INTRODUÇÃO

Economia do bem estar é defina como “o estudo do modo como a alocação de recursos afeta o bem estar econômico”, por Mankiw (2001, p.310). Os agentes econômicos desejam maximizar seus recursos através de trabalho ou atividades complementares, aumentando seus patrimônios ou reduzindo seus custos para que os excedentes de recursos fiquem direcionados para o consumo e satisfação do bem estar econômico.

Esses excedentes, levantados por Mankiw (2001) são conceituados por Neto (2010) como poupança, que é a parcela da renda não consumida pelos agentes econômicos. O objetivo de não consumir no presente é a expectativa de consumir mais no futuro, pois se acredita que se alocar os recursos eficientemente, possa usufruir melhor dessa renda no futuro, com a inclusão dos juros gerados nessa operação o que resulta em aumento do bem-estar econômico.

Reilly e Norton (2008) afirmam que os agentes econômicos realizam os investimentos para: gerar rendimentos, valorizar o capital, ou seja, crescer em termos de valor real ou para preservar o capital, não deixando o valor nominal do capital se perder nas oscilações da inflação. A melhora de rendimento dos agentes econômicos não se deve somente ao trabalho, mas também às aplicações financeiras e investimentos realizados no mercado. Quanto maior o risco nessas aplicações financeiras, maior é a possibilidade de retorno. Portanto, o planejamento financeiro e o estudo dos produtos financeiros disponíveis são de extrema importância para alcançar o bem estar almejado.

O Investimento periodicamente gera fluxo de caixa para o investidor na forma de juros, dividendos, ou aluguel. Dentre os exemplos que geram rendimentos, estão: os certificados de depósitos bancários, títulos de renda fixa, as ações com pagamentos de dividendos e alguns investimentos em imóveis. (REILLY; NORTON, 2008, p.4)

Partindo do pressuposto que os investidores são racionais, Abreu (2016) destaca que os mesmos só estão dispostos a correrem risco em uma aplicação para obterem maiores retornos no futuro. O “princípio da dominância” determina que entre dois investimentos, de retornos iguais, o investidor prefere escolher o de menor risco. Abreu (2016) coloca que:

[...] o risco pode ser definido como a probabilidade de perda ou ganho numa decisão de investimento. Grau de incerteza do retorno de um investimento. Normalmente o risco tem relação direta com o nível de renda do investimento [...] (ABREU, 2016, p.110)

Por causa dos riscos e do princípio da dominância, o investidor pode se adequar em um dos três perfis definidos pela Comissão de Valores Mobiliários (2013), na Instrução nº539, sendo esses: “conservador”, “moderado” e “agressivo” ou “arrojado”. O conservador é aquele investidor avesso ao risco, preferindo obter menor rentabilidade em incorrer riscos. O moderado, diferentemente do investidor conservador, não aceita retornos baixos e limitados e, por isso, concorda em adquirir produtos financeiros com mais riscos para obter rentabilidades melhores. Já o investidor “agressivo” ou “arrojado” é amante do risco, estando disposto adquirir produtos com os maiores riscos com o objetivo de obter o melhor retorno possível no mercado financeiro. Nesse ponto pode-se introduzir a ideia de diversificação. Conforme destaca Abreu (2016) a diversificação

(...) ajuda a reduzir os riscos de perdas. É o velho ditado: ‘não coloque todos os ovos numa única cesta’. Desta forma, quando um investimento não estiver indo bem, os outros podem compensar, de forma que a média não tenha perdas mais expressivas. (ABREU, 2016, p.111)

Balanço anual do Banco Central aponta em um dos anos ápice em relação às aplicações financeiras na economia brasileira, o ano de 2010, por exemplo, no governo do ex-presidente Lula, o volume de negociação no mercado de capitais cresceu em 364% em relação 2009, destacando incrementos de 15,09% nas aplicações em caderneta de poupança e 18,5% nos fundos de investimentos, classificados como de renda fixa, multimercados e curto prazo, superiores aos volumes do ano de 2009 (Banco Central, 2010). Em outra análise, este mesmo relatório informa as remunerações da caderneta de poupança, no ano de 2010, que foram de 6,9%, e dos títulos pós-fixados ao CDI, como o CDB, que tiveram rentabilidades de 9,29% naquele ano. Esse aumento apresentado no volume das cadernetas de poupança no ano de 2010, mesmo com rentabilidade menor que os títulos pós-fixados ao CDI, não apresenta nenhuma explicação ou análise por meio dos relatórios do Banco Central, quanto se quer saber o motivo por que as pessoas optaram por esses produtos financeiros de menor rentabilidade, tornando as análises apresentadas pela preferência dos títulos de maior rentabilidade e riscos parecidos, não condizentes no primeiro momento.

