É Sério

Por Bernard Gontier | 27/04/2008 | Crônicas

É Sério

É serio, mesmo, mais do que você possa imaginar. É não é jogo de palavras não. E tem duas vertentes.

1. Não se leve tão a sério.
2. Não leve os outros tão  à sério

Comecemos pelo 2.

O mundo é um hospício, isso é básico, regra número um no manual de sobrevivência de qualquer um que queira sobreviver se sentindo bem, então, concluindo, só tem louco por aqui. O caso é que essa definição não vale para a categoria dos que habitam seja o Pinéu, seja o Juqueri, ou congêneres, porque a loucura destes,  a patológica, a dos miolos mesmo, catalogada, diagnosticada (?!), no pior sentido físico do termo, bom, essa, num bom dia a gente reza por eles, quando nos lembramos deles, e no mais a gente passa longe. Porque já basta a nossa loucura. E é a essa que me refiro. Todo mundo tem a sua, admitindo ou não, sendo que  a habilidade maior no Grande Paraíso Disfuncional, é tentar administrá-la como puder. Assim, como levar ao pé da letra o que vem de fora? Bobagem, dá um desconto, fulano não está num bom dia, ou, você não sabe o que aconteceu com ela...Muito cá entre nós, como é que você vai levar um louco tão à sério? E o tão é fundamental nessa equação. Porque o sério equivale ao respeito, que é bom e todo mundo gosta, mas tão sério  pode ser uma gran bobagem. Afirmação válida para 99% dos casos, sendo o 1 restante um instante daqueles quando colocam a arma na sua cabeça. Aí o tão vale. Mas, vivamos nos 99, (e até os 99) e continuemos na toada. E a toada aqui, assim versa: não há como avaliar o grau de angústia e/ou sofrimento de outro ser humano, que encontramos aleatoriamente, por exemplo, “amigo há quanto tempo...”,  seja na padaria ou na frangaria. Se isso muitas vezes já é impossível com a pessoa com quem dormimos junto, e não “naquela” noite, mas todas as noites, anos a fio, quanto mais um estranho, um não estranho, um de convívio diário, ou quase...Então calma. Porque louco também tem sentimento. Ah, você sabe o sentimento alheio...ah...nesse caso, nesse instante e com devido respeito, me desvio de você e volto para a toada, que nada, nada, proclama: ninguém sabe o que o outro está sentindo. Vamu lá, será que não lhe parece a maior estupidez, pretensão, megalomania, ou tudo isso junto, sequer supor o que o seu semelhante está sentindo?
E não estamos falando aqui de uma perna quebrada ou de um porre. Ora, (ora que melhora), ora, resumindo a vertente 2, cuja soma do conteúdo também é 2, a saber: o mundo é um hospício e é literalmente impossível SABER o que sente vosso semelhante, assim, por que levá-lo tão à sério? 

Vertente 1 – Não se leve tão a serio.

Na minha opinião, humilde e descalça, e supondo que o espelho acima obteve algum êxito, só resta acrescentar: mas te levas tão a serio por que? (Aqui o tão também vale). Mas tão a sério...hum, sei, a vida lhe foi madrasta, sei, houve uma grande perda, pô, que chato, ahhh,  com você também(!?), quer dizer, desculpe, só com você, mas é óbvio, só você sofreu e o seu sofrimento, que é super seu, é incomparável, indizível, inominável, porque, afinal de contas, só existe você, e é melhor te levares mesmo muito à serio, afinal a humanidade evaporou-se, sobraste tu, pairando imperativo, sobre um nada muito relativo. (Ah, sim, estamos no Recanto, só tem poeta aqui, poesia em geral tem rima, eu que não sabia rimar vou aprendendo, está doendo, mas vai passar...)

O caso é que, a toada continua. O hospício esta aí, ambos somos parte integrante dele, independente de nossas vontades, só isso. E “só louco, amou como eu amei...”, e só louco também, achou como eu me achei...Porque eis a verdade: só eu tenho a verdade! Ah, não cumpriram as minhas ordens, justo as minhas, ainda por cima pra cima de mim, o rei da cocada multicor, o quê!?, teve a coragem de me falar aquilo, pra mim, eu que pago as contas, eu que faço e aconteço...(essas palavras lhe soam familiares?). Pois é...muito à sério. Porque em todo hospício tem Napoleão, e geralmente essa é a fala. Juntando os conteúdos das vertentes, sentimento e pretensão é artigo inato da Napoleoa ou do Mindingo do hospício. E quando a “lente de aumento” do doido, focada naquilo que ele supõe ser uma questão,  sobe uma oitava,  a formiga observada num assim assim se transforma num elefante, e, ou bem ele é cheio de louvor ou ela é cheia de dor, sendo a verdade dos contrários extremamente válida, até porque, tudo por aqui, (no hospício), tem no mínimo duas verdades. À sério, e tão à sério. Mas é sério.