DUPLOS TRÊS ANOS DE VITÓRIA MUNDIAL

Por Mário Tomás Veríssimo (MTV)

Modificado pela última vez no dia 27 de Junho de 2020

Eu sei que não há comparação possível, mas uma coisa me chamou atenção e despertou-me o interesse de apresentar as duas grandes figuras, de nível mundial, uma do arcabouço histórico angolano, António Manuel ´´N´Vunda´´ e outra, igual a Deus, Salvador da Terra, Jesus Cristo, o Messias.

Tudo começou quando eu mareava na aventura diária de me apropriar da pintura dos livros e jogá-la para o interior da memória os conhecimentos neles contidos e percebi que o angolano, meu compatriota, primeiro embaixador a ir à terra do Papa, aceitou o desafio e pós-se numa grande aventura de atravessar o oceano, realizando o seu desejo de beijar os pés do papa.

Quer Jesus Cristo, quer N´Vunda, começaram a sua actividade aos trinta anos e concluíram-na aos trinta e três, com a morte, depois de muitos sabores e dissabores, que ficaram marcados para a história do mundo.

António Manuel´´Ne Vunda´´, nome de baptismo, em português, NsakuNe Vunda e N´Vunda, na sua língua materna, kikongo, falada actualmente, na República de Angola, nas províncias do Uíge, Zaire, Cabinda, e na região do baixo Congo, na República Democrática do Congo e nas regiões limítrofes da República do Congo, a posteriori também apelidado por ´´O Negrita´´, foi um nobre da casa real kongolesa, negro, proveniente da província de Nsundi, a sul do rio Zaire. Enviado em 1604, por Mpanzu a Nimi (rei Álvaro II, nome de baptismo, que reinou o Kongo entre 1587 e 1614), como Embaixador junto do Papa, com o objectivo de reforçar os laços directos com a igreja de Roma, enfraquecidos devido a uma possível invasão militar e, do ponto de vista religioso, ao desentendimento com os bispos portugueses enviados para a nova Diocese de Mbanza Kongo.

N´Vunda tinha uma missão bastante genérica, nomeadamente: fazer compreender ao Papa de que os portugueses estavam a ameaçar a parte sul do Reino do Kongo (o reino do Ndongo) e que o rei Álvaro II se sentia ameaçado pelo bispo português de Mbanza Kongo; solicitar ao Papa a valorização do papel do rei católico de Álvaro II, para permitir receber ajudas directas do Pontífice, para defesa dos princípios cristãos.

Falando em datas, a fim de tornar a leitura mais aprazível, apesar das várias turbulências, N´Vunda embarcou para o velho continente, europeu, a 17 de Agosto de 1604. Depois de um ano, três meses e cinco dias, propriamente a 22 de Novembro de 1605, chega a Lisboa, Portugal, após uma paragem no Brasil. Em Lisboa, N´Vunda, deparou-se com a hostilidade de autoridades competentes, portuguesa e espanhola, cujas coroas estavam unidas naquela época, por não apreciarem o facto de o Reino do Kongo negociar directamente com o Pontífice, pretendendo que o Embaixador falasse do seu mandato primeiro com o representante espanhol junto do Estado Pontifício.

Bem, esta última atitude dos portugueses e espanhóis, fez-me recordar um facto que aconteceu comigo no dia 22 de Junho de 2020, na sede de um instituto público, sito nas lezírias da cidade de Luanda, cuja personalidade jurídica foi ganha, enquanto pessoa colectiva de direito público, por meio do Decreto-Lei n.º 2/13, de 25 de Junho, que define as Regras de Criação, Organização, Estruturação e Funcionamento dos Institutos Públicos. Cheguei à porta ou portão, como soe dizer-se, cumpri, escrupulosamente, com as regras de higienização, tal como orientam os diplomas legais que almejam prevenir a contaminação e a disseminação massiva da famosíssima pandemia COVID 19-Coronavírus, visto já estarmos aos 244 casos positivos (infomação do dia 27 de Junho de 2020), todo o cuidado é imprescindível, direccionei-me à recepção da citada instituição, não sou muito bom em fixar horários, mas, o meu estro astrológico deu-me, pois, a crer que tenha sido por volta das doze horas menos alguns minutos para às treze horas, provavelmente; fui atendido por uma senhora, de idade, que estava sentada, e que, ao me ver, perguntou-me, em que posso ajudar? Cordialmente, cumprimentei-a, conforme orienta a ordem social, - eu respondi-lhe: quero marcar uma audiência com o Director Geral. - Ela, ouvindo isso, questionou-me, como quem me estivesse a investigar ou a entrevistar: ´´sobre quê´´?!, perguntou-me aquela senhora, num tom e olhar de possível narradora personagem omnisciente. Eu disse-lhe: ´´desculpe-me, mas a questão é de índole pessoal, sentir-me-ei apenas confortável conversando com o Director Geral´´. Ela insistiu, insistiu, insistiu até que amoleceu o meu ego e cedi. Expliquei-lhe o meu desejo, infelizmente. Desencorajou-me. Neste momento, estou sem certeza e garras sobre tal processo. Penso que N´Vunda teve o mesmo sentimento de negativismo e abatimento e se o Papa não soubesse de antemão que um africano fizera tudo, correra sérios perigos para o conhecer pessoalmente, para passar a mensagem do seu rei Álvaro II e beijar os seus pés, nada do que estamos aqui a narrar faria sentido porque o teriam impedido, pela inveja, raiva de verem um negro, africano, a chegar até ao Papa. Por isso, relaciono o que ocorreu comigo, por sentir que a senhora que me atendeu não me quis ver a chegar até ao Director Geral daquela renomada instituição. Mas de uma coisa eu tenho a certeza, inspirei-me em N´Vunda, portanto, não hei-de desistir. De um ou de outro jeito terei uma audiência com aquela Entidade (Director Geral).

