Universidade Federal de Sergipe – UFS

Departamento de Geografia

Aluna: Jirlan Costa Fontes

 Rezenha: Domenicco Scandella: Um moleiro atípico.

 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Carlo Ginzburg nasceu em 15 de abril de 1939 em Turim na Itália. É historiador, conhecido como um dos pioneiros no estudo da micro - história. Filho de professor e tradutor Leone Ginzburg e da romancista Natalia Ginzburg. Estudou na Escola Normal Superior de Pisa. Já lecionou nas mais conceituadas Universidades a exemplo de Harvard, Yale, Princeton e desde 2006 ocupa a cadeira de História Cultural europeia na Escola Normal Superior de Pisa. Os livros de Carlo Ginzburg já foram traduzidos para mais de 15 línguas, é sem dúvida um notório intelectual italiano.

Carlo Ginzburg estava fazendo uma pesquisa sobre seitas religiosas de curandeiros e bruxas então se deparou com documentos que versava sobre um julgamento, era um processo com depoimentos de um moleiro do norte da Itália chamado Domenico Scandella, conhecido como Menocchio que defendia o surgimento da cosmogonia através da putrefação.

Domenico Scandella, ou simplesmente “Menocchio”, nasceu em 1532, morador de Montereale, na Itália. Casado, pai de sete filhos trabalhava principalmente como moleiro, apesar de exercer outras profissões. Homem irreverente, atípico para o lugar e momento em que vivia, sabia ler e escrever e um pouco de latim, e apesar de socialmente ser humilde e de tradições populares, no cenário do campesinato, Menocchio descortinou e percorreu o mundo da leitura e do pensar, não lhe permitindo contentar-se com o silencio das palavras e ir de encontros às ideias arbitrárias que a Igreja Católica Romana impunha a toda sociedade naquele momento.

Em pleno século XVI, Menocchio se apropriou de diversas leituras. A Fioretto dela Bibbia era uma dessas leituras que realiza constantemente. Menocchio não era leigo como muitos acreditavam. A partir de então, organizou ao seu modo suas ideias e pensar, e procurou divulgar, desmitificar as afirmações dogmáticas da Igreja Católica, detentora da pura “verdade”, utilizava da intolerância religiosa, através do Santo Ofício para torturar, persegui, e matar todo aquele que era considerado herético, contrário a aceitar o que a Igreja determinava.

Menocchio, ao entrar em contato com os livros percebeu as disparidades existentes com o mundo das tradições orais. Os menos aculturados enxergava somente os que os outros permitiam que enxergasse, e repetiam o que lhes era ensinado. Dois aspectos foram importantes para fortalecer o que defendia: a invenção da imprensa onde confrontava ideias orais com os livros e a Reforma Protestante, quando através da comunicação e do pensamento expunha suas opiniões de modo a alcançar a todos que estavam a sua volta, cujo principal objetivo era falar pessoalmente ao papa, aos cardeais e aos príncipes, o que infelizmente não foi possível.

Finalmente Menocchio foi denunciado e perseguido pela Inquisição e entregue ao Santo Ofício por proferir palavras heréticas e ímpias contra Cristo, contra a Igreja católica, seus dogmas, enfim, por não considerar a virgindade de Maria mãe de Jesus, por não honrar os sacramentos como a hóstia, o batismo, o casamento, as penitencia, adoração de imagens, e por contestar o enriquecimento da Igreja, pois dizia ser tudo invenção dos homens, e que tudo não passava de mercadorias e instrumentos de exploração e opressão.

Não é de ignorar que pensamentos, ideias e ações de menocchio fossem conhecidos por grande parte do vilarejo em que vivia, e por alguns, foi alertado para não pronunciar tais palavras, que era considerada uma afronta a Santa Igreja Católica Romana. E a crítica que menocchio fazia era justamente a santa Igreja. O problema é que menocchio falava demais, aos quatro ventos, e não se preocupava com as reais consequências que poderia sofrer. Ele defendia no que acreditava.

A cosmogonia que defendia era de que tudo não passava de um caos. A terra, o ar, água, o fogo. E como o queijo é feito do leite e do qual surgem os vermes “apodrecia” estes sim eram os anjos.  A Sagrada Escritura tida sido dada por Deus, mas, em seguida foi sendo adaptada pelo homem. pg (44). A Igreja não permitia a livre expressão, quando esta não estava de acordo aos seus conceitos.

Depois de condenado foi obrigado a negar publicamente suas heresias, cumpri penitencias, vestir um hábito marcado com uma cruz e as despesas seria custeado por seus familiares. Foi determinado que devesse permanecer na aldeia de Montereale, não devendo se afastar e proibido de mencionar suas ideias. Menocchio queria a despensa de suas obrigações determinadas pelo Santo Ofício, e isso lhe foi negado e por vezes atribuiu ao diabo suas dúvidas, seu tormento. “Deus pode ser uma pedra, uma serpente, o diabo ou coisa semelhante? Deus pode ser tudo o que é bom”. Pg 162.

Em 1598 foi considerado culpado, torturado e condenado a morte na fogueira. Em 2 de agosto A Congregação do santo Ofício decidiu por unanimidade que Menocchio era um “relapso”, deveria ser torturado e confessar os seus cumplices. Sua casa foi revirada e seus livros e escrito confiscados. Em 05 de junho de 1599, o cardeal de Santa Severina determinou a prisão daquele que negava a divindade de Cristo Senhor Nosso, considerava seu caso grave e este deveria ser condenado por heresia.

A obra de Ginzburg é brilhante, retrata detalhadamente toda a história do inicio ao fim. A leitura é prazerosa, instigante, um tema totalmente atual, contribuindo por excelência com a historiografia. Permite-nos reflexões sobre cultural, religião, valores de classes, direitos e deveres e principalmente nos manter firmes nas opiniões que acreditamos e defendemos. Vale a pena nos debruçarmos sobre este livro. As riquezas de informações são vastas.