Com todo o respeito à classe dos caminhoneiros que, durante os últimos 8 dias de paralização, mostraram o quão frágil é nossa estrutura governamental e de logística e o quão forte e importante é a categoria, tenho que confessar que isso me provocou certos devaneios e trouxe à tona uma outra questão, e se nós, profissionais de TI, ou “meninos da informática”, resolvêssemos parar?

A ideia é simples, mas, como tudo em nossa área, segue um algoritmo lógico.    Não faríamos bloqueios em vias públicas, não sairíamos às ruas com cartazes e caras pintadas, entoando palavras de ordem, não bateríamos panelas e nem vandalizaríamos nenhum estabelecimento público ou privado, apenas ficaríamos em casa, no aconchego de nossas camas e, o mais importante, com os telefones e computadores desligados.   

Como?  Meu algoritmo talvez tenha bugs, por isso, conclamo a todos um crowdsourcing.

1º Dia:

   O Suporte Técnico não estaria lá para trocar computador de lugar, substituir um monitor ou mouse com defeito, fazer ou restaurar um backup, atualizar antivírus, instalar um programa “essencial”, nem pensar. Wi-fi lenta? vai ler um livro!     Desatolar papel ou trocar o tonner da impressora, ajudar aquele usuário que, apesar de trabalhar com o Word há 10 anos, não sabe formatar um texto, corrigir o problema do celular daquele cara que acha que manja tudo e baixou um app novo que viu no facebook e agora tá travando ou que formatou seu computador pessoal e agora quer o “crack” do Windows ou do office? Nem preciso dizer né?      Essas são situações que só o valente guerreiro que está na linha de frente conhece.    Pronto, 40% das estações de trabalho das empresas e particulares absolutamente inutilizadas.

2º Dia:

A “Informática” já toma evidência e começa a fazer parte das rodas de conversa no cafezinho.    Agora é a vez dos bravos Analistas de Sistemas e Gestores de Banco de Dados, deixando de lado os roolbacks de documentos ou informação inserida indevidamente no sistema.    Sabe aquele botãozinho que o usuário quer tanto que se coloque em uma tela? E daí?    E aquele acesso privilegiado que o Diretor insiste que sua estagiária tenha, nem pensar.   Sem contar aquela dúvida que vem à tona pela milésima vez sobre em qual campo inserir determinada informação ou aquele prazo vital para entregar determinada parte do projeto, ficou pra depois.   Pronto, mais 30% dos postos de trabalho e 70% dos projetos totalmente parados.

3º Dia: 

A cereja do bolo, o estabelecimento do Caos e uma provável Guerra Civil, e tem como protagonista o Administradores de redes, sim, aquele que muita gente nem sabe que existe e para que serve.   Esses sim terão que levantar de suas camas, caminhar, ainda de pijamas, até o seu notebook, acessar remotamente seus servidores e apenas digitar um comando: Shutdown -s now!

Haverá combustível nas bombas, remédios nos hospitais, comida nas prateleiras dos mercados, merenda nas escolas, mas.....  

Deixo a cargo de cada um dos profissionais estabelecerem o tamanho do caos proporcionado que, aliás, nem será noticiado pelas TVs pois afinal, sem computadores, redes e internet, como veicularão qualquer tipo de informação.    Ah, e não adianta nada mandarem o Exército atrás de nós pois, afinal, estamos quietos em nossas casas, dormindo com as luzes apagada, pois o setor elétrico não funciona sem computador, apenas isso.

Quanto às reivindicações, além das básicas como melhores condições salariais e de trabalho, reconhecimento da nossa atividade como vital para o funcionamento de um mundo altamente automatizado, etc., poderíamos pedir o que desejarmos: uma máquina de café só nossa, o direito de mandar para onde quisermos aqueles que nos chamam de “garotos da informática”, folgas no final de semana, o direito de ir a um churrasco de família sem sermos molestados por perguntas idiotas, etc.

Sim, realmente todas as categorias tem seu valor e sua importância na grande máquina que é a sociedade e que, quando uma engrenagem para toda a máquina sente, mas, certamente, no mundo de hoje, apenas a chave de on-off para essa engrenagem rodar são os “meninos da informática”.