Introdução

O presente resumo tem como tema “Educação e Ética” em Jorge Renato Johann. Renato tenta estabelecer uma aproximação entre o pensamento ético e o pensamento educacional. Numa sociedade como nossa que dá mais ênfase a técnica do que a ética, não resta dúvidas que o livro de Jorge Renato merece uma atenção de todos.

O seu livro constitui-se num trabalho de conclusão de curso de doutorado em Educação. Assim, para Johann a escola deve se constituir num espaço de reflexão da sociedade em que ela esta contida. Porém, é através da edução que se pode gerar caminhos de construção de uma realidade mais humana para todos. No entanto, para que isso possa se concretizar é preciso que os profissionais que nela actuam busquem valores que fundamentam um novo homem, uma nova sociedade e sumam a tarefa histórica de implementa-los.

E construção dessa realidade só poderá ser viabilizada pela aproximação entre educação e ética. Para Johann é preciso que a educação se constitua em uma acção ética para que se construa um novo homem e uma nova sociedade. Neste âmbito, é preciso educar as futuras gerações para que assumam o compromisso ético da construção de uma realidade mais justa e equitativa é que se funda a esperança de um mundo melhor para todos.

Na concepção de Johann, Educação e Ética, analisam a possibilidade de se reduzir as contradições em que se movimentam os seres humanos em todo mundo. A educação não será o único caminho de solução dos problemas actuais, mas o espaço educativo se constitui em um espaço de excelência para que seja plantada uma nova realidade e germinar. Neste contexto, somente o compromisso ético verdadeiramente assumido fará com que a escola cumpra o seu papel na construção da esperança de um mundo melhor para toda humanidade. Neste conceito de educação Johann cita Freire que afirma que, toda educação será, sobretudo, uma construção profundamente ética.

A educação que tem-se hoje se constitui na imagem clara do sistema vivido por toda a sociedade. Nas salas de aula aprender continua sendo acumular informações, de ouvido atento e boca fechada. A dúvida é reprimida e a pergunta é tida como algo incómodo e perda de tempo. O aluno é mantido em silêncio, pois cabe a ele somente obedecer disciplinadamente e acatar as ordens que lhe são impostas. 

1. Educação, ética e sociedade

Segundo Renato a ética é a condição indispensável para que a educação se construa, então para explicar o conceito da educação que esta inerente a ética, primeiro deve-se contextualizar a existência humana, o motivo da emergência educativa e das exigências éticas.

O homem é único ser que não recebe uma vida pronta e acabada diferentemente dos outros seres. Para o homem a sua grande tarefa será a sua própria construção, ou seja, o homem é um projecto contínuo. O ser humano pode ir além do estado natural. É, justamente aqui onde se inscreve o fenómeno da educação como possibilidade de ser diferente ou melhor. O ser diferente e melhor é uma tarefa que implica o comprometimento ético, e não só, essas tarefas são por excelência tarefas educativas. Portanto, o desenvolvimento humano necessita as dimensões éticas.

A educação segundo Renato, sempre implicará um processo de transformação e desenvolvimento do ser humano. Um ser humano, porém, não pode ser reduzido apenas a um mero repetidor de acções irreflectidas, não assimiladas e executadas apenas mecanicamente. Portanto, não se pode confundir um treinamento com educação. A educação se dará quando forem mobilizadas as potencialidades humanas de um ser bio-psico-social.

O ser humano será mais humanizado quando avançar no desenvolvimento de suas potencialidades. No dizer de Renato, em uma sociedade que se globaliza cada vez mais, um neoliberalista toma conta e assume o controlo de todo o jogo económico e político no mundo inteiro. Mais uma vez a educação será espelho que reflectirá os valores da ideologia subjacente a nova ordem das coisas e uma das forças de sua reprodução.

Renato cita Valois, dizendo que A prática pedagógica, dentro do modo tecnológico, é paradoxalmente tradicional. Pouco ou nada, na escola, chega a despertar mais a motivação e o interesse do aluno do que as possibilidades tecnológicas a que ele tem acesso fora dela. Neste descompasso, o professor sabe e ensina e o aluno que não sabe e, aprende. O primeiro fala e o segundo escuta. Este último é o depositário de saberes que alguém, o professor, lhe transmitirá e que este deverá devolver exactamente como lhe foi transmitido.

O aluno será considerado um número, como tal, ele deverá se ajustar aos padrões e normas aceitos pela maioria. Sua história individual, sua carga emocional e suas características individuais precisam se diluir no nivelamento grupal. O aluno terá que se conformar às expectativas da família, da sociedade do entorno e responder às leis do mercado.

O paradigma tecnológico é muito mais do que um conjunto de técnicas. É, fundamentalmente, uma atitude global perante a educação e o comportamento humano. Sempre que se constrói o conhecimento, esta construção é teleológico e, tudo o que é produzido pela tecnologia é resultado de processos objectivos, amorais e desvinculados de qualquer contexto em que ela se insere. A criatividade leva a absolutizações equivocadas e perigosas.

É preciso que se faça urgentemente uma ciência da ciência, de acordo com Morim (2001), isto é, uma profunda reflexão ética que lhe devolva seu verdadeiro significado. 

2. Aproximação entre educação e ética em Freire

Segundo Renato, todo o trabalho de Freire se inicia e se realiza a partir de uma perspectiva dos oprimidos.

Considerando-se que a educação, ao longo da história, sempre se constituiu em um produto de consumo das camadas mais privilegiadas da população, é preciso pensar-se e fazer-se uma educação como instrumento de libertação dos menos favorecidos. Neste contexto, A educação se expressará como uma pedagogia do oprimido, isto é, como uma prática da liberdade e da esperança.

A educação se constituirá na construção do ser mais de todos os seres humanos. Os educadores precisam compreender o seu papel como semeadores de Esperança. Esta educação se fará numa relação educador-educando. Tanto quem tem o papel de ensinar, quanto àquele que, em princípio, estaria ali para aprender, ambos, ideologicamente, estarão um educando o outro.

Mais do que meramente transmitir conteúdos, estarão vivendo uma experiência solidária de busca do conhecimento, isto é, de saberes que representarão vida vivida e caminhos a serem ainda percorridos por ambos. A educação que só reproduz o universo vivido, por ele será chamada de bancária. Nesta, o educador, como um depositário de imensa riqueza de saber, depositará, em recipientes vazios, os seus conteúdos insossos, indigestos, desinteressantes e pouco significativos. Neste conceito de educação de Freire, os conteúdos sempre serão importantes e significativos na medida em que forem seleccionados e assumidos por professores e alunos, numa atitude de busca desafiadora, movida pela curiosidade construtora de todo o conhecimento. E, toda educação será, sobretudo, uma construção profundamente ética. A educação que tem-se hoje se constitui na imagem clara do sistema vivido por toda a sociedade.

Nas salas de aula aprender continua sendo acumular informações, de ouvido atento e boca fechada. A dúvida é reprimida e a pergunta é tida como algo incómodo e perda de tempo. O aluno é mantido em silêncio, pois cabe a ele somente obedecer disciplinadamente e acatar as ordens que lhe são impostas. As dificuldades intelectuais que enfrentam são de ordem primária: não sabe ler e nem escrever; não pensa, não fala e não discute; diz que sabe, mas que não sabe expressar o que sabe; tudo copia, reproduz e decora. Por fim, frustra-se enormemente consigo mesmo e apanha mais ainda da vida pelo seu despreparo e incompetência.

Neste sentido, a educação é vista como um processo de dominação do que de libertação, é preciso, de imediato, passar a verificar quais propostas de superação e em que consistem, de fato, as teorias e as tentativas de se fazer deste aparelho educativo um instrumento a serviço da construção de um povo livre, dinâmico e participativo, ou seja, um novo homem e uma nova sociedade.

Falar e fazer educação implica pensar e agir eticamente, de acordo com a afirmação de Baptista. No campo da educação, a ética busca actualizar a lei. Ela interpela o sujeito como processo inacabável de desimpedimento. Ela desprende um espaço para fora de qualquer espaço, um espaço desenclausurado. É autonomia que se inscreve na temporalidade humana, implicando em dados psicológicos e socioculturais.

A ética abre um campo de criação; um campo onde cada um se confronta com a tarefa de sua incessante auto criação. [...] A ética mostra que a relação não visa o controlo do outro... [...] O engajamento ético situa cada qual como sujeito em relação com o outro sujeito... [...] A desbarbarização da sociedade faz-se mediante este preço: o engajamento no projecto ético, o reconhecimento da ética como fundamento de toda educação do homem. A educação tem a obrigação de propor um engajamento ético... [...] A educação pressupõe tal engajamento em uma praxis em que cada qual consegue separar-se das definições e designações que trabalham por conta das propriedades do eu; neste caso, a praxis educativa é entendida como processo de inscrição das rupturas que suportam o poder de conduzir-se como sujeito.Neste contexto, é a educação que se constitui no espaço e no instrumento, por excelência, de implementação deste engajamento ético. 

Considerações finais.

O esforço de Johann se insere na realidade actual, que está mergulhada em conflitos de toda ordem sem ponto de referencia que a oriente de um caminho de melhor condição de existência para o seres humanos. Educação e Ética analisam e fundamentam a possibilidade de se reduzir as contradições em que se movimentam os seres humanos em todo mundo.

A educação não será o único caminho de solução dos problemas actuais, mas o espaço educativo se constitui em um espaço de excelência para que seja plantada uma nova realidade e germinar. Neste contexto, somente o compromisso ético verdadeiramente assumido fará com que a escola cumpra o seu papel na construção da esperança de um mundo melhor para toda humanidade A educação tem a obrigação de propor um engajamento ético... (...) A educação pressupõe tal engajamento em uma praxis em que cada qual consegue separar-se das definições e designações que trabalham por conta das propriedades do eu; neste caso, a praxis educativa é entendida como processo de inscrição das rupturas que suportam o poder de conduzir-se como sujeito. Neste contexto, é a educação que se constitui no espaço e no instrumento, por excelência, de implementação deste engajamento ético. 

Bibliografia JOHANN, Jorge Renato. Edução e Ética: em busca de uma aproximação. S/ed., Porto Alegre, Edipucrs, 2009.