É fato que a década de 60 trouxe consigo importantes mudanças no cenário educacional do país. Boa parte dessas alterações modificou radicalmente o processo de ensino no Brasil, o que se constituiu, portanto, como legado transcendental daquele período, abrindo, deste modo, espaço para a incorporação de novos processos que, com o passar dos tempos, tornar-se-iam a principal causa da ascensão – ou descensão – da qualidade da educação brasileira atualmente.

Dentre a variedade de mudanças pelas quais passou a legislação educacional desde os anos 1960, encontra-se, em primazia, a permissibilidade de avaliação por critérios interpessoais, tal qual a capacidade cognitiva dos estudantes, além de aspectos relacionados a persistência, capacidade de trabalho em grupo e, ainda, autocontrole, fatores que hoje em dia são considerados indispensáveis para o bom desenvolvimento de qualquer aluno.

Na legislação propriamente dita, medidas de disciplinamento foram tomadas com a finalidade de, na época, melhorar a qualidade da aprendizagem e, de igual modo, restringir a iminente expansão do conhecimento que, naquele momento, atingia níveis elevados no território brasileiro graças às alianças governamentais com países cujo padrão de progresso beirava a perfeição.

A ênfase no ensino técnico, prático, em detrimento às concepções pedagógicas generalista e republicana, o esvaziamento dos currículos dos níveis de ensino do seu conteúdo potencialmente universal e crítico e a expansão da iniciativa privada foram alguns dos fatores preponderantes para radicalização da legislação da educação em meados daquela época, visto que a governabilidade era direcionada aos interesses da classe que detinha a maior parte do poder de decisão, extinguindo, totalmente, qualquer possível resquício de democracia.

Partindo desta perspectiva, pode-se depreender que, não obstante haja, mesmo que por entrelinhas, um legado positivo deste período para a educação contemporânea, é nítida a visão acerca da falta de preocupação com a qualidade dos investimentos nesta área, uma vez que, dado o objetivo daqueles anos, não se tinha como principal foco o enaltecimento crítico da comunidade estudantil no que tange aos seus parâmetros.

Dito isto, o caráter antipluralista e antidemocrático vigentes caracteriza como lamentável as alterações promulgadas na legislação educativa na época, favorecendo, portanto, o enaltecimento exponencial da corrente singular na qual caminhavam os princípios educacionais dos anos 60, concedendo, de fato, maior visibilidade ao regime de governo instaurado no país, dissociando, a partir de então, a realidade local da aspiração nacional.