É preciso parar de subjugar a criança e o mundo infantil

Muito provavelmente é de conhecimento prévio de todos os leitores que a infância é a mais importante fase da vida, isso porque são abundantes os estudos que demonstram como as experiências vividas na infância podem e muito provavelmente vão influenciar o futuro adulto. Tendo isso como principio devemos logo nos perguntar; Como tratamos as crianças? Alguma vez se quer o caro leitor já se fez esse questionamento? Ora, vivemos em uma sociedade em que bebemos – muitas vezes inclusive já mesmo na infância – de preconceitos sociais, como a misoginia, o racismo, homofobia e tantos outros... Esbanjamos preconceitos e pré-conceitos, logo, não seria ingenuidade achar que o mesmo não aconteceria contra as crianças? Vejamos, as crianças são instintivamente curiosas, estão aptas a descobrir, desbravar, aprender, investigar, questionar, e nós? Os “sábios” adultos? Bom, estamos aptos a podar e subjugar, vivendo em nosso ‘ mundo adulto ‘ tão estrangulador e cada vez mais impaciente, terminamos – conscientemente ou não – podando a curiosidade instintiva das crianças, e mais que isso, subjugando-as, é um pré-conceito consolidado no mundo adulto que o mundo infantil é algo pueril, incrédulo, simplório.

Mundo Infantil.

É mais que óbvio para todos nós que há grandes diferenças entre o chamado ‘ mundo infantil ‘ e o mundo adulto, porém, vale o questionamento do que seria o ‘ mundo infantil ‘ e como a sociedade o trata, gostaria de exemplificar usando um caso atual, o leitor deve ter assistido nas últimas semanas a viralizada entrevista da garotinha de seis anos que disse estar se “sentindo adorável“¹ em seu primeiro dia de aula na nova escola, a repórter, surpreendida pela aptidão de expressão da menina logo se deixou levar pelas risadas. Nas redes sociais houve uma divisão, pessoas também encarando a situação como cômica e outros questionando o profissionalismo da repórter. Veja, a questão certamente não seria o questionamento individual da qualidade profissional da repórter, a critica, no entanto precisa ser estrutural, questionemo-nos, por que é “cômico” uma criança de seis anos se expressar bem? Qual nosso pré-conceito sobre o potencial das crianças? Seria algo tão inconscientemente subjugador que reagimos com uma surpresa cômica perante uma criança que contraria nossos pré-conceitos de como deveria ser uma criança? Seria a garotinha de seis anos excepcional? Ou na verdade qualquer criança com seu pleno potencial bem explorado poderia se expressar igualmente ou melhor?

Toda criança começa como um cientista nato. Nós é que tiramos isso delas.
                                                                                                              - Carl Sagan

     

É preciso rever nossos conceitos, ou melhor, nossos pré-conceitos sobre as crianças e sobre o mundo infantil, enxergamos as crianças como seres potenciais? Vemos o mundo infantil como legitimo? Ou subjugamos ambos? Os adultos precisam incentivar o potencial das crianças, não é tarefa difícil, tampouco é preciso construir algo, nossa única tarefa é regar com incentivos o já NATO potencial infantil, e mesmo assim estamos falhando miseravelmente... Não deveria ser surpresa uma criança com boa cognitiva, muito menos isso deveria ser visto com teor cômico, esse tipo de reação espontânea de nossa parte demonstra como temos formado em nosso inconsciente uma imagem cristalizada e frívola da criança e do seu mundo... Os adultos precisam encerrar de uma vez por todas com a latente hipocrisia contra as crianças, vemos muitas vezes as crianças como impotentes intelectualmente falando, mas muitos ainda acham que violência física educa... Ora, se é criança para aprender, mas adulto para apanhar?...

Empodere uma criança!

O empoderamento infantil ainda é um tabu, mas é preciso entender que assim como outros grupos as crianças também sofreram um preconceito e uma gritante subjugação histórica, que se perpetua até os dias de hoje! Não há como defender a liberdade, os direitos e as garantias para as crianças se nem nós mesmos as vemos como seres plenos, seres em potencial, a criança tem seu mundo e tem legitimidade, precisa-se parar com a abusiva ideia de posse quando se fala sobre crianças, somos tutores, educadores, pais e não DONOS, a ideia de posse desumaniza e deslegitima a criança, é preciso incentivar o livre pensamento infantil e não tentar pensar pela própria criança, é preciso aguçar a curiosidade infantil tentando evoluir essa curiosidade instintiva para uma curiosidade epistemológica e não violenta-las com concretismos... Estado, sociedade e família, é preciso definitivamente entender que a criança de hoje será o adulto de amanhã, quem poda hoje, nada colherá amanhã.

                   

Por fim...
Por fim é preciso compreender definitivamente que a criança não é deficiente intelectual, a criança tem o seu mundo e precisa ter liberdade e legitimidade para explorar e ser plena, o dever do adulto não é toma-la como sua posse e muito menos subjuga-la, devemos incentivar e legitimar, devemos empoderar as crianças!

1 – (https://goo.gl/Wx3czE)