Depois de muitos contratempos, agora motivados pelo cansaço, falta de dinheiro, doenças como a cólica renal, estado de mal-estar, morte do caríssimo sobrinho, N´Vunda chegara à Itália, nos últimos dias de Dezembro de 1606.

No dia 2 de Janeiro de 1607, o Embaixador angolano chegou a Roma, onde foi recebido pelo Papa, que o disponibilizou um dos quartos mais bonitos do Vaticano: o quarto do Paraíso, perto da Capela Gregoriana, destinado aos hóspedes mais ilustres. N´Vunda era um daqueles.

Infelizmente, até na nossa vida prática, nos tempos actuais, acontece, tudo o que é bom dura pouco, António Manuel N´Vunda morreu, às sete horas da manhã de 5 Janeiro de 1607, vítima de febre contínua e malígna, dores de garganta, dores no peito, dores nos rins e dores para urinar. O Embaixador foi a enterrar na actual basílica de Santa Maria Maior, a quarta maior de Roma. Lá se foi o Emissário, herói angolano, africano de raiz, de cariz mundial.

Quando N´Vunda morreu tinha 33 anos, os últimos três passados a lutar para chegar a Roma, passar a mensagem do seu rei Álvaro II (Mpanzu a Nimi) e ver o papa Paulo V Camilo Borghese (do latim, Paulus V ; do italiano, Paolo V; nascido no dia 17 de Setembro de 1550 - na altura, chefe da Igreja Católica e governante dos Estados papais de 16 de Maio de 1605 até à sua morte, aos 28 de Janeiro de 1621).

Cristo, significa Redentor, Messias, do latim ´´Christu´´, do grego, ´´Khristós´´, que significa Ungido, do hebráico é Mashiach, que significa Messias, judeu, nascido em Belém, representou com o seu nascimento o ponto de virada da história, ao datar a era Moderna a partir do seu nascimento. Também conhecido por Jesus Cristo, é uma entidade que ao falarmos d´Ela, teremos de fazer uma viagem sintetizada, inicialmente, no livro de João, capítulo 1, versículos 1 a 3, 15 e 30, da Bíblia Sagrada, por ser aquele que diz que: ´´no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus´´. ´´Ele estava no princípio com Deus´´. ´´Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.´´ Foi também testemunhado por João Baptista, no penúltimo versículo citado, quando afirmou que ´´O que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu´´. O mesmo não pára por aí e vai mais além, afirmando, no último versículo mencionado, que ´´Após mim vem um varão que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu´´.

Aqui, diferentemente do que pudemos ver com o que aconteceu a N´Vunda, para entendermos e conhecermos a grande figura do maior homem que já viveu nesta terra, temos de nos basear na fé, aquela a que foi conceituada no livro de Hebreus 11:1, da Bíblia Sagrada, uma epístola escrita por apóstolo Paulo, como sendo o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Se assim o fizermos, perceberemos que Jesus Cristo antes da criação do mundo, mencionada em Génesis 1, já era e existia, é e existe e para sempre será e existirá.

Jesus Cristo, começou, oficialmente, o seu ministério aos trinta anos, segundo o capítulo 3, versículo 23 do livro de Lucas, da Bíblia Sagrada, idade pela qual foi, pois, baptizado por João Baptista (João 3:21), fazendo vários milagres e demonstrando muitos sinais, muitos deles conhecidos por cristãos de voto e não só, por exemplo, a multiplicação dos pães e peixes; a transformação da água em vinho; andar no mar; a ressurreição de Lázaro, a filha de Jairó, o filho de viúva e a sua própria; jejuou durante quarenta dias e quarenta noites; expulsar demónios; curou paralíticos, leprosos, cegos, surdos, mudos, pessoas com febre, uma mulher com hemorragia, um homem com a mão atrofiada, restaurou a orelha de um dos guardas da corte que o vinha prender; acalmou a tempestade; secou uma figueira; encheu redes de pesca com peixe; fez o seu discípulo, Pedro, encontrar um peixe com dinheiro para pagar o imposto do templo; mostrou que sabia o que estava dentro do coração de cada pessoa; e outros, sinais estes que ilustram a grandiosidade de Deus, Omnipotente, Omnisciente e Omnipresente.

