EAD: O PAPEL DO PROFESSOR E DO ALUNO

 

SERGIO SODRE PEREIRA

Graduando

ANTÔNIO MAURÍCIO MEDEIROS ALVES

Orientador

 

Resumo

Este artigo trata do estágio curricular supervisionado IV, realizado na Escola Estadual Assis Brasil, da cidade de Pelotas, de maneira remota, por alunos do Curso de Licenciatura em Matemática a distância da Universidade Federal de Pelotas, no seu polo de Santana do Livramento. Tais características fizeram deste estágio uma impactante e árdua tarefa, uma vez que pode-se observar as dificuldades apresentadas pelo Ensino a distância se as partes envolvidas não forem comprometidas com o processo educacional. Em um momento em que o Ensino a Distância é o único mecanismo capaz de garantir que os processos educacionais do país não parem de todo, perceber que tal mecanismo não foi capaz de captar a atenção e o entusiasmo dos participantes do curso, acabaram por impactar negativamente a atividade proposta e os seus proponentes que prepararam atividades interessantes e que não foram aproveitadas pelos discentes. Neste artigo será discutida a atuação de professor e do aluno no processo de ensino à distância.

                                                                             

Introdução

            Este artigo foi escrito em um momento histórico mundial, pois o período é de extrema preocupação devido a Pandemia de Covid-19 que assola a raça humana. Os números de infectados e de mortes são altos e, em alguns continentes, a segunda onda mostra-se mais letal.

            Uma das atividades mais abalada foi a educação, pois na proibição de agrupamentos humanos, esta passou por um período, praticamente parada e somente em níveis e instituições preparadas para tal, a Educação à distância garantiu a continuidade nos processos educacionais.

            Porém, com a retomada deste processo através de plataformas digitais, pode-se observar que tanto professores quanto alunos não estavam totalmente preparados para isso e este será o objeto central deste artigo, discutindo o comportamento destes agentes no processo educacional.

 

 

 

 

 

Fundamentação teórica

            A pandemia mencionada anteriormente estagnou o processo educacional do país e, embora o curso de Licenciatura em Matemática seja desenvolvido na modalidade à distância, o mesmo possui disciplinas obrigatórias que requerem que o aluno esteja em uma sala da aula, como é o caso do Estagio curricular IV, onde o aluno acadêmico tem contato com turmas do ensino médio, sendo acompanhado por seu professor orientador de estágio.

            Frente ao exposto, foi preciso ajustes no Manual de estágios do Curso de Licenciatura em Matemática a distância para que o estágio pudesse ser desenvolvido de forma a distância, através de plataformas digitais. Desta forma tal manual dispôs:

Quanto a obrigatoriedade dos encontros presenciais de estágio, segundo o Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005 da Presidência da República, no art. 1º, indica que os encontros de estágio são presenciais. Entretanto considerando o período de pandemia que vivemos atualmente, por conta da COVID-19 e, com base na Portaria MEC 544, de 16 de junho de 2020, no Parecer CNE/CP nº 5/2020 e no Parecer CNE/CP nº 11/2020, define-se que “fica autorizada a oferta de Estágios Curriculares Obrigatórios para os cursos de Licenciatura na modalidade EAD (cursos da UAB) e presenciais”.

Além desses pressupostos legais, a UFPel manifesta-se, por meio do Parecer Normativo nº 16, de 09 de julho de 2020 do COCEPE/UFPel, aprovando as Normas para Estágios Obrigatórios e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) na UFPel, durante a Pandemia causada pela COVID-19 e autoriza a oferta de estágio remoto mediante contato prévio da coordenação do curso com as redes de escolas da educação básica. (Manual de Estágios do CLMD na pandemia. Pg. 5)

 

A real dimensão do problema

            Os impactos da Pandemia no sistema público de ensino tornaram-se latentes e, num primeiro momento, existia a hipótese real de que o ano letivo de 2020 foi perdido, pois este sistema, por não possuir processos híbridos de educação, esbarrava em alguns problemas sendo três os maiores a serem equacionados, a saber, o despreparo virtual dos professores, a ausência de plataformas virtuais de ensino e a dificuldade de acesso à internet a alunos carentes.

             Quanto ao professor, o Site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicou em julho do corrente ano, um artigo da professora da Faculdade de Educação e dos programas de pós-graduação em Educação e em Informática na Educação, Patrícia Alejandra Behar. No artigo a mesma afirmou que “Acostumados à sala de aula presencial, os docentes tiveram que deixar seu universo familiar e se reinventar, pois a grande maioria não estava preparada e nem capacitada para isso”. No mesmo artigo a professora traz algumas das mudanças exigidas do docente, como segue:

 

 

 

 

 

Foi preciso pensar em atividades pedagógicas mediadas pelo uso da internet, pontuais e aplicadas em função das restrições impostas pela covid-19 para minimizar os impactos na aprendizagem advindos do ensino presencial.

