Donana

Todos os dias era a mesma coisa. Ano após ano. Pela manhã, após o banho, Donana colocava uma roupa bonita, limpinha, muito bem passada, cheirando a alfazema. Penteava-se caprichosamente. Nem um fio de seu branquinho cabelo ficava fora de lugar. Nem um. Preparava-se como se a um passeio fosse.

Depois, com um olhar altivo, corpo ereto, um meio sorriso no rosto, caminhava lentamente até a praça central, cumprimentando a todos que encontrava pelo caminho, desejando que aquele dia fosse melhor que o dia anterior.

Ao chegar à praça, sentava-se num banco em frente à fonte luminosa, mantendo os olhos fechados, como se não quisesse ver o tempo passar. Vez por outra uma lágrima escorria em sua face, sinalizando algum sentimento reprimido.

Após o relógio da Igreja Matriz bater por dez vezes consecutivas, levantava-se e dirigia-se ao Banco, para pagar suas contas. Se as tinha ou não, a ela não interessava. Esperava calmamente a sua vez na fila... Ninguém zombava de seu jeito diferente, estranho. Afinal, tinha sido professora de quase todos que ali se encontravam. Carinhosa, meiga, paciente. Em suas mãos nenhum aluno deixara de aprender.

Costumava passar na lanchonete do Juca para tomar a mesma vitamina de sempre. Nem precisava pedir. Era só aparecer que alguém se prontificava a servi-la. Ficava ali tempo suficiente para deixar o tempo escorrer entre seus dedos.

Depois, cabisbaixa, com os ombros arcados para frente, como se o peso da vida fosse demasiado para ela, caminhava a passos lentos, percorrendo as ruas da cidade, falando, sabe-se lá com quem. Vez por outra parava e olhava para os lados como se estivesse procurando alguém.

Lá pelo final da tarde, sorridente, feliz, voltava apressada para casa como se muito tivesse que fazer. E tinha. Era o jantar que preparava para ela e sua mãe. Como se ela ainda estivesse lá.

Donana!