para o sucesso, o mais cedo possível, na vida de cada pessoa, desejavelmente, na idade escolar.

Educar e formar para a filosofia do sucesso pode constituir um bom princípio para percorrer o caminho do bem-estar, obviamente sem atropelar idênticos direitos e estratégias dos seus semelhantes.

A Filosofia também tem uma imensa dimensão prática. Nem outra condição seria de esperar, na medida em que é através da reflexão, da criatividade, de ideias originais, de teorias, mais ou menos consistentes, que se constrói o mundo abstracto e artificial em que a humanidade vive, se buscam as condições máximas para o bem-estar geral e material, mas também individual e interior.

A ideologia na sua vertente de construção de ideais, entenda-se, bons ideais, ao serviço dos valores universais de: Deus, paz, justiça, família, trabalho, educação, liberdade, segurança, propriedade, democracia, tolerância e tantos outros, representa o mais elevado grau da inteligência abstracta do homem, que nenhum outro animal consegue atingir.

Também aqui, no mundo dos valores, a Filosofia tem um papel fundamental porque: “Embora o reconhecimento do universo de valores seja tão antigo quanto a capacidade que o homem tem de pensar a respeito de suas acções, apenas no século XIX surge a teoria dos valores ou axiologia, como disciplina filosófica específica que aborda de maneira sistematizada essa temática.” (ARANHA, 1996: 118)

O projecto de vida que incorpore as dimensões: científica, técnica e filosófica, provavelmente, terá as melhores condições possíveis para o sucesso material e espiritual ou interior, pensando-se que não será fácil a uma pessoa sentir-se realizada, (feliz?) apenas na vertente material; o contrário também se aceita como possível (mesmo indo contra um certo romantismo, defensor da pobreza digna e honesta).

O sucesso e os bens materiais não são inimigos, nem incompatíveis com os valores morais, éticos e religiosos, nem tão pouco com uma vida simplificada, humilde e despida de preconceitos.

Aliás, o que seria desejável é que o homem se realizasse integralmente nas suas duas principais dimensões: física e espiritual. Nessa perspectiva, as famílias e as outras instituições – família, escola, Igreja, empresa, comunidade, comunicação social – têm uma função primordial na educação das crianças, jovens e adultos, (e até nos idosos) para uma filosofia do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar, assente no estudo, no trabalho e na economia, esta, por via da poupança.

A primeira década deste novo século, bem poderia ficar indelevelmente inscrita na história da humanidade, como o início de uma nova era do desenvolvimento, do progresso e da harmonia entre os vários povos de um mesmo planeta.

O caminho a percorrer, dados os imensos obstáculos, criados e mantidos pelo próprio homem, é longo e difícil, mas não haverá outro se de facto se desejar um mundo melhor para as actuais e vindouras gerações. É necessária muita coragem, um forte sentimento de solidariedade e grande controlo sobre os egoísmos exacerbados e praticamente ilimitados de uns, em benefício dos milhões de pobres, discriminados e marginalizados.

Àqueles que já possuem muito, mesmo que os seus bens tenham sido adquiridos por mérito próprio, com base no trabalho, no estudo e na poupança, não causará grande diferença se aplicarem uma parte desse património no desenvolvimento que favoreça os mais necessitados.

Uma tal atitude dos mais ricos vem confirmar que: “São indispensáveis novas formas de desenvolvimento entre os ricos para o melhor desenvolvimento dos mais desfavorecidos. É por um duplo esforço tendente a um fim comum que se pode esperar a redução das desordens mais flagrantes na economia mundial. A reestruturação material da produção e das trocas exige a renovação dos instrumentos de análise e das doutrinas. Para esta tarefa de civilização são convocadas as culturas originais em que conjuntos humanos, no decurso de uma longa história, tentaram inscrever as suas razões de viver.” (PERROUX, 1987: 35)

A existência de extrema pobreza de muitas famílias e da miséria absoluta de outras, a par daquelas que, por vergonha, tentam encobrir situações verdadeiramente desumanas, constitui, actualmente, para um mundo pretensiosamente civilizado, moderno, progressista, científica e tecnologicamente avançado, um libelo impossível de se ignorar.

A responsabilidade por esta inaceitável chaga mundial, que deve envergonhar todos aqueles que, podendo fazer alguma coisa, não o têm conseguido, estende-se um pouco a toda a humanidade, incluindo os próprios indivíduos que vivem aquelas situações humilhantes, partindo do pressuposto que não teriam feito tudo o que poderiam, e deveriam, para viverem uma vida melhor.

Em todo o caso, a responsabilidade maior sempre poderá ser atribuída a quem detém os recursos e os meios para os implementar, bem como àqueles que tendo a obrigação de darem exemplos de sobriedade, rigor, simplicidade e transparência, na gestão dos recursos públicos, agem, precisamente, ao contrário e, muitas vezes, em benefício de um determinado grupo privilegiado em que se inserem, porque em bom rigor: “O desenvolvimento de cada homem é uma finalidade que deveria ser aceite unanimemente pelos responsáveis da política, da economia e da investigação, hoje que alguns dos estratagemas mais grosseiros foram desmascarados pela história contemporânea, à custa das violências sangrentas que as violências íntimas provocam nas instituições.” (Ibid.: 34)

É evidente que ao imputarem-se responsabilidades, a quem detém determinados poderes: político, económico, investigativo, estratégico, bélico, religioso, influenciador na organização e desenvolvimento da sociedade, pretende-se envolver o homem no seu estatuto individual, adquirido ou construído.