Jesus Cristo morreu, aos trinta e três anos, crucificado, num lugar chamado a Caveira, que em hebráico se chama Gólgota (Mateus 27:33, Romanos 15: 22, Lucas 23:33, João 19:17), onde veio a ressuscitar três dias depois (Mateus 28:1 a 20, João 20:1 a 31, Romanos 16:1 a 20, Lucas 24:1 a 53).

Das duas figuras, podemos constatar que ambas começaram a sua missão aos trinta anos e concluíram-na aos trinta e três anos, daí a razão do título deste escrito: Duplos Três Anos de Vitória Mundial, dedicados a Jesus Cristo, o Nazareno, e a António Manuel N´Vunda, O Negrita, do antigo reino do Kongo.

O duo, antes dos trinta anos, já praticava certos actos ligados à sua missão, mas foi com a idade mencionada que tudo começou oficialmente, por ser daí em que eclodiram os factos que ficaram marcados para a eternidade. Por exemplo, lembro-me, por um lado, embora não tenha vivido tal época, mas a Bíblia Sagrada o descreve como se fosse hoje, quando Jesus, aos doze anos, discutia, com tamanha propriedade e sapiência, com os grandes líderes do Templo de Salomão. E N´Vunda, por outro lado, já naquela altura, enquanto um indígena angolano-africano que, antes dos trinta anos, já sabia ler e escrever correctamente, a prova disso está na carta escrita de próprio punho que enviara ao papa aos 28 de Agosto de 1606.

Jesus Cristo e N´Vunda foram, ambos, eternizados. N´Vunda teve e ainda tem uma eternização terrena, que começou desde o momento da sua chegada a Roma, sua morte até aos dias que correm. Foi-lhe instituído um busto fúnebre, ordenado pelo papa, feito pelo escultor Francesco Caporale, entre 1608 e 1629; em Angola, em 2002, emitiram-se selos comemorativos em sua homenagem; até se fala de um próximo filme norte-americano dedicado às suas incríveis adversidades; actualmente, existe uma rua em Roma, no bairro Portuense dedicada a ele. Jesus Cristo, por sua vez, com a sua morte livrou todo o mundo do pecado, dando a possibilidade a cada um, segundo o livre arbítrio, de ser salvo. Este tem eternização terrena, basta vermos os filmes, novelas, livros, revistas que abordam sobre a sua vida, como sendo o mestre dos mestres, o bom pastor, o sábio, o maior homem que já viveu, o imaculado, o tudo. E, ao contrário de N´Vunda, Jesus Cristo tem, também, eternização celestial, para todos, tal como eu, os que aguardam a sua segunda vinda, a fim de os livrar deste mundo pecaminoso e arrebatá-los para um lugar onde não haverá mais choro, morte, dor nem pranto.

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Bibliografia:

MISTRETA, Giuseppe - Uma Ponte de Quatro Séculos A relação antiga e especial entre Itália e Angola, Colecção Biblioteca da História, Mayamba Editora, 1.ª edição, Luanda, Fevereiro de 2014;

ALMEIDA, João Ferreira - Bíblia Sagrada Velho e Novo Testamento - Editora Sociedade Bíblica, Edição revista e corrigida, 2001;

ADVOGADOS, Fátima Freitas – Colectânea de Direito Administrativo – 4.ª edição, Plural Editores, 2015/2016;

https//:www.significados.com.br Significado de Cristo consultado no dia 24 de Junho de 2020, às 08:01;

https://www.novafrica.co.ao/.../nsaku-ne-vunda-o.../ consultado no dia 24 de Junho de 2020, às 10:55;

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_congo consultado no dia 24 de Junho de 2020, às 11:15;

http://jornaldeangola.sapo.ao/.../pais-regista-32-novos... consultado pela última vez no dia 27 de Junho de 2020, às 14:28;

http://jornaldeangola.sapo.ao/.../covid-19-angola-com... consultado no dia 25 de Junho de 2020, às 10:31

http://m.portalangop.co.ao/.../Bispos-angolanos-rezam... consultado no dia 25 de Junho de 2020, às 10:43

https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Paulo_V consultado pela última vez no dia 25 de Junho de 2020, às 11:40;

https://www.respostas.com.br/quais-foram-os-milagres-de.../ consultado pela última vez no dia 25 de Junho de 2020, às 11:45