            Ainda falando do professor, a migração para o sistema virtual tinha outro entrave para ser solucionado, como apontam NETTO e GIRAFFA (apud KENSKI):

...isso ocorre, principalmente, por causa do medo infundado – o mito de que o computador vai substituir o professor – e o desconhecimento. Não se exclui também a acomodação dos profissionais que precisam mudar as práticas docentes, assumir novas posturas e passar a ter um comportamento de permanente atualização profissional. Por outro lado, projetos ruins, a ênfase demasiada aos aspectos tecnológicos e aos conteúdos e o fracasso de algumas iniciativas equivocadas, contribuem para ampliar este preconceito e o estigma de EAD como um ensino de segunda categoria. (KENSKI, 2011).

            Analisando agora a questão virtual e, junto, a limitação financeira dos alunos, o governo do Estado do Rio Grande do Sul na intenção de garantir que o ano letivo não fosse perdido, em agosto deste ano disponibilizou internet gratuita a professores e alunos da rede pública estadual, bastando apenas os mesmos baixarem o aplicativo em seus aparelhos. A reportagem publicada pelo site do Governo do Estado trouxe ainda a fala do Governador Eduardo Leite que reforçou:

“Não nos resignamos em deixar nossos alunos sem ter aulas, portanto, trabalhamos na lógica de aulas remotas, conteúdo transmitido e sendo repassado pelos professores pelo Google Classroom. O movimento exigiu uma costura de tecnologia e também financeira, assegurando às famílias e aos professores o suporte digital”

            Desta forma, o processo educacional público do Estado foi retomado e, somado as mudanças do manual de estágio, possibilitou que os alunos realizassem o estágio curricular obrigatório.

 

O aluno professor 

            Até o momento o estagiário havia participado do processo de Ead como aluno e agora precisaria ser o agente disposto a promover o aprendizado dos alunos. Neste sentido o mesmo precisou ficar atento a:

Vivemos um momento célebre em que a educação virtual tem um peso cada vez mais significativo na educação real. A primeira não apenas repercute na segunda; ela a influencia. Aliás, não somente influencia; ela também a molda. Mais que nunca, como educadores, precisamos desenvolver, monitorar, transformar, inovar, substituir nossos moldes mentais, arquétipos, hábitos, cultura, buscar o desconforto produtivo, flexibilizar, aceitar, adaptar, o que não exprime apenas aceitar, mas ajudar a transformar. (FAVA, 2014, p.69)

 

 

            Assim, ficaram evidentes as mudanças que este agente precisaria estar disposto a fazer na sua forma de pensar o ensino, uma vez que suas outras experiências em estágios obrigatórios tinham sido desenvolvidas em salas de aula, frente a frente com os alunos e com as dificuldades que este tipo de relação trazia. Além disso, Belloni afirma:

A educação é e sempre foi um processo complexo que utiliza a mediação de algum tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em sua interação pessoal e direta com os estudantes [...] Na EaD, a interação com o professor é indireta e tem que ser mediatizada por uma combinação dos mais adequados suportes técnicos de comunicação, o que torna essa modalidade de educação bem mais dependente da mediatização que a educação convencional, de onde decorre a grande importância dos meios tecnológicos (Belloni.1999, p. 54).

 

O aluno do EaD

            Do outro lado desta proposta de estágio curricular à distância está o aluno, acostumado ao mundo virtual, porém para suas atividades particulares de divertimento e passa tempo e que agora precisava utiliza ferramentas digitais para continuar seus estudos normais.

            Além disso, este aluno não está em um ambiente peculiar para o ato de aprender e, estando em casa, precisaria disciplinar-se para tal, já que o seu antigo universo de aprendizagem estava antes assim apresentado:

A escola presencial é polifônica. Os sons se espalham pelos ambientes e dão sentido ao espaço educativo. Vozes se mesclam nos corredores e nas calçadas próximas. Ecos que provocam lembranças de imagens, cores e cheiros: uniformes, sorrisos, suor. Movimentos de corpos em um vaivém permanente: concentração e dispersão. Músicas. As vozes ora cantam raps ora cantam hinos cívicos. Misturam-se aos barulhos dos pés em marcha e aos gritos das torcidas nos jogos e competições. Às brigas. Mobilidades entre palavras e palavrões. Linguagens diferenciadas entre as gerações. Recuperações. Festas. Formaturas e férias. (KENSKI, 2004, p. 53).

