Tivemos boas experiências com domésticas trabalhando em nossa casa. Gosto de lembrar das coisas boas e estranhas que resultaram do convívio, às vezes longo, às vezes curtos. Todas elas tinham um lado positivo e nem sempre esse lado se relacionava ao desempenho. Como a nossa necessidade de uma pessoa não era luxo, isso fazia com que suportássemos estoicamente eventuais falhas.


Tivemos pessoas maravilhosas como a Benedita, uma negra simpática e culta que gostava de falar sobre literatura brasileira e internacional. Mentira? Juro que não. Diante do nosso susto pelo comentário sobre o livro Ratos e Homens do John Steimbeck, ela explicou que a mãe e ela moravam na casa dos patrões e lá tinha uma grande biblioteca. Menina curiosa, ficou deslumbrada com tanto livro e o patrão começou a incentivá-la a ler.


Tivemos uma muito simpática e esforçada, mas sempre que via minha esposa tocando piano, abandonava a vassoura e fica a ouvir toda emocionada. "A senhora deveria tocar na televisão, pois toca muito bem", disse ela mais de uma vez. Os elogios eram bem-vindos, mas o trabalho... deixa pra lá.


Um dia a Celia sentiu um cheiro estranho de ervas queimadas que saia do sanitário da edícula.
- Que cheiro é esse Madalena?
- Nada não dona Célia, é um incenso que estou queimando.
Uma vizinha que estava em nossa casa e bem mais experiente na vida e nos aromas, disparou:
- Que incenso nada! É maconha e das boas