EDUCAÇÃO DO CAMPO: A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
Publicado em 26 de agosto de 2010 por maria aparecida vieira de melo
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
MARIA APARECIDA VIEIRA DE MELO
GARANHUNS-PE
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
GARANHUNS-PE
2009
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
Marcelo Machado Martins
Maria Aparecida Vieira de Melo²
Resumo
O presente artigo discorre de uma análise minuciosa ao longo do processo da Educação do Campo, com vista na escola que temos para a escola que queremos. A luz das lutas dos movimentos sociais em congressos nacionais. Por esta via a Educação do Campo é caracterizada pelo êxodo rural, evasão ou simplesmente baixa-estima.
Analisando a preocupação do e no campo, pois considero que a do campo são a identidade e especificidade dos povos do campo e no considero a espacialidade, onde os povos estão localizados e situados. Amparada pela Lei Diretriz e Bases da Educação, política e princípios da educação para o processo educacional.
Palavras chaves: Educação do e no Campo, Movimentos Sociais, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Política e Princípios da Educação.
Introdução
Sabendo que a educação do campo foi advinda da necessidade do progresso, após o período da ditadura militar. Por causa da concentração dos senhores. A educação foi vinda de cima para baixo, imponderada de que solucionaria todos os problemas.
Assim ao longo da historia, as escolas do campo sempre foram tratadas com políticas compensatórias: projetos e programas que começavam e terminavam com os mandatos dos
governos, e nunca com políticas que pensassem uma escola adequada a realidade dessa população, o que nos deixou como herança, entre outras coisas: um quadro de analfabetismo,
da inexistência de escolas em todos os níveis no campo ou de escolas que trabalham conteúdos fora da realidade do rural.
A educação do campo é maior que a escola, pois está presente no movimento e na organização do povo, isto é, a educação acontece de várias maneiras como: educação formal todos os níveis de ensino, a não-formal organizada pelos movimentos sociais, popular e informal que se caracteriza em todo o contexto em que se está inserida.
Assim analisaremos neste artigo a formação que temos na escola e a formação que queremos que esta amparada nos artigos da Lei Diretriz e Bases da Educação. Onde é possível termos uma formação integral dos sujeitos.
Educação do Campo:
A Escola que Temos e a Escola que Queremos
A escola do campo não deve ficar apenas limitada ao mundo das primeiras letras, ou com conteúdos que não contribua para a criança e o jovem do campo resgatar a sua auto-estima. Precisa então estar plantada no solo do campo e produzir conhecimentos sobre a realidade que ajude as pessoas que nela vivem, a transformá-la. Assim a terra seja elemento chave, a cultura, as lutas, e a história do campo, seja ponto de partida para o trabalho em sala de aula. A identidade da escola deve esta inserida na realidade do seu meio, nos saberes da comunidade e nos movimentos sociais.
Com o sentimento de pertença ao campo, os sujeitos desenvolvem suas competências e valores, que vão sendo passado de geração a geração. Assim Milton santos 2001 afirma que "o lugar não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro". Ou seja, são dois elementos que fundamentam a educação do campo: o sentimento de pertença e a superação da dicotomia entre rural e urbano.
Sabendo que a educação do campo está amparada nos artigos da Lei Diretriz e Bases da Educação Nacional, os conteúdos devem ser ligados ao mundo do trabalho, ao desenvolvimento do campo. Assim, teremos conteúdos gerais das áreas do conhecimento: português, matemática, geografia, historia, ciências, que todos os estudantes aprendem em qualquer lugar do Brasil e conteúdos específicos de acordo com as características regionais, locais, econômicas e culturais da comunidade, onde a escola esta inserida.
Porém, isto não quer dizer, que o ensino tem que ser limitado, mas, sim abrangente em suas possibilidades. Assim, a prática pedagógica deve ser inovadora, utilizando diferentes procedimentos, recursos e espaços que resgatem a riqueza das experiências vivenciadas no campo, pois o professor é fundamental na aprendizagem e só depende do Como ele ensina para o desenvolvimento das crianças e jovens do campo, pois ele oferece opções, para os seus irem à busca da qualidade de vida que julgam ser merecedores ou simplesmente viver no campo com qualidade.
Para Arroyo 2007, "o importante não é o que se aprende, mas, a forma de aprendê-lo". Compreende-se que o que intermédia o ensinar e o aprender são o como. Este facilitará o processo simultâneo do ensino, interação e principalmente à aprendizagem. Assim o professor e o aluno constroem juntos, alicerçados na base, onde se valoriza o seu meio, construindo ainda mais a sua melhoria.
