Pode-se afirmar com categoria que não existe educador brasileiro que acredite na educação básica pública de seu país. É visível o descompasso das instituições escolares públicas e privadas brasileiras. Quando pesquisa-se sobre o assunto, os motivos apresentados são os mesmos: falta de investimento, desqualificação dos profissionais, má gestão, até mesmo o preconceito sobre a classe social dos alunos ocupam grande parte das justificativas.

Obviamente, diante do quadro precário da educação pública básica, nos últimos anos os brasileiros têm se esforçado ao máximo para matricular seu filho em escolas particulares. Não importa o rombo no orçamento: “educação em primeiro lugar”. Bonito de se ouvir, mas é o retrato de um dos grandes problemas do governo atual.

Nessa situação, as matrículas em instituições privadas de ensino básico subiram 14% de 2010 a 2013. Enquanto alguns comemoram a possível melhora na renda da população brasileira que isso retrata, outros entendem a estatística como a prova da crise do ensino público de base. Pior que isso, é observar que o ensino privado fundamental não tem todo o potencial que parece ter.

A crise do ensino público nos faz fechar os olhos para a crise da educação no quadro geral. Os alunos passam 90% do tempo sentados, escrevendo ou repetindo. Ouso dizer que o “rato de laboratório” para testar o ensino no Brasil foi um papagaio. Não há incentivo à criatividade. Na prova, acerta quem responde igual ao gabarito, erra quem responde diferente, e tira meio certo os que respondem quase tudo como deveriam.

Durante as aulas deve-se escrever de lápis. Atingindo determinada série, podem usar canetas, mas nas provas só com tinta azul ou preta. Enquanto não me derem um motivo que realmente faça sentido, vou continuar achando isso um absurdo. A intenção sempre é padronizar. Padronizar condutas, respostas, ações, cores, reflexos, ou seja, criar papagaios.

Como prender a atenção das crianças se o que se fala na sala de aula é desinteressante, estático e massificado? A didática é discutível, mas não é discutível que as pessoas se desenvolvem em velocidades diferentes. Vigotsky já complementou Piaget nesse ponto e estou pra ver teoria mais complexa sobre o desenvolvimento psicológico humano. O padrão é um equívoco. Somos feitos não só em “formas” diferentes, mas criados nos mais variados contextos.

A grade de matérias obrigatórias é outro problema. Não tem como dizer que a biologia, a matemática, a química e a física não são importantes, mas é um absurdo excluir a educação sexual, o direito e as artes em geral (música, pintura, teatro, etc.). Com isso, estamos formando papagaios, sem criatividade, que desconhecem a estrutura social que vivem (assim não podem questioná-la) e, ainda, que não entendem o funcionamento de seus próprios corpos e acabam reproduzindo os ensinamentos machistas e quadrados que os papagaios já formados também reproduzem. “Ah, mas pelo menos vão passar no vestibular!” – o que isso nos diz? Nada.

O melhoramento da educação vem em passos lentos - absurdamente lentos, diga-se de passagem. Em pequenas proporções podemos encontrar escolas com proposta de ensino alternativo à grade curricular obrigatória estabelecida pelo MEC. Além disso, vemos o movimento de parlamentares como o Romário, que apresentou um Projeto de Lei (PL 6.954/2013) para instituir o Direito Constitucional como matéria obrigatória no ensino fundamental. Fora os diversos projetos dos estudantes de música e outras artes que tentam levar esse conhecimento e incentivo à criatividade às escolas. São pequenos movimentos que fazem a diferença e devem ser procurados, ouvidos e incentivados. O objetivo é parar de formar papagaios e transformar as crianças em leões, gatos, cachorros, crocodilos e tudo mais que elas quiserem.