E agora?

A vida nos prepara cada uma...

A mais ou menos um ano, recebemos nosso apartamento. No térreo, e adaptado para que nossa vida fosse mais fácil, com um irmão especial, e uma filha pequena.

Portas e corredores mais largos, banheiro com box para colocar cadeira de banho, piso antiderrapante, etc. e tal. Perfeito!

Meu marido e eu pensamos que nossos problemas estivessem resolvidos. E estavam. Por pouco tempo, mas estavam.

Num sábado pela manhã, minha irmã ligou para que fossemos para a casa dela. O céu estava bem escuro! Resolvemos ir antes da chuva. Mas de repente, ela começou a cair, e muito forte! Trovões e relâmpagos rasgavam o céu. Um vento inoportuno apareceu para ajuda-los.

Foi tudo muito rápido! A água e o lodo começaram a entrar pela casa, nos deixando apavorados.

Meu marido pegou meu irmão no colo, e o levou para a casa de uma vizinha, no andar acima do nosso, enquanto eu subia as escadas com nossa filha no colo, e a sacola que eu havia preparado para levar para a casa de minha irmã. Meu marido ainda voltou para pegar a cadeira de rodas, e nosso dinheiro que estava no armário da cozinha, atrás da lata de arroz. E foi tudo o que conseguimos salvar. Graças a Deus!

Com o passar do tempo, os gritos e o choro das crianças foi parando. Estavam todos tão amedrontados, que o silêncio começou a falar mais alto!

Já era tarde, quando aos poucos a chuva foi parando, até transformar-se numa garoa fina, como que a desculpar-se pela estrago feito. Como se possível fosse.

Os bombeiros foram chamados, e graças a eles conseguimos sair do apartamento sem perigo algum! Uma escada foi colocada na janela dos vizinhos, já que pelo térreo ninguém conseguia passar. Muito triste!

Deixando tudo para trás, fomos para casa de minha sogra, num bairro distante do nosso. Penso que ficaremos por lá um bom tempo. Será nosso porto seguro!

Voltamos ao local no dia seguinte, para tentar recuperar alguma coisa de valor. Que nada! Nossos móveis, roupas, documentos, o álbum de casamento, estavam todos cobertos pela lama, pelo lixo que desceu rua abaixo. Nada poderia ser aproveitado.

Precisamos tomar vacina contra o tétano, medicamentos contra parasitas. Tentamos evitar possíveis doenças.

Mas só a doença do coração triste não conseguimos evitar. Como doeu! Como dói! Às vezes me pergunto se nossos sonhos foram levados pela chuva, pelo desleixo das autoridades, ou pelos homens que teimam em não cuidar do que é do bem comum!

Difícil saber...