As grandes conquistas sociais, dentre elas os direitos humanos, foi reflexos de pensadores que queriam "ser melhor", serem seres vistos como construtores do conhecimento, questionadores, críticos, e reflexivos. A educação do campo não foi diferente, foi uma conquista dos movimentos sociais que lutaram e lutam pela qualidade e dignidade da vida no meio, onde estão inseridos.
Para tal, os movimentos sociais dentre os diálogos constituídos, o nono congresso da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), foi um momento político fundamental para a afirmação e deliberação sobre a educação do campo que queremos. Por este lado, a luta por uma educação pública de qualidade tem sido motivo de grandes manifestações organizadas por diversos movimentos sociais.
Destacando-se o trabalho da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) e o MST (Movimentos dos Sem - Terra), que tem gerado profundas discurssões e um acúmulo, inclusive em âmbito institucional como é o caso do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - Pronera, criado em 1998, para atender as áreas de assentamentos de reforma agrária.
Vale ressaltar que desde 1960, até os dias de hoje as lideranças de base voltou-se para o povo do campo. Com as experiências dos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o Movimento de Cultura Popular da Prefeitura do Recife, a Campanha Pé no Chão Também se Aprende a Ler, da Prefeitura de Natal, o Movimento da Educação de Base e os Círculos de Cultura Popular de Paulo Freire. Nesta década houve um grande investimento na "educação sindical", por causa das criações das Federações e da Contag. E assim os movimentos sociais, vêm trabalhando com mais ênfase em uma proposta de educação para o campo.
A Lei de Diretriz e Bases da Educação é voltada para os artigos e incisos que articulam teoricamente a pratica educacional nas três esferas do poder público: Municipal, Estadual e Federal. Os Municípios devem oferecer Educação Infantil em creches e Pré-escolas e com prioridade o ensino fundamental. O Estadual deve ofertar o ensino médio e técnico-profissional, que poderá ser nas comunidades rurais povoados ou na sede do município. O Federal deve ofertar o ensino superior em universidades.
A escola pode organizar as turmas de diferentes maneiras: classe multisseriada, ciclo, alternância ou séries.
O calendário da escola do campo pode ser organizado de acordo com a realidade local, desde que não prejudique os alunos na quantidade de dias letivos, efetivados em 200 dias letivos de trabalho.
A gestão escolar comporta toda a comunidade, bem como os movimentos sociais.
Pode-se participar da gestão escolar o Conselho Municipal de Educação, Conselho Escolar, Comitês de Gestão como Caixa Escolar, Merenda, Fundeb, conferências de educação. Há também a participação dos movimentos e sindicatos na elaboração do Plano Municipal de Educação: PME. Este é um plano global, de toda educação, não é apenas da Secretaria de Educação nem da rede de ensino municipal.
O plano nacional de educação plurianual, visa à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do poder público que conduzam a: erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, qualidade do ensino, formação para o trabalho e a promoção humanística, cientifica, e tecnológica.
A formação do professor é assegurada por lei e é obrigação do poder Municipal, Estadual, e Federal com cursos de capacitação, especialização para a formação continuada.
O financiamento da educação do campo consta na Constituição Federal à aplicação de 18% da União, e os Estados, Municípios e Distritos e o Federal 25% dos impostos da educação. Assim um valor maior para os alunos de 1ºa 4º serie da educação do campo.
O papel dos conselhos é imprescindível para o desenvolvimento da qualidade do ensino, pois são os conselheiros que conhecem e interferem na realidade para a sua melhoria.
Pensar a educação na relação com o desenvolvimento sustentável é pensar a partir da idéia de que o local, o território pode ser reinventado através das suas potencialidades. Uma das formas de trazer à tona as potencialidades está na revitalização da importância do coletivo como método de participação popular de gestão das políticas e das comunidades, onde vivem.
Uma política publica de educação deve respeitar todas as formas e modalidades de educação que se orientem pela existência do campo como um espaço que é ao mesmo tempo produto e produtor de cultura. É essa capacidade produtora de cultura que o constitui como um espaço de criação do novo e do criativo e não, quando reduzido meramente ao espaço da produção econômica , como o lugar do atraso, da não-cultura. O campo é acima de tudo o espaço da cultura.
O princípio da educação volta-se para a qualidade de ensino que é um direito dos povos do campo, transporte escolar, educação do campo como formação humana para o desenvolvimento sustentável, respeito ás características do campo.
