O atual governo brasileiro tem uma visão arcaica da questão ambiental. A preservação dos recursos naturais é um dos temas mais importantes nas agendas dos países ricos, dos grandes grupos econômicos e das camadas mais instruídas da população mundial. Se a atual administração almeja efetiva inserção na economia global e pretende ser um dos grandes protagonistas nos fóruns de discussão – posição que o Brasil já teve em outros governos – deve mudar a maneira como trata da questão do meio ambiente.

A sociedade capitalista ocidental começou a se preocupar com os impactos ambientais de suas atividades econômicas a partir da década de 1960. Crescimento das cidades e das áreas agrícolas, aumento da população, início da industrialização, eram aspectos que, principalmente nos países desindustrializados (à época denominados subdesenvolvidos e em desenvolvimento) preocupavam cientistas e políticos. As economias dos países industrializados, por sua vez, também causavam forte impacto ao meio ambiente: poluição de rios por esgotos domésticos e industriais, contaminação de solos por substâncias da indústria química e petrolífera, falta de espaço para construção de novos aterros sanitários, poluição atmosférica, entre outros efeitos.

A ideia de que era preciso agir e diminuir a poluição começou a se impor nos países mais desenvolvidos. Nações europeias, Japão e os Estados Unidos iniciaram um processo de criação de leis e órgãos de controle, com apoio de políticos progressistas e grupos organizados da sociedade civil. Ao longo dos anos 1970 e 1980 o setor industrial e de serviços fizeram grandes investimentos, tornando seus processos, produtos e serviços menos poluentes e consumindo menos recursos – matérias primas, água, combustíveis e energia.

Nos anos 1980 a ciência descobriu uma outra consequência da poluição: o aquecimento da atmosfera terrestre, causado pelo efeito estufa, que se origina do acúmulo de gases na atmosfera. A maior e mais grave consequência do aumento da temperatura da atmosfera é a crise climática; uma escalada dos fenômenos climáticos extremos (secas prolongadas, chuvas torrenciais, furacões, nevascas, etc.).

Simplificando, pode-se dizer que o combate à poluição em todo o mundo tem duas fases (ou aspectos) principais: 1) a necessidade de diminuir os impactos imediatos ao ambiente, como a poluição dos recursos hídricos (água de subsolo, rios, lagos e oceanos), do solo e da atmosfera, eliminando ou diminuindo a poluição. 2) a imposição de reduzir e gradualmente eliminar a contaminação da atmosfera por emissões causadoras do efeito estufa (gás carbônico, metano, óxido nitroso, clorofluorcarbonos e ozônio, etc.). São duas etapas ou enfoques do mesmo processo, cujos impactos são conhecidos de todos, como a destruição da biodiversidade, dos recursos naturais e, em última instância, a piora da qualidade de vida dos humanos – ou, como dizem alguns, sua eventual eliminação.  

Quanto mais desenvolvido o cuidado com o meio ambiente em uma sociedade, tanto mais ela está avançada na resolução dos aspectos da fase 1 citada acima, e foca principalmente na resposta à fase 2, a redução das emissões – o que é bem mais complexo. No Brasil de 2020 ainda temos dificuldades com os problemas imediatos de poluição (fase 1) e avançamos pouco nas medidas para eliminar as emissões de efeito estufa – notadamente pelas ações (ou falta delas) do atual governo.

Agora, depois do Fórum Econômico Mundial de Davos, realizado em janeiro de 2020, o governo brasileiro percebeu que os ricos de todo o mundo, os grandes grupos econômicos mundiais e os formadores de opinião, associam cada vez mais os investimentos com uma melhor atuação na preservação dos recursos naturais. Se quiser receber investimentos estrangeiros de monta, o governo terá que mudar a maneira como trata os recursos naturais.