Todos os que se questionam sobre as percentagens elevadíssimas do abstencionismo em qualquer processo eleitoral talvez encontrem nas linhas que se seguem algum paralelismo com as suas próprias ideias.

Na minha modesta opinião os fatores que aqui menciono, estão na génese desse desinteresse e são quanto a mim os grandes motivadores do brutal abstencionismo que se tem verificado.

Sei e concordo que há, tanto à direita como ao centro e à esquerda, ideias com as quais me identifico, mas confesso que de facto são poucas quando comparadas com as outras que simplesmente abomino.

Como tenho as minhas próprias ideias e as prezo acima de quaisquer outras, é em nome da minha condição humana e da sua própria liberdade que não subscrevo nenhuma destas fações, e porque a omissão também é pecado, devo até dizer …para não faltar à verdade, que os considero a todos “farinha do mesmo saco”.

O primeiro vetor para o poder é a política, que herda geneticamente os mesmos genes do poder e por isso mesmo partilham o mesmo destino.

Mas é também uma arte. A de aprender a dizer o que nunca se pensou fazer.

É a esta capacidade que todos os políticos aspiram, veneram e cultivam. Desenvolvê-la, é para muitos a única tarefa a que se propõem.

Contudo, não nos iludamos, pois se mentir aos outros é muito fácil. É bastante difícil enganarmo-nos a nós próprios.

É por isso que um bom político sabe que deverá ter no mínimo estes requisitos: Antes de tudo, deverá ser mentiroso que baste para se enganar a si próprio, pois o seu primeiro teste consiste em se fazer acreditar em si mesmo; deverá depois ser capaz de dizer sim a tudo, e não se impressionar nunca, nem com a fome nem com a miséria dos outros, deve ser inflexível e determinado, ter sempre presente que a única função das bases é essa mesmo, a de base…de suporte, e como tal, servir unicamente de apoio á atividade de liderança e que nada mais lhes deve ser permitido ou facultado.

Se determinada politica falha, é porque uma qualquer destas qualidades falhou antes no político.

Infelizmente, vejo-me obrigado, como diz o povo, a metê-los todos no mesmo saco.

Da esquerda à direita, passando obrigatoriamente pelo centro, todos têm em comum a mesma vontade de poder, facto pelo qual me merecem todos eles a mesma estima confiança e consideração. 

Vejamos: “o voto é a arma do povo”. Antes das eleições, cada cidadão um voto, cada voto um fim em si mesmo, todos são necessários e imprescindíveis, e por isso mesmo disputados à esquerda ao centro e à direita.

Digladiam-se os políticos entre si, tiram os casacos, arregaçam as mangas, põem um sorriso de orelha a orelha.

A sua oportunidade chegou. Vão pôr à prova toda a sua capacidade de convencer os outros, todas as armas são poucas na guerra que se avizinha.

Saem à rua, distribuem lembranças; isqueiros, aventais, autocolantes e outras porcarias, aparecem nos locais mais inesperados, onde nunca antes foram vistos e onde possivelmente só voltarão na próxima campanha. Visitam os hospitais, os mercados, as feiras e até os bairros mais pobres. Desdobram-se em sorrisos, abraços, apertos de mão, beijam indiscriminadamente velhos e crianças. É o tempo da caça ao voto, do tudo por tudo, da venda das utopias. Perguntam tudo. Ouvem tudo, e até parecem entender… Depois…Prometem, prometem e voltam a prometem.

Nesta fase. Os candidatos servem a política e os eleitores servem os candidatos.

Chegado o dia das eleições, é a hora de desarmar o povo.

Contam-se os votos. 

Guardam-se as máscaras.

Lavam-se as caras e desinfetam-se as mãos. Desdobram-se novamente as mangas das camisas e vestem-se de novo os casacos caros.

Para eles, terminou o sacrifício. Acabou a farsa.

É tempo de colher os frutos e saboreá-los com a calma que o momento exige, vai longe o tempo das correrias, das promessas, das visitas aos lugares comuns, da lama dos terreiros do mercado nos sapatos da campanha, do cheiro pestilento dos esgotos dos bairros pobres cheios de moscas, do cheiro a fritos das feiras, dos abraços dos velhos e dos beijos daquelas criancinhas de cara suja.

Para os outros…a vida é dura, terminada uma farsa é tempo de começar outra.

Repete-se o ciclo, o sorriso que havia ontem nas suas caras cheias de esperança está agora mais pálido, e em breve se esfumará diluído na tristeza dos dias sempre iguais. Sempre tristes. 

Agora… os eleitores que sirvam a politica que os candidatos eleitos precisam de se servir dela. …Até quando permitiremos que assim seja…

A política em Portugal é um negócio de família extensivo aos amigos mais chegados.

Um negócio próspero onde se criam fortunas. Como já alguém lhe chamou… uma verdadeira agência de empregos. Gerida por mentirosos, gente sem pudor nem escrúpulos a quem permitimos em nome da democracia, que vivam às nossas custas e que ainda por cima descaradamente mas não sem razão, nos acusam de vivermos acima das nossas possibilidades.

E de facto, bem vistas as coisas é verdade. Temos que admitir que sim.

Vivemos incontestavelmente acima das nossas possibilidades dado que continuamos a sustentá-los mesmo sem podermos, ostentando dessa forma um luxo que não podemos suportar.

Continuamos a permitir que estes abortos roubem o dinheiro dos impostos, fazendo as mais diversas negociatas… tipo parcerias público privadas, que de público têm unicamente as despesas suportadas por todos nós através dos impostos, e de privadas, os lucros que dividem entre eles e os comparsas seus amigos com os quais contrataram e tutelam os respetivos serviços.

Tentar reverter essa tendência é sempre uma tarefa hercúlea, pois parece consistir em contrariar uma lei natural e como tal intrínseca à própria natureza das coisas.

O poder parece obedecer a uma maldição Superior, um desígnio natural e supra-humano que atua como contrapeso entre a força do dever e a legalidade do seu exercício, tem na sua natureza qualquer coisa de monstruoso, um misto de persuasão malvadez e rebeldia que corrompe a dignidade e destrói (por dentro) a personalidade intrínseca do ser humano… mas é precisamente aí que se mede a grandeza dos homens; Há os que nem sequer tentam, os que tentam de vez em quando e não conseguem e finalmente aqueles que nunca cedem, os duros, os visionários… os que não ganhando também não perdem.

É nestes que tenho fé e espero que a mereçam, pois quero acreditar que não tem que ser assim.

Certamente ainda haverá gente séria e honesta com determinação suficiente para reverter esta tendência… então a esses dirijo respeitosamente os meus votos sinceros de uma vitória confortável.