Ao analisar a escola que temos com a escola que queremos percebemos que há muito que ser discutido, ou melhor, posto em pratica. Pois muito tem se discutido sobre a educação do campo e temos modelos como à Escola Ativa, Serviço de Tecnologia Alternativa (Certa) e outros.
Contudo dar-se-á ênfase ao projeto político pedagógico ser voltado para a realidade do campo, cabendo a ação da gestão do município e a prática do professor.
Para freire 1997, "é na luta dos movimentos sociais que o professor se constitui trabalhador, e é enquanto trabalhador que o professor exerce sua pedagogia". Pois são na base das lutas que se vem às vitórias e assim muitas coisas se conquistam.
Considerando que o sujeito é produto e produtor da cultura. Freire 1997 diz que "então o camponês descobre que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz também de transformar a cultura: renasce não mais como objeto dela, mas também como sujeito da historia".
Para isso a escola do campo deve ter como raízes: a democracia do acesso a terra, a construção de atitudes e valores para novas relações de gênero, o fortalecimento da agricultura familiar através da produção de alimentos, modelos tecnológicos e assessoramento técnico, democratização do espaço publico, o poder local, e os saberes técnicos, humanos e ambientais. Com estes elementos em pratica, é possível impulsionar o desenvolvimento rural sustentável, através de uma educação compatível com o desenvolvimento tecnológico que esta enraizada em toda sociedade e no campo não é diferente, pois o camponês contribui como a mudança dentro de suas possibilidades, tanto para o progresso quanto para o regresso do seu desenvolvimento, pois depende do grau de formação e informação que o mesmo concebe durante toda a sua vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve a pretensão de analisar o processo pelo qual a educação do campo passou para se consolidar. Assim não significativamente para a melhoria do ensino, já que aqui é mais um estudo sobre, mas contribui significativamente para a consciência do educador do campo. Pois se formos analisar o porquê da educação rural ser caracterizada pelo êxodo rural, evasão ou simplesmente baixa-estima temos muito motivos, razões e circunstâncias para tal.
Porém se for analisar em que se constitui a qualidade da educação do campo pouquíssimos motivos, razões e circunstâncias terão.
Assim este artigo fica na pretensão de querer mostrar algo, talvez de tudo o que discorri, pouco importa para lhe convencer da importância da educação do campo de qualidade. Mas uma coisa é certa ela está amparada nos artigos constituintes da LDBEN. Assim como temos o direito de denunciar o que não acontece nas escolas do campo, mas que pela lei deveria acontecer.
É pelo conhecimento que temos sobre, que nos move a irmos à luta pelo que está evidenciado na Lei e assim, os movimentos sociais os fazem, lutam pelos direitos que lhes são assegurados. A escola que temos esta muito longe da escola que queremos, pois ambas estão no extremo.
Não pretendo colocar em papel tudo que causa a precariedade do ensino rural, pois é nítido aos olhos de todos, até mesmo da sociedade que não se envolve, mais percebe os absurdos. Também não pretendo deixar explicito a escola que queremos, já que poderá ser utopia, não quero correr o risco de ficar na utopia, pois assim pouco contribuirei para a analise que se é preciso.
Mas, a educação do campo deve proporcionar a formação integral dos sujeitos, para que estes tenham opções de seguir o caminho que julgam ser melhor para o seu desenvolvimento, enquanto cidadãos inseridos na sociedade.
Contudo se faz repensar a prática pedagógica e social da educação, já, que se dará em todos os níveis de ensino. Pois a educação não acontece isoladamente, mas em um complexo conjunto com determinantes e variáveis.
O reflexo do processo educativo está na sociedade. Muitas são as contribuições dos movimentos e de diferentes educadores e pesquisadores para outra compreensão do campo da educação. E é bom que seja assim, que a luta não pare, pois enquanto houver pessoas preocupadas com a educação é sinal que esta precisa melhorar, e assim os responsáveis irão contribuir com suas práticas para a devida qualidade que se é desejada, formando pessoas capacitadas para escolhas que mudarão o rumo de seus limites.
BIBLIOGRAFIA
ARROYO, Miguel G. Oficio de Mestre: Imagens Auto-Imagens. 9º ed. Petrópolis, vozes, 2002.
CARTILHA. Educação do Campo e Metodologia Participativa - Contag/ Maria do Socorro Silva. Brasília /DF, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia-Saberes Necessários: A Pratica Educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1997.