Nessa perspectiva e na linha de pensamento, já esboçada acima, defende-se o princípio, segundo o qual: cada pessoa tem de se responsabilizar pela elaboração, desenvolvimento e validação (ou não) do seu próprio projecto de vida.

 Se os resultados negativos não lhe forem maioritariamente imputáveis, então sim, os poderes constituídos e já mencionados, têm a obrigação de ajudar, orientar, conduzir e avaliar quaisquer outros projectos, que conduzam ao sucesso daquele indivíduo, daquela família ou comunidade.

Desta forma, pretende-se, assim, incluir o indivíduo no seu próprio projecto de vida, concedendo-lhe todas as facilidades possíveis e exigindo-se-lhe as correspondentes responsabilidades, porque esta estratégia pode contribuir para o êxito do projecto de vida e da própria auto-estima do sujeito, directamente envolvido e interessado no seu sucesso.

Resulta, em primeira instância, que concedidas todas as condições materiais, técnicas e administrativo-legais ao cidadão, para desenvolver o seu projecto e vida, ele não poderá, em circunstâncias normais, imputar a responsabilidade de um eventual fracasso a outras pessoas e/ou instituições.

Recusa-se assim um Estado, ou um determinado poder público e/ou privado, paternalista, benfeitor, misericordioso ou obrigado a prestar caridade, porque em boa coerência, concorda-se que: “O desenvolvimento das pessoas é obra das próprias pessoas; nem uma só pode descarregar sobre outrem o cuidado de sua existência humanizada e da sua própria expansão. Este imperativo é precedido em muitas culturas e encorajado por um grande número de pensamentos religiosos.” (Id. Ibid.: 251)

A estratégia e metodologia, aparentemente, mais favoráveis ao sucesso do desenvolvimento da pessoa individual e das comunidades, parecem, portanto, assentar nos dois principais intervenientes, directamente interessados no bem-estar dos cidadãos: o Estado, considerado nos seus diferentes órgãos, poderes e recursos; o próprio indivíduo, sujeito activo e beneficiário directo do seu próprio projecto de vida que, a ter sucesso, influenciará a família, os amigos e a comunidade em que se integra.

Governantes e governados, empresários e trabalhadores, professores e alunos, religiosos e crentes, todos serão envolvidos numa filosofia de vida direccionada para o desenvolvimento de melhores condições de bem-estar individual e colectivo.

A existência e manutenção de certos preconceitos, estatutos sociais e outros; excessivos egoísmos e ilimitadas ambições, certamente que prejudicam qualquer projecto de desenvolvimento pessoal e comunitário, sendo, igualmente, verdade que o homem, na sua passagem física pela Terra, tem o dever de deixar a sua marca humanista, solidária, altruísta e progressivamente ao serviço de toda a humanidade.

O processo de desenvolvimento passa, necessariamente, pela rápida aproximação entre ricos e pobres, pela inclusão dos povos, pela livre circulação e estabelecimento das pessoas, num espaço interplanetário que a todos foi concedido, sem privilégios para ninguém.

É correcto e plausível aceitar-se que uns possam viver melhor do que outros, quando os que estão em piores condições, se recusam a participar no seu próprio projecto devida e na construção de uma sociedade mais humana e mais justa; a assertiva contrária é, igualmente, correcta e aceitável, isto é, se aqueles que pelo trabalho, pelo estudo, pela poupança e participação no desenvolvimento individual e colectivo, se encontram numa situação mais favorável, deve-se-lhes reconhecer o mérito e, na medida do possível, procurar imitá-los, precisamente, com as mesmas armas.

A inveja, a maledicência e outros sentimentos e comportamentos, respectivamente, em relação aos ricos e/ou àqueles que tem sucesso na vida, não são valores e processos compatíveis com o homem educado, bem formado, que se pretenda impor na comunidade como pessoa competente, digna e respeitada.

 

Bibliografia

 

ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna.

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2002). “Silvestre Pinheiro Ferreira: Paladino dos Direitos Humanos no Espaço Luso-Brasileiro” Dissertação de Mestrado, Braga: Universidade do Minho, Lisboa: Biblioteca Nacional, CDU: 1Ferreira, Silvestre Pinheiro (043), 342.7 (043).

BARTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2009). Filosofia Social e Política, Especialização: Cidadania Luso-Brasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais, Tese de Doutoramento, Bahia/Brasil: FATECTA – Faculdade Teológica e Cultural da Bahia.

PERROUX, François, (1987). Ensaio sobre a Filosofia do Novo Desenvolvimento. Trad. L. M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (UNESCO, 1981)

 

 

Venade-Caminha, Portugal, Novembro 2011

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