Santa Maria (RS). Boate Kiss. Na madrugada de sábado para domingo (27) o Brasil viveu um clima de guerra, sem ter guerra; um clima de terrorismo, sem que redes terroristas atuem no país; um clima nazista que deixou de “existir” em 1945 com a vitória dos aliados sobre a Alemanha de Adolf Hitler.

A madrugada surrealista convertida em uma das maiores e piores tragédias nacionais foi registrada na perda de 235 vidas de jovens com idade entre18 a27 anos. “Ninguém segura a juventude do Brasil”, preferem matá-la. 

O clima de guerra vem no saldo de número de mortes registradas em alguns minutos, ou horas, dias, tendo por base que o estado de alguns sobreviventes internados em hospitais é considerado crítico, e sabe-se que o sistema médico hospitalar do país também é letal.

O clima de terrorismo porque só os atos extremistas conseguem provocar tantas mortes em tão poucos segundos.

As mortes ocorridas no 11 de Setembro ainda” “vivem” na cabeça de muitos dos que perderam seus parentes naquele fatídico dia. O mesmo, fatalmente, vai acontecer para as famílias e amigos dos 235 jovens mortos no 27 de Janeiro, na Boate Kiss. Por muito tempo a morte vai “viver” na cabeça deles.

O clima nazista é porque o ocorrido no interior da boate teve o mesmo efeito produzido nas câmaras de gás do Terceiro Reich. A inalação de fumaça tóxica acabou com centenas de vidas. Os 235 jovens e os judeus dos campos de concentrações tiveram o mesmo fim. Uma madrugada espetacularmente monstruosa.

Fora os aspectos internacionais do episódio, ele foi abrasileirado por aquele famoso jeitinho que tão bem mal acaba com a nossa santa paciência. Esse foi caracterizado pela “falha” de fiscais que não fiscalizam, deixam correr solto metem a grana no bolso e aí ninguém viu nada, e manda bala. Propina! Pra que alvará?

Depois da porteira arrombada e passado a boiada se perguntou quantas casas noturnas estão na mesma situação de irregularidade da Boate Kiss. Ao menos quatro já foram fechadas. O Brasil é grande e o gosto da corrupção e pela corrupção é maior ainda. Muito tem que ser feito.

O que mais se ouve nesse momento, e em outros momentos, de dor é que se espera apenas pela Justiça Divina. Deus deu poder aos homens (e eles também se dão!) para que resolvam suas próprias questões, não sendo tutelados em assuntos terrenos por anjos ou querubins.

Deus não é não é juiz, delegado, não tem mandato de prefeito, vereador ou governador e nem de presidente, cabendo aos meros mortais resolver as pendengas do plano terreno que cada um ve e deixa rolar. Só geme depois que a pedra cai da ribanceira sobre suas cabeças.

São as famosas tragédias anunciadas que deixariam de acontecer se a competência fosse o elemento imperativo nas instituições as quais se esperam a existência dessa virtude. “A esperança é a última que morre”, nos confortariam de algum lugar àquelas jovens 235 vidas interrompidas.

Essa e outras tragédias anunciadas marcarão, ainda por muito tempo, a história do país que do jeito – e jeitinho – que está se apresenta como outra tragédia anunciada, que poderia ser evitada se Pedro Álvares Cabral corta-se o caminho.