Drogas: para onde vamos com isso?

Há muita controvérsia a respeito do que vem a ser droga. A conceituação é variada e a postura em relação aos resultados derivados do uso e aos usuários também varia. Só há consenso, ao menos formal, no que diz respeito à convicção de que droga não representa algo bom. Tanto que quem a combate afirma que "droga é uma droga!"

Hoje se diz que droga é toda substância utilizada para produzir alguma alteração nas sensações, na consciência, na emoção. Essas mudanças podem diminuir ou aumentar as atividades mentais, podem alterar a capacidade de percepção. As substâncias podem ser, também, legais (álcool ou cigarro) ou ilegais (maconha, cocaína, mela), e até medicinais (todo medicamento, a rigor, é uma droga!). Alguns são mais rigorosos e afirmam que toda substância industrializada é uma droga.

Em geral há uma certa tolerância em relação às drogas legalizadas, como o cigarro e as bebidas. As eventuais condenações a elas se devem não ao seu poder de produzir dependência, que é uma das características da droga, mas aos problemas de saúde que derivam de seu uso. Essas, "drogas legalizadas" já entraram no mercado e fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Basta observar a reação de uma pessoa ao ver alguém fumando um cigarro de uma marca qualquer e a mesma pessoa ficar sabendo que outro alguém está fumando maconha. Há um que de inquietação com relação à maconha e relativa aceitação para com o cigarro. E isso pode ser aplicado às outras drogas. Dá um certo status algumas latas de cerveja, mas com relação ao crack...

Embora se saiba dos malefícios do cigarro e do álcool, a propaganda de primeira linha leva a população a aceitar que as pessoas usem essas drogas. Como não há propaganda e, pelo contrario, há um clima geral de repressão à cocaína, maconha, crack, heroína, LSD, Ecstasy, a postura geral é de repulsa. E, o que é pior, condena-se tanto o usuário como o traficante.

Essa, portanto, é uma discussão pertinente: o juízo a respeito do usuário. Ele deve ser visto como vitima ou criminoso? E o traficante, pode ser visto como um trabalhador, defendendo seu "ganha pão"? Num mundo de desemprego crescente, servir de "mula" e receber alguns trocados para alimentar os filhos pode ser considerado crime?O crime maior é usar ou vender-distribuir? Como deve ser encarado o pequeno e o grande distribuidor? O que dizer do inegável envolvimento de membros da polícia, uma vez que são presos quase que só os pequenos distribuidores e usuários ao passo que os grandes permanecem quase inatingíveis?

Outro bloco de questionamento é a relação que a família deve ter com a pessoa usuária. Até recentemente a postura era tentar fazer, a todo custo, o usuário deixar seu "vício". O foco era sempre a Droga e seus malefícios. Mas já se desenvolve um novo raciocínio: ao frisar o ataque contra a droga, na verdade o que acontece é um reforço da mesma. O mesmo raciocínio vale quando se fala nos malefícios. Também aqui a droga acaba se evidenciando mais do que os males por ela provocados.

A nova postura, que se desenvolve na atualidade é de não negar os danos, mas reforçar a necessidade de demonstrar amor e receptividade para com o usuário. É necessário compreender a situação que leva a pessoa ao uso para mostrar que existe algo melhor; que a vida vale mais e deve ser preservada e valorizada acima de tudo; que um problema não se soluciona com outro...

E quais seriam as situações que levam ao uso de droga? Os mecanismos são os mais variados e complexos: carência de amor familiar; desvalorização da vida; problemas aparentemente insolúveis, para o indivíduo; depressão; a existência sem sentido. As causas são as mais variadas e de origem as mais diferentes. Mas, basicamente, todas as soluções apontam para um só caminho: a vontade do usuário em sair dessa, em busca de uma melhor. Embora, no momento o melhor para essa pessoa pareça ser permanecer usando a droga. Mais ainda, usar a droga é a solução de um problema, portanto o deixar de usar tem que ser apresentado como uma solução melhor do que aquela que está sendo dada com a utilização da droga. E essa solução nem sempre é evidente, na maioria dos casos precisa ser buscada pelo grupo familiar.

Também é bom quebrar um estereótipo sobre o fornecedor. Em geral as pessoas recomendavam cuidado com os estranhos, acreditando que nele residiria o perigo das drogas. Hoje se sabe que o grupo de amigo é o caminho mais próximo para se chegar ao vício. Portanto não se deve ficar preocupado com o perigo da droga vinda dos estranhos, mas cuidar com as companhias. A droga entra pela porta dos amigos e não pelos eventuais contatos com estranhos.

A questão Droga, portanto, além de ser encarada como um problema de saúde, social, econômico, familiar, pode ser visto como problema filosófico. Dentro dessa perspectiva se pode analisar o problema da liberdade: usar ou não usar: quem usa é livre para usar? Mas como entender a relação de dependência por ela produzida? Além disso, essa é uma questão inter-relacionada com outras: família, educação no que diz respeito aos resultados de seu uso; de segurança pública, visto que se diz que o mundo do tráfico é violento; produz uma questão ética, visto que no mundo da droga se manifestam outros valores, diferentes daqueles já cristalizados pela sociedade; manifesta, também um problema cultural, uma vez que os valores que se chocam produzem manifestações antagônicas: o mundo do tráfico x o mundo da sociedade que a combate.

Apenas para ver como a problemática da droga está relacionada como a família, leia, agora, esta mensagem de Dorothy Low Nolte, com o significativo título: As crianças aprendem o que vivem

Se a criança vive com críticas,

aprende a condenar!

Se a criança vive com hostilidade,

aprende a agredir!

Se a criança vive com zombaria,

aprende a ser tímida!

Se a criança vive com humilhação,

aprende a se sentir culpada!

Se a criança vive com tolerância,

aprende a ser paciente!

Se a criança vive com incentivo,

aprende ser confiante!

Se a criança vive com elogios,

aprende a apreciar!

Se a criança vive com retidão,

aprende a ser justa!

Se a criança vive com segurança,

aprende a ter fé!

Se a criança vive com aprovação,

aprende a gostar de si mesma!

Se a criança vive com aceitação e amizade,

aprende a encontrar amor no mundo!

Não pretendo ser modelo para ninguém, nem dizer o que cada um deve fazer. Mas que tal continuar a reflexão?

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação

Filósofo, Teólogo, Historiador

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