           

           

 

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Percurso metodológico 

            Após as devidas modificações no manual de estágio que possibilitaram a prática remota, somadas a atitude do Governo do Estado, que disponibilizou uma plataforma digital e o acesso gratuito de professores e alunos a esta, o sistema educacional estadual reiniciou e isso tornou possível a prática do estágio objeto deste artigo, pois com alunos regressando às aulas existiria material humano para a atividade.

            Assim, o professor da disciplina contatou escolas e disponibilizou turmas para o estágio que poderia ser feito de forma individual ou em duplas. Escolhida a segunda forma e após o professor coordenador de estágio ter apresentado a lista de conteúdos, onde um deveria ser escolhido para ser trabalhado, a dupla optou por Matemática financeira e, assim, redigiu o projeto de ensino do Curso Utilização de Ferramentas Digitais para facilitar o Estudo de Matemática. 

            A proposta do curso foi levar aos participantes o conhecimento de sites em que é possível colocar os valores existentes de um determinado cálculo e chegar à resposta através de um software on line. Assim, durante quatro semanas, através de uma página disponibilizada no próprio moodle da Universidade os conteúdos de Regra de três simples, Porcentagem, Juros Simples, Juros composto e Desconto Simples foram apresentados através de links que levaram direto a lista de exercícios e a forma on line de resolução.

Ainda na última semana foi aplicado um questionário de final de curso, onde os participantes, alunos do terceiro ano do médio, poderiam retornar o que observaram do curso ofertado. Finalizando, ainda existia em cada semana um fórum aberto para que estes participantes tirassem suas dúvidas com os professores do curso.

Abaixo, apresenta-se o questionário de fim de curso:

Questionário de Avaliação:

1. A participação nesse projeto possibilitou uma visão diferente dos conteúdos tratados?

2. Se sim, teria esse outro ângulo de visão melhorado o seu desempenho frente ao que foi estudado?

3. O seu interesse pela disciplina de matemática financeira foi alterado através da participação no projeto?

4. Sendo sua resposta sim para a questão anterior, a disciplina teria se tornado mais atrativa?

5. Dê uma nota de zero a dez para a influência desse projeto em seu aprendizado sobre o estudado:

 

 

 

Resultados e discussões

            Mesmo com as dificuldades e frustrações que serão relatadas a seguir, a proposta do estágio remoto foi muito instrutiva, pois permitiu ao estagiário verificar as dificuldades que professores desta modalidade encontram em desenvolver seus conteúdos e, principalmente, motivar os alunos.

            Com tristeza relata-se aqui que durante as quatro semanas do curso nenhum aluno acessou a plataforma, mesmo com a procura dos estagiários por estes através de e-mails. Estes mesmos estagiários direcionaram e-mails aos professores regentes das turmas e nem assim obtiveram resultados positivos, tampouco de resposta ao questionário apresentado ao final do curso.

            Isso demonstrou o desinteresse dos participantes em estudar de forma on-line, até por provavelmente ser uma novidade para tais. Abaixo uma imagem da página do curso demonstra a falta de participação dos alunos.

 

Fonte: Plataforma do curso oferecido no Ambiente virtual da UFPel.

Conclusão

            A modalidade de Ensino a Distância requer comprometimento das partes envolvidas, a saber, professores e alunos, pois suas características a leva solicitar atenção a matérias, prazos, ambientes e horários de reforço de aprendizagemNo curso aqui estudado, os estagiários (professores) mantiveram a proposta apresentada no projeto do curso, disponibilizaram informações e fóruns para reforço, buscaram a participação dos alunos, mas estes em nenhum momento mostraram interesse, o que demonstra a falta de preparo que estes possuem em ambiente virtuais de ensino, mesmo no momento em que, devido a Pandemia, estão estudando de maneira remota.

 

 

Referências

BELLONI, M.L. Educação a distancia. Campinas: Editores Associados, 1999.

FAVA, Rui. Educação 3.0. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.

KENSKI, V. M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2004. Série Prática Pedagógica.

KENSKI, Vani Moreira. Um Novo Tempo para a Educação. Disponível em: http://www.ead.sp.senac.br/newsletter/janeiro06/variedades/variedades.htm . Acesso em: 10 out. 2011.

Manual de Estágios do CLMD na Pandemia. Disponível em: https://moodle.ufpel.edu.br/ead/pluginfile.php/71976/mod_resource/content/0/Manual%20de%20Est%C3%A1gio%202020-2%20Pandemia%20vers%C3%A3o%20FINAL.pdf. Acesso em 01/12/2020.

https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/artigo-o-ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia/  Acesso em 02/12/2020

https://educacao.rs.gov.br/internet-patrocinada-esta-disponivel-para-alunos-e-professores-da-rede-estadual. Acesso em 01/11/2020.

https://moodle.ufpel.edu.br/ead/user/index.php?contextid=72530&roleid=0&id=670&perpage=20&search&spage=0. Acesso em 03/12/2020.