Neto (2010) afirma que no mercado financeiro existe assimetria de informações sendo a causa de falta de eficiência nas atividades econômicas. Vários produtos financeiros geram dúvidas em relação à tributação, rentabilidade, garantias, forma de resgate, entre outros. Essas barreiras podem facilmente serem derrubadas com informações disponibilizadas atualmente através de jornais eletrônicos e físicos, sem ter a necessidade de contratar assessoria exclusiva.

O fator educacional, histórico do risco de mercado ou até mesmo estruturas de incentivos para determinados produtos financeiros, podem ser explicações para a péssima alocação de recursos realizados pelos indivíduos na economia brasileira. Segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) (2017, p.1), “a formação de reserva de dinheiro é um tópico fundamental para a educação financeira, mas tende a ser negligenciada por boa parte dos consumidores”. O Serviço de Proteção ao Crédito (2017) divulgou uma pesquisa, realizada em janeiro de 2017, com dados dos brasileiros que conseguiram guardar uma parte do dinheiro que receberam mensalmente e como eles são alocados no mercado financeiro. O estudo afirma que a formação de capital e a alocação de recursos são de extrema importância para a formação e educação financeira dos agentes econômicos de um país, mas ela vem sendo ignorada por grande parte da população brasileira.

Um dos questionamentos da pesquisa realizada pelo SPC Brasil foi onde guardam ou investem o capital adquirido. O levantamento das respostas foi de que 62% dos entrevistados investem na caderneta de poupança, devido a grande presença de assimetria de informações no mercado financeiro sobre os produtos disponíveis e o melhor momento econômico de aloca-los. Mas o que chamou atenção na pesquisa é que 20% dos entrevistados guardam dinheiro em casa.

A falta de hábito dos brasileiros em poupar faz com que, quando decidem poupar, recorrem às opções mais simples, em especial, a caderneta de poupança, sem objetivo e planejamento financeiro prévio, afirmam os analistas do indicador de reserva financeira do SPC Brasil (2017).

 

Se o investidor opta por uma aplicação de menor rendimento quando há outros que oferecem retornos maiores, é como se ele estivesse perdendo dinheiro. Nos últimos anos, quem optou pela poupança, teve parte de seu dinheiro corroído pela inflação ou, no máximo, alcançou um rendimento real muito baixo (KAWAUTI apud SPC BRASIL, 2017, p.2).

 

A pesquisa, além da abordagem analítica sobre a alocação de recursos dos agentes econômicos no mercado financeiro brasileiro, ainda discute a importância do estudo e análise dos comportamentos da população brasileira no momento de alocação de recursos. Com isso é possível levantar importantes discussões e questionamentos que podem balizar a elaboração de políticas e estratégicas de alocação eficiente.

A Economia comportamental, nas palavras de Samson (2015, p.26), afirma que as pessoas nem sempre são egoístas, possuem preferências constantes e calculam o custo benefício de suas escolhas. As lembranças, sentimento e estímulos do ambiente, conseguem influenciar essas escolhas. Sendo assim, economia comportamental é definida “como o estudo das influências cognitivas, sociais e emocionais observadas sobre o comportamento econômico das pessoas” (SAMSON, 2015, p.26). A principal função do estudo da economia comportamental, segundo Samson, é a experimentação com objetivo de desenvolver problemas e escolhas futuras do ser humano.

O prêmio Nobel de economia em 2002, por sua obra que discute o processo de tomada de decisão e a teoria da perspectiva, Daniel Kahneman, juntamente com Amos Tversky, observa que não é sempre que as escolhas das pessoas são ótimas, pois temos aversões ao risco. “Temos maior aversão à perda do que apreço por um ganho equivalente. Abrir mão de alguma coisa é mais doloroso do que o prazer que sentimos por recebê-la.” (SAMSON, 2015, p.29)

Samson (2015) cita Herbet Simon, um dos pioneiros na finança comportamental, que escreveu sobre o conceito de “racionalidade limitada”. Essa concepção conceitua o que foi observado anteriormente por Kahneman e Neto, em que nem todas as decisões, dos agentes econômicos, não são eficientes. Existem bloqueios ao entendimento das informações disponíveis pelos agentes econômicos, pois há assimetrias de informações e capacidades computacionais diferenciadas.

O modelo de investimento dos brasileiros na atualidade, como bem observado pelos pesquisadores do SPC Brasil, não condiz com a teoria de risco/retorno e com o objetivo de busca por maior rentabilidade, quando de difere consumo presente para o futuro. Ao definir em qual produto financeiro alocar, os brasileiros podem adotar uma espécie de viés, heurísticas (atalhos cognitivos), como respostas automáticas e, assim, originar aplicações em desacordo com seus objetivos financeiros, adotam produtos com riscos e retorno divergentes das suas preferências, ou até mesmo preferindo pelo consumo presente. 

Outro questionamento importante aos entrevistados da pesquisa, realizada pela SPC Brasil (2017), foi se conseguem alocar ou guardar uma parte da renda recebida no mês. A análise do resultado, segundo os idealizadores da pesquisa, foi que: 62% dos entrevistados não costumam guardar dinheiro e nem fazem nenhuma espécie de reserva financeira, indicando a ausência de planejamento financeiro no passado.

Nos Estados Unidos, por exemplo, estimou-se a porcentagem de trabalhadores que não teriam recursos financeiros para consumo futuro, ou seja, para investir. Essa estimativa saltou de 31% da população em 1983, para 53% da população em 2010, sendo que 78 milhões desses trabalhadores não possuem planos de aposentadoria, ofertados pelo empregador, segundo Benartzi e Thaler (2015, p.99). Esses autores ainda afirmam que com a descoberta das pesquisas, levando em consideração a metodologia da economia comportamental para aquela economia, é possível mitigar esse resultado. Ainda Benartzi e Thaler afirmam que “felizmente, existem soluções para esses problemas. Basta mudarmos a arquitetura das escolhas dos planos de aposentadoria utilizando as descobertas da pesquisa em Economia Comportamental.” (BENARTZI e THALER, 2015, p.99)

A perspectiva de alta na inadimplência e falta de planejamento financeiro das pessoas na economia brasileira, como foi analisado por Benartzi e Thaler (2015), nos Estados Unidos, também foi observada e analisada pela Serasa Experian (2010) e pelo SPC Brasil (2017) em seus relatórios e indicadores, destacando que no trabalho nacional foi levada em consideração a realidade financeira de todos os estados brasileiros.

Diante disso, os esforços das famílias brasileiras em obter rentabilidades e os objetivos financeiros desejados estão sendo ofuscados, fazendo com que eles possuam bem-estar econômico inferior aos já experimentados em momentos de profusão.

Sendo assim, surge o seguinte questionamento: quais os aspectos, que são analisados pela economia comportamental e que influenciam nas escolhas dos agentes econômicos no mercado financeiro?

Com a finalidade de responder ao problema levantado acima se estabelece como objetivo geral desse trabalho analisar o perfil de investimento dos brasileiros, levando em consideração os princípios básicos da teoria comportamental.

Para atender o objetivo geral do estudo será apresentado no primeiro capítulo, “Sistema Financeiro internacional e a importância do mercado financeiro”, o papel do mercado financeiro no sistema econômico global. Esse primeiro capítulo trará sustentação para discussões que serão abordadas no decorrer do trabalho e tem a finalidade de apresentar análise histórica do nosso sistema financeiro e do mercado que será estudado. Já no segundo capítulo, “Economia Comportamental”, será composta pelos fundamentos da teoria comportamental e os pressupostos neoclássicos sobre a tomada de decisão. A teoria comportamental parte do princípio de existência dos comportamentos irracionais por parte do indivíduo, já o outro, parte do princípio da racionalidade humana para a tomada de decisão.

O mercado financeiro no Brasil será abordado no terceiro capítulo, “Considerações sobre a evolução do sistema financeiro brasileiro vís-a-vís o crescimento da economia brasileira”, também com uma abordagem teórica e histórica, para apresentar discussões sobre o perfil do poupador brasileiro e da propensão marginal a consumir da sociedade, enfatizando as características da personalidade brasileira em investir. Já no quarto capítulo, “Perfil do investidor brasileiro”, será apresentado empiricamente o perfil do investidor e a preferência por determinados produtos no mercado financeiro. Nesse último será possível analisar as tomadas de decisões dos brasileiros conforme suas preferências.

Com a articulação das discussões dos quatro primeiros capítulos será possível responder ao o objetivo geral no último capítulo. Este discutirá, a partir dos fundamentos da teoria comportamental, o perfil do poupador, juntamente com a preferência dos mesmos no âmbito da escolha por produtos financeiros. [...]