RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar possíveis limitações encontradas no chão concreto das escolas rurais das series iniciais em Monte Santo, Bahia; aponta para a possibilidade de alcançar uma educação no/do campo que contemple as necessidades, diversidades e valorize as especificidades do povo camponês; apresentar de forma suscita um breve relato da história de luta dos Movimentos Camponeses de luta pela terra na direção de um modelo de educação voltada para aqueles que vivem no/do campo; Além de Refletir a cerca das dificuldades encontradas por educadores que atuam nas áreas camponesas e que não tem na maioria das vezes, nenhum suporte pedagógico e nenhuma prática metodológica que subsidie seu trabalho.

 

Palavras chave: Educação do campo. Povo camponês. Escolas rurais de séries inicias.

 

 

ABSTRACT

 

This article aims to present possible limitations found in the concrete floor of the rural schools of the initial series in Monte Santo , Bahia ; points to the possibility of achieving an education in  country that fulfills the needs, values ​​diversity and the specificities of peasant people; present form raises a brief account of the history of struggle of the Peasant Movements land struggle toward a focused education model for those who live in / field ; In addition to reflect about the difficulties encountered by teachers working in rural areas who do not have most of the time , no pedagogical support and no methodological practice that subsidize their work.

 

Keywords: Education field .People peasant.rural schools of initial series .

 

INTRODUÇÃO

 

O trabalho aqui apresentado tem como objetivo apontar alguns entraves na dissolução da educação do campo no âmbito das séries iniciais, de maneira que venha ampliar os olhares na direção de novas perspectivas para este ciclo de ensino dentro de uma proposta pedagógica que atenda os anseios da classe trabalhadora. Pretende-se assim que o educador amplie seu nível de conhecimento em se tratando da educação rural e perceba a importância de ser um educador do/no campo, haja vista, as imensas dificuldades e adversidades encontradas quando se trata da escolarização da classe trabalhadora, pertencente ao campo.

Para muitos o campo sempre foi e continua sendo um lugar de gente ignorante, sem perspectivas que se precisa apenas de uma enxada para vender sua força de trabalho, portanto, sujeitos que não precisam da educação escolar para a produção de sua existência, que apenas o trabalho é suficiente para dar-lhes condição para adquirir o sustento da família quando em período de plantio e colheita.

Deste modo a escola do campo é vista como sobra daquilo que está no entorno das cidades. A escola perde nesta realidade a sua referência científica e não representa o desenvolvimento para os sujeitos do campo. Porém, o professor Dermeval Saviani afirma que:

“a escola tem o papel de mediadora da socialização da cultura erudita e não da cultura popular; do trabalho específico e com a episteme (ciência) e não com a doxa (opinião, senso comum), existindo, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber, [...]” (SAVIANI, 2000, p. 18).

 

Logo, o campo é também lugar de promoção da vida e é por meio da socialização do conhecimento em seu nível mais avançado, sistematizado que a educação escolar irá possibilitar aos educandos camponeses desenvolver-se e ter participação social e domínio da cultura erudita. Assim, é afirmado por Kolling, Cerioli e Caldart, 2002, p. 19:

Temos uma preocupação prioritária com a escolarização da população do campo. Mas, para nós, a educação compreende todos os processos sociais de formação das pessoas como sujeitos de seu próprio destino. Nesse sentido, educação tem relação com cultura, com valores, com jeito de produzir, com formação para o trabalho e para a participação social. (KOLLING, CERIOLI E CALDART, 2002, p. 19).

Ao longo dos estudos foi notável o quanto nós, pessoas do campo, filhos de agricultores sofremos não só com a falta de chuva nas entressafras, mas também com o abandono do poder publico no que diz respeito ao acesso às politicas públicas, as quais deveriam ser direcionadas a este publico e que não são, bem como com o preconceito que sempre existiu e ainda impera veementemente nos diversos segmentos da sociedade brasileira. Posto que:

Se considerarmos que os processos de exclusão social são inerentes à lógica do modo de produção capitalista, veremos que as políticas de inclusão e/ou inserção social são estratégias para integrar os objetos – os excluídos – ao sistema social que os exclui e, ao mesmo tempo, de manter sob controle as tensões sociais que decorrem do desemprego e da exploração do trabalho, móveis da exclusão social. (RIBEIRO, 2006, p.159).

 

Tendo em vista estas questões, realizou-se então esse trabalho em uma escola do campo situada no município de Monte Santo-BA, na comunidade Remanescentes de Quilombo Povoado Lage do Antônio, reconhecida pela Fundação Palmares e publicado no Diário Oficial da União n.º 228 de 28 de novembro de 2007. Comunidade essa que enfrentou e ainda enfrenta muitas dificuldades no que tange a sua inclusão em políticas públicas e educacionais que atendam a seu status. Deste modo, houve e ainda há a negação de direitos, não só às comunidades quilombolas e/ou rurais, mas todas aquelas que são da classe trabalhadora e, assim, evidencia-se cada vez mais o descaso por parte do poder público em garantir a efetivação dessas políticas.

Mesmo com esses limites e ressalvas, é ainda extremamente relevante a luta pela garantia da igualdade jurídico política, pois ela significa espaços de resistência dos avanços já conquistados pela humanidade em torno do ideal dos direitos humanos, embora saibamos que nosso horizonte para garantir a liberdade de fato para todos é bem maior.( MOLINA, 2012, p 589)

 

Observa-se que passos foram dados a partir das lutas destes sujeitos, mas que cabe fazer na prática muito ainda pelos que vivem, estudam e trabalham no campo. Portanto, para queo poder público e a sociedade civil de fato direcionem a devida importância, grandiosidade e diversidade da cultura camponesa enraizada no campo e a sua contribuição na história deste país, nos leva ao que diz Arroyo, 2012, onde é preciso entender que: “O projeto de Campo de educação do campo traz a marca histórica da participação da diversidade de coletivos e de movimentos, diversidade que enriquece e lhe confere maior radicalidade” (ARROYO, 2012, p. 324).

Entretanto, vale salientar que essa é uma luta da classe trabalhadora que, organizada em coletivos de lutas comunitárias, buscou junto aos entes responsáveis o seu reconhecimento, sendo que um dos desafios principais foi concretizar seu ambiente de vida como espaço de produção cultural. Ambientes estes de enorme diversidade de culturas, onde as comunidades se aceitam e procuram superar a visão do atraso, fortalecendo a luta contra todo tipo de preconceito ou descriminação, consolidando sua existência.

Com base na pedagogia histórico-crítica[1], que defende uma educação transformadora para todos e, principalmente para a classe trabalhadora, busca-se dar um direcionamento ao trabalho pedagógico e ao trato com o conhecimento a partir de uma formação coesa no interior da sala de aula das escolas do campo do município de Monte Santo, pois é a partir deste conhecimento organizado, sistematizado, com reconhecimento de classe, leis e diretrizes que o professor do campo terá mecanismos para transformar a educação e fazê-la voltada verdadeiramente para a classe trabalhadora, que supere a educação capitalista da reprodução oferecida atualmente[2].

 Portanto, é com posse desses mecanismos e aportes pedagógicos que se faz necessária ressignificação dos conceitos trabalhados nas escolas do campo, materializados na organização do trabalho pedagógico a partir da qual a comunidade escolar, coletivamente, possa construir um projeto político pedagógico alinhado a uma concepção de educação que valorize o campo como espaço de produção de existência, possibilitando ao educador articular e organizar seu trabalho em sala de aula objetivando tornar o ensino um processo significativo para a formação das crianças, jovens e dos adultos do campo.

Assim, com essa perspectiva de mudanças na organização do trabalho pedagógico, vislumbra-se a efetivação de práticas pedagógicas na sala de aula que propiciem tanto ao professor quanto aos alunos e suas famílias encontrarem na escola ações concretas que demonstrem através destas a sua real função social, da verdadeira educação do campo, que é a de aproximar, vincular as teorias às praticas para assim construir o saber, desenvolvendo as comunidades camponesas que tanto necessitam de uma formação básica de qualidade principalmente para, a partir dai, almejar possibilidades de alcançar um grau de escolaridade mais avançado que para muitos se torna, às vezes, até impossível tanto pela questão geográfica quanto pelas condições socioeconômicas por estes vivenciadas.

Desta forma, o texto descrito retrata resumidamente a longa caminhada, lutas para conquistar a educação do campo, associado aos movimentos sociais, apontando as possibilidades e/ou contribuições e os limites encontrados no processo educativo de alunos das series iniciais do ensino fundamental I inclusive da escola Quilombo Remanescente do Povoado de Lage do Antônio, além de mostrar as divergências entre um sistema de ensino voltado à cidade e a educação oferecida no campo em um município no qual sua extensão rural é gigante e sua população rural atinge praticamente